segunda-feira, 26 de março de 2012

Eu


Eu,
Uma simples lembrança esquecida, uma estrela no céu perdida. Sinto-me um sonho inacabado, um sentimento destroçado. Que pode o homem dizer, sentir ou pensar, quando o seu coração está ferido e alma não sacia? Deixemos as mentiras de lado e assumamos aquilo que na verdade somos. Deixemo-nos de ilusões e enfrentemos o nosso eu!
As palavras não são suficientes para tudo aquilo que eu queria dizer. Os gestos, esses, incompreendidos e tomados como loucuras. Que pode o homem fazer neste turbilhão de ondas e correntes, de ventos e tempestades?
De que vale ao homem expressar os seus sentimentos, aquilo que o coração lhe diz, se somos tomados como crianças imaturas e adolescentes sem responsabilidades?
Mas eu sou louco! Não sou como os outros: tenho a minha maneira de ser, a minha forma de pensar, os meus olhos para ver o mundo! Não, obrigado, mas eu não preciso da tua personalidade, não preciso dos teus pensamentos ou dos teus olhos para ver o mundo. Cansei de tomar as personalidades dos outros, de assumir os pensamentos daqueles que são influentes ou de ver o mundo com os olhos dos outros. Eu já não sou assim, há muito tempo. Mas todo o tempo que eu assim fui marcou toda a minha vida. Mesmo aquela que eu ainda não vivi. Todos me tomam por ter uma personalidade que não a minha, incapaz de pensar pela minha própria cabeça, de andar a ver o mundo por olhos alheios e deixar tudo aquilo que sou de lado. Ah!, mas eu já não sou assim, mas parece que ninguém é capaz de ver isso.
Mas deixai-me ser tomado por louco. Deixai. A loucura dá-me a felicidade que todos aqueles que se dizem normais não a têm.
Sou louco, julgado e apontado, sem se saber ou se compreender a minha loucura.
Vivi, pouco, mas tenho vivido. Sofri, muito, mas tenho sofrido. Alegrei-me, demais, mas tenho-me alegrado. E em todo este mar de sentimentos, emoções ou palavras ocas, em todos estes sonhos ou loucuras, eu fui vivendo. Eu mesmo. Ninguém sabe o que o meu coração viveu, o que a minha alma sofreu, o que os meus lábios se riram. E tanta vez na penumbra da noite, onde ninguém conseguia ver, eu ri, eu sofri, eu vivi.
E com tudo isso eu cresci, fechando tudo no íntimo do meu coração, no fundo da minha alma, numa gaveta tão bem fechada que ninguém a descobria. Mas agora a gaveta abriu-se e eu perdi a chave para a fechar. Agora os meus olhos não demonstram mais a alegria ou a tristeza. São olhos frios, pequenos pedaços de vidro inanimados e por onde nada se vê. Já não são espelhos da minha alma, onde a alegria sempre está presente, mesmo quando todas as tristezas se abatem sobre mim.
Sim, eu fui. Eu fui um actor. Um actor que representou muitas vezes aquilo que eu não sentia, aquilo que tantas vezes queria sentir mas não conseguia. Para quem me compreende, eu fui forte. Para quem me odeia, um falso. Mas de que vale ao homem mostrar uma cara triste àqueles que esperam uma cara alegre? De que vale entristecer ainda mais aqueles que já andam tristes? Se isto é ser falso, então eu sou-o. Porque eu sempre pus a felicidade dos outros à minha frente. Sempre me alegrei, mesmo quando a minha alma sentia uma tristeza de morte, ao ver alguém sorrir… E isto é ser falso? Então eu sou-o.
Não sei o que sou, não sei o que penso, nem aquilo que escrevo. Sou um louco sonhador que sonha por um mundo melhor, por pessoas melhores e em quem sempre posso confiar. Sou um louco sonhador, porque deixo tudo para seguir a felicidade. Ah, basta, chega! Chega de fazerem de mim algo que eu não sou. Chega de me cravarem punhais nas costas, de me julgarem. Chega de fazerem suposições sobre mim!
Palavras, meras palavras, que o vento numa rajada mais forte leva consigo. Palavras, meras palavras, compostas por consoantes e vogais, ordenadas de uma forma invulgar e sem sentido nem nexo. São meros caracteres, símbolos, impressões e índoles que não dizem nada a ninguém. Somente a loucos e sonhadores. Somente a mim me dizem algo!
Mas eu, na minha loucura, continuo e continuarei a escrever aquilo que sinto e quero. Já não me importa se devo ou não escrever. Já não me importa aquilo que cada um poderá pensar. Podem vir mil à minha direita e mil à minha esquerda que eu não vacilarei. E eu não vacilarei porque confio. E eu confio no Senhor meu Deus, em Yahweh o Deus forte e poderoso. Em Yahweh, o meu e único Deus, porque ele aceita-me como sou…




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quarta-feira, 14 de março de 2012

Loucura


O dia ainda mal nascera quando saí pelo velho portão grande. De ferro, enferrujado pelo tempo, o portão sempre se mostrou imponente. Sempre fora um limite, na minha infância, que eu não podia transpor.
Quando os primeiros raios de sol começaram a surgir no céu limpo já eu me encontrava longe de qualquer sinal de civilização, longe das pessoas, longe de tudo aquilo que me perturbava. Dirigia-me para as serras, local que sempre roubou o meu coração e sempre esteve na minha memória. As serras que sempre me visitaram nos meus sonhos, as minhas serras. Tão grande é a minha paixão por estes montes.
Quando o sol chegou a zénite, já eu me encontrava no cimo dos meus montes, das minhas serras.
Debaixo de um velho pinheiro, entre a erva verde e a carqueja, deitei-me. Fechei os olhos e tentei dormir, mas a falta de algo incomodava-me, a ausência daquilo que tantas vezes me encheu o coração, os ouvidos e os sentimentos, não me deixava dormir.
Ah, sim, como sentia saudades da música, a minha companheira de horas infindas, de alegrias e tristezas. Como tanta vez me refugiei nestes montes à procura de inspiração, de ouvir os espectáculos que a natureza dava. Mas não mais era capaz de sentir isso. A música afastara-se da minha vida, ou eu repelira-a, como tão costume tenho. E, neste dia, partira para a serra para me encontrar de novo com ela. Procurava-a na erva fresca, nas ribeiras e cascatas, nos pássaros e nas árvores. Mas tudo me parecia calado, num silêncio profundo! E a minha busca continuava.
Sentei-me no cimo de um rochedo, contemplando as paisagens verdejantes, as pequenas casas das povoações mais próximas, o céu azul. Mas tudo me parecia triste e sem vida. Toda a minha solidão me fazia sentir estes sentimentos tão enganosos. Só o meu defeito me fazia ver estas coisas desta forma, corrompendo os meus olhos, para que toda a felicidade, alegria e cor, desaparecessem.
A eterna lágrima de um coração fraco caiu. Sempre a fraqueza de um coração que nada vale! Não foi o mundo que se afastou de mim, mas sim eu quem o afastou. Fechei-me no meu eterno casulo, entre as paredes da minha casa impedindo que entrassem aqueles que deviam entrar. Mas a vida tem duas vertentes: boa mãe ou uma madrasta horrível, e para mim ela foi madrasta. Podem dizer muitas coisas, mas só eu, eu que vivi a minha vida, posso dizer o que a vida foi para mim. E depois de tanto sofrer fechei-me num casulo impenetrável para não mais sofrer. Mas esse casulo começou a apertar e a dor foi ainda maior.
O sol punha-se no horizonte, pintando o céu de tons vermelhos, parecendo que todo ele ardia com o sol, sempre belo na despedida, sempre belo na chegada.
Rumei a casa. Quando transpus o velho portão não o fechei como sempre: esta noite ficará aberto.
Entrei em casa. A escuridão tem predominado nesta casa ao longo de muitos anos. Abri as janelas de par em par, afastei as cortinas, abri as portas das varandas. A luz da lua entraria esta noite nesta casa. A brisa da noite faria levantar o pó, as velhas folhas e levaria consigo a frieza e toda a tristeza desta casa!
Quando me sentei ao piano, para recordar todos os anos que ali me tinha sentado, a tocar e a inventar, a lua iluminava as teclas de marfim. Brancas e pretas, todas elas se ordenavam e brilhavam à luz da lua. Os dedos começaram a pressionar as teclas e a música voltou a mim! A lua, musa de tantas músicas, ajudara-me a compreender um mundo diferente, um mundo de onde eu tinha fugido.
Subi as escadas para o meu quarto. A velha cama de dorsel exibia-se com toda a sua magnificência. Sentei-me à secretária de pau-santo que trouxera de uma das minhas muitas viagens, abri o velho caderno preto e comecei a escrever.
Agora fecho-o e com ele um rol de palavras tristes e negras. A minha vida mudou juntamente com o fim e o selar deste livro!




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

sábado, 3 de março de 2012

II Domingo da Quaresma

Estamos cada vez mais próximos do grande cerne da nossa fé: a Páscoa!
Neste segundo Domingo Quaresmal somos convidados a subir ao monte. Primeiro é Abraão e depois Jesus com três dos Apóstolos. Mas são subidas diferentes: a primeira, uma prova de fidelidade, a segunda, um encontro com Deus!
Abraão, homem temente e fiel a Deus, é posto à prova: Deus pede-lhe que suba ao monte para sacrificar o seu filho muito amado! Abraão não exita. Mas é claro que Deus não quer que Abraão sacrifique o filho da Sara, Isaac! O propósito de Deus é saber se o amor dos homens por Ele é maior e mais importante que as coisas terrenas! Deus quer renovar os laços da Aliança com os homens! E, como Abraão, somos convidados a desligarmo-nos das coisas terrenas, a amar mais a Deus do que aos pequenos "deuses" que tanta vez surgem na nossa vida, a sabermos discernir entre o que realmente importa do que é acessório.
E, se Deus está connosco, quem estará contra nós? Sinceramente, nos dias que correm, esta afirmação de Paulo parece um pouco sem sentido, um pouco distante dos dias que correm, em que parece que a sociedade se vira contra aqueles que estão com Deus. E isto pode tudo ser verdade, mas  se Deus entregou o Seu próprio Filho por nós, não nos concederá também todas as graças? E Cristo não sofreu por nós? Então porque não sofrer por e com Cristo? Ninguém nos poderá separar do Amor de Deus, de Cristo.
E é neste amor que Deus, no Seu Filho, chama três dos seus Apóstolos para subir com Ele ao monte! Perante todo aquele bem estar, perante aquela paz que os Apóstolos sentem ao ver Cristo entre Elias e Moisés, pedem-Lhe para ficar alí, onde tudo é bom e o mal não entra! Mas a Voz de Deus fez-se ouvir, dizendo aos Apóstolos que escutassem a Jesus e que este era o Seu Filho muito amado!
Somos convidados a subir ao monte para estarmos com Deus, mas também somos convidados a descer do monte e a estarmos com os homens, anunciando-O com a vida, com as palavras, com os gestos!
Um bom Domingo para todos!




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

29 de Fevereiro


Esta é a primeira vez que vos escrevo neste dia e só vos volto a escrever neste dia daqui a quatro anos, se o mundo não acabar este ano, como se prevê (previu?). Bem, mas isso não interessa.
Não sei se todos sabem a razão pela qual há anos em que Fevereiro temos 29 dias, por isso deixo-vos a explicação de um amigo:
"Um pouco de história: hoje é dia 29 de Fevereiro. Este ano é bissexto, e com ele cada quatro anos e por questões de precisão, são também bissextos todos os anos múltiplos de 400 (1600, 2000, 2400)... Quem fez as contas deste "novo calendário" foram os astrónomos e alguns especialistas ligados ao papa Gregório XIII (donde o nome, calendário gregoriano). Este caledário veio substituir o calendário Juliano que andava "atrasado", por causa de um erro técnico. Assim, o novo calendário propunha-se corrigir o antigo erro, "saltou" 10 dias (que nunca existiram) e fez o equinócio "voltar" ao dia 21 de Março, corria o ano de 1582. O novo calendário foi promulgado com a bula Inter Gravissimas." 

Partilho convosco mais um sonho, delírio, aquilo que lhe queiram chamar, escrito numa destas tardes ou noites em terras ingleses:

Tenho vontade de rir e de chorar. Vontade de gritar ao mundo o que sinto, vontade de sentir o seu silêncio. Vontade de querer e de não querer, de correr pelos montes e de me sentar a contemplar o horizonte. Vontade de existir ou de deixar de existir.
O sol põe-se no horizonte e, eu, sentado numa pedra, no cimo de um monte, observo toda aquela beleza. Fecho os olhos para ouvir aquele belo concerto da natureza! O vento forte, o chilrear dos pássaros, o riacho que corre livremente fazem parte de um enorme coro. Toda a natureza se une neste despedir-se do sol e nas boas vindas à lua que começa a exibir-se cheia e brilhante.
As estrelas entram em cena, com a sua suavidade e beleza, com o seu alegre canto, com a sua descrição!
Tudo se compõe para um extraordinária ópera, para algo nunca visto.
Pego na mochila e caminho em direcção a casa.
Procuro as pautas em branco, um lápis e sento-me ao piano. Toda aquela beleza foi inspiração para mim. Os dedos deslizam pelas teclas do piano, as pautas em branco começam agora a ficar preenchidas, com notas, rabiscos, riscos. Quando dou por mim as folhas já se amontoaram umas em cima das outras, numa ligação que só eu consigo perceber.
Chega a hora de ver tudo aquilo que resultou da inspiração dada por aquele cenário. Os fortes e os suaves dão àquela minha inspiração uma expressão que somente eu consigo compreender.
Olho para a janela grande e recortada e vejo a beleza da natureza que me envolve. Saio para a varanda e ali contemplo essa mesma beleza... O vento suave sopra entre as árvores enquanto as ondas rebentam na praia contra as rochas. É a natureza na sua simplicidade e ao mesmo tempo na sua forma mais majestosa...


Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Enfim!

Corta-se-me o coração sempre que ouço ou leio comentários estúpidos à cerca da Igreja. Sinceramente eu não sou contra a liberdade de expressão, até muito a favor. Mas se querem tentar denegrir a Igreja façam-no, ao menos, com comentários decentes, com argumentos. Mas infelizmente isso parece não caber muito na cabeça dos Portugueses. Sou Português de gema e sinto muito orgulho em dizer que sou Português.
Sou patriota, sou, mas sei ver o estado em que Portugal se encontra, a imagem que ele transmite e o que se diz por aí deste país que eu tanto amo. Já não é a primeira vez que demonstro o meu amor pelo meu país, por aquilo que ele representa para mim e naquilo em que me orgulho fortemente de ser deste pequeno país no canto da Europa! Contudo, e peço desculpa àqueles a quem não cabe a carapuça, por vezes sinto vergonha de alguns portugueses. Comportam-se como pessoas sem cultura, sem estudos, num país onde a escolaridade é obrigatória, onde o acesso à informação não está assim tão longe. É vergonhoso e custa-me ver como é que algumas pessoas conseguem comentar certas coisas em locais tão públicos como o site de um jornal. Sim, alguns comentários são contra aquilo em que eu acredito, mas o que ainda mais me custa é ver como algumas pessoas dizem as maiores bacoradas num site e ainda se ficam a rir! Certamente que a mim só me transmite uma má imagem, e certamente também àqueles que as lêem. E se acham que ao escreverem comentários absurdos se realizam, então só demonstram uma verdadeira falta de valores. Cada vez mais se nota, e isto voltando ao início, uma guerra por parte dos homens contra a Igreja. Mas o mais interessante é ver que o que os homens dizem são coisas tão parvas que nem deviam ser levadas em consideração. Existem alguns que apresentam argumentos e louvado seja Deus. Mas o problema é quando se parte para o campo do insulto. E mesmo aí, os cristãos demonstram um anti-testemunho. É preciso entender que aceitamos as decisões de cada um, mesmo que essas decisões sejam tomadas pelas piores razões. E acredito que muitas existem, simplesmente porque a religião é coisa do passado, que já estamos no século XXI e coisas assim do género. Mas temos que aceitar e o que devemos fazer é, como verdadeiros cristãos, rezar por elas, tentar chamá-las à razão, compreende-las, e não forçar a nada. Não é com discuções que lá vamos. É amando-os mesmo na diferença. Não quero com isto dizer que devemos deixar que andem para aí a dizer tudo o que querem, a inventar mentiras e outras coisas parecidas. Não! O que eu quero dizer é que devemos fazer as coisas com a razão e a fé sempre lado a lado, sem nunca esquecer a caridade. Apresentar argumentos, a veracidade das coisas, pois muito bem. Agora entrar numa rede de insultos não me parece bem. Nós, cristãos, e quando digo nós refiro-me sempre aos cristãos, devemos aceitar a opinião dos outros e se eles partem para os insultos, mostrar que somos superiores a isso, dando a outra face, como Jesus nos ensinou. Sei bem que por estas palavras irei ser atacado, como já tem sido costume, mas não é isso que me vai levar para o outro campo. Eu acredito em Deus, em Jesus Cristo, Seu único Filho, no Espírito Santo e na Igreja Una Santa Católica Apostólica. Professo a minha fé todos os dias e não me envergonho de o dizer. Enervam-me os comentários absurdos e sem sentido, que as pessoas não vejam a verdade mesmo quando ela está à frente dos seus olhos. Mas lembro-me que todos somos humanos e que a verdade prevalecerá sempre. Rezo por eles e por todos nós, na esperança de sermos todos melhores. Mas se esta gente que quer andar na moda, e se a moda é dizer mal da Igreja, deixemos andar, pois um dia a verdade triunfará e cada um terá de responder pelos seus actos!



Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa