segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O fim!

É chegado um momento, na vida, em que as coisas têm o seu término. Começamos a ler um livro e chegamos ao seu fim. Iniciamos uma jornada e ela finda na meta. Uma flor nasce, floresce, morre. Nós, meros mortais e transeuntes deste mundo, nascemos, vivemos e acabamos por morrer.

Há quatro anos iniciei este blogue. Durante quatro anos fui alimentando-o, umas vezes mais assiduamente que outras, mas foi sobrevivendo. Ao fim de quatro anos é chegado o momento de morrer.

Para mim, as coisas têm o seu significado e o seu tempo. Iniciei este blogue numa fase da minha vida, partilhei alegrias, tristezas, loucuras, insanidades, reflexões.

Há seis meses iniciei um outro blogue, dirigido unicamente à fase que estou a atravessar. E as partituras foram ficando, as suas linhas foram desaparecendo, as suas notas desafinando. Os sonhos desapareceram.

Lia, estes dias, muitos dos textos e comentários que neste meu espaço fui escrevendo. Fui achincalhado, fui amado. Tudo fez parte deste projecto que eram as Partituras de um Sonho!

Infelizmente as Partituras deixaram de fazer sentido. Hoje é a última vez que escrevo neste blogue. Mas a necessidade que há em mim de escrever, reflectir e partilhar faz-me criar um outro blogue. Talvez as semelhanças sejam muitas, mas demarca um outro período da minha vida.

Deixo as Partituras de um Sonho bem guardadas nos Cadernosde Mim Mesmo!

Foi um gosto! Até Sempre! 

Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

terça-feira, 25 de março de 2014

Mistério da Anunciação

Muito mais que palavras, o mistério da Anúnciação faz-me reflectir profundamente.
Deus que é Deus, na imensidão do amor que é, desce à terra, assumindo a forma da Sua própria criatura, que houvera criado e que se perdera no pecado, que se desviara do caminho que Ele havia traçado para ela, a criatura.
Todos conhecemos a cena da anunciação. Através de um dos Seus Anjos, Deus envia a grande mensagem a uma simples e humilde jovem de Nazaré, de nome Maria. Gabriel anúncia e o Espírito Santo desce sobre a humilde mulher, gerando no seu seio Aquele que nos haveria de salvar. Como é grandiosa a bondade do Senhor, que preserva aquela jovem do pecado concebido por Eva, no início da criação. Preserva-a no seu estado puro, virginal, diferenciando-a das outras mulheres. Ela é agora a Mãe do Salvador, a Mãe daquele que a criara. É a porta entre Deus e os homens. É por ela que Deus desce até junto dos homens, para nos tornar família, filhos de Deus. É por ela que nos chega a Salvação e o pecado é derrotado.
"Salvé, ó cheia de graça, o Senhor está contigo"! Que bela saudação e tão cheia de tranquilidade. Não te inquietes, o Senhor está contigo e somente isso importa. O Senhor está contigo, nada deves temer. Tranquiliza-te, o Senhor está em ti, ouve o que te tenho a anunciar. Mas o humilde coração não conseguiu compreender, não conseguiu acolher a calma que Gabriel lhe anunciava. E Gabriel repete-lhe, com palavras diferentes, a calma que lhe quer transmitir: "não temas, pois diante do Senhor achaste graça. Ele te escolheu para por ti vir a salvação aos homens, criaturas de Deus"! Quão bela é esta missão. Quanto de júbilo e de alegria se pode ter... Quanto de importância se pode ter. Mas Maria, recusa a oportunidade de ser superior aos outros, e recollhe-se na sua humildade, misturada com perturbação: "como poderá isso ser, se não conheço homem?" É certamente por esta humildade, por este seu estado puro que Deus a escolhe entre tantas outras. É a eleição de Deus, tantas vezes questionada pelos homens, o tão grande "porquê a mim, Senhor?" Mas à explicação do Anjo, a simples rapariga de Nazaré, abre o seu coração à vontade de Deus. Não existem questões. Somente uma entrega total e um desprendimento contínuo: "eis a escrava do Senhor. Em mim se faça a Sua vontade"!
Maria é o exemplo da entrega, do aceitar sem receios. Toma em si a vontade de Deus, cumprindo-a até ao fim dos seus dias. E tantas foram as suas dores e lágrimas. Mas à sua maneira, tomou a cruz que o Filho haveria de tomar, e levou-a até ao fim. É o novo arco da aliança que surge entre Deus e os homens, trazendo ao mundo o próprio Deus.
Tão bem canta o Hino Akathistós este Mistério da Anunciação:
"Inefáveis desígnios Te foram revelados!
És guardiã dum secretíssimo Mistério!
Ó sagrado começo dos prodígios de Cristo!
Sumário de todas as Suas divinas verdades!"
Muito mais que a imagem da anunciação, é o devermos tomar o exemplo de Maria e aceitar a vontade de Deus com coração livre e disposto a acolher. É o "sim" pronto e sem medo! É tomar a cruz até ao fim dos dias!

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Parabéns, Mãe

O quatro de Fevereiro é sempre dia especial. Longe ou perto, é dia de festa e alegria, pois é o dia em que a minha mãe faz anos.
Sou uma pessoa que tem por defeito exteriorizar demais os seus sentimentos. E como assim sou, sinto-me na liberdade de escrever algumas palavras à minha mãe, neste dia tão especial.
Com menos de metro e meio, ou "roda baixa" como o meu pai tão carinhosamente lhe chama, esta mulher tem virado o mundo do avesso por aqueles que ama. Nasceu em terras de Castelo Branco, muito próxima de terras de São Nuno de Santa Maria. Recordando uma canção da sua zona, relembro que ela encaixa na perfeição: "Eu nasci na Beira, sou mulher pequena, sou como o granizo bem rija e morena..."
Esta pequena mulher, (e não te ofendas que sabes que é carinhoso), sempre fez de tudo para criar três autênticas pestes, ao longo de aproximadamente 25 anos. Ensinou-os a vestir, a atar os sapatos, deu-lhes educação, ajudou-os a formarem-se na família cristã, etc. Mais tarde deu-lhes pequenas responsabilidades, ensinou-os a cozinhar, a tornarem-se homens para o mundo.
Bem sei que sofreu um pouco e que ainda hoje continua sofrer. É uma autêntica mãe galinha e quer ter eternamente os filhos debaixo de suas asas. Quer protejê-los de todo o mal do mundo. Mas também sabe que não o pode fazer e deixa-os voar, sempre na esperança de os voltar a ter debaixo da asa.
Sempre me orgulhei muito da minha mãe e sempre a amei muito. Temos feitios muito iguais e por vezes lá chocamos um com o outro e voam tachos e panelas, jarras e flores. Mas no fim tudo volta ao normal.
Apesar de serem poucas as palavras, são cheias de sentimento. Por isso findo, dirigindo-me a ti, senhora minha mãe: amo-te do fundo do coração e por mais rabugenta que sejas e por mais casmurro que eu seja, sempre estarei para ti, por ti. Não deixes nunca de ser a grande mulher que és! Ergue-te sem medo das invejas dos outros. Sorri, porque o teu sorriso faz o meu dia melhor. Alegra-te, porque és a nossa alegria. Perdoa-nos porque nem sempre te compreendemos. Continua a viver com essa força e que nada nem ninguém te deite abaixo. Serás sempre a nossa mãe, longe ou perto. Serás sempre o refúgio e o abrigo que precisamos. Serás sempre o beijo, o abraço e a palavra amiga que necessitamos.
Agora, limpa essas lágrimas, sorriem aproveita o resto do dia ao máximo. Feliz Aniversário!


domingo, 3 de novembro de 2013

Domingo, dia do Senhor

Hoje evoquei uma memória que parecia ter desaparecido da minha memória.
Num pouco de conversa no trabalho, falava-se de eu respeitar tanto o Domingo. Apesar de entrar no trabalho por volta das oito e meia da manhã, de sair por volta das três (maioritariamente, depois) voltar a entrar pelas cinco e meia e sair bem depois das nove e meia, faço questão de em todos os Domingos vestir o fatinho, colocar ou não uma gravata... Em suma, "vestir-me bem"!
Certo é que me é impossível participar na Missa Dominical, mas continua a ser Domingo, dia do Senhor.
No meio da conversa questionavam qual a razão de me dar ao trabalho de me vestir "domingueiramente", se chego ao trabalho e mudo de roupa. Respondi que era um dia diferente, o dia em que celebramos mais festivamente a Ressurreição de Jesus e que assim estava habituado.
Sem que tivesse margem para jústificações perguntaram logo como cresceu esse hábito. Bem, foi altura de recuar alguns anos na minha vida, ao tempo de seminário em Fornos de Algodres.

Quando entrei para o Seminário Menor de São José em Fornos de Algodres, era costume que a Missa Dominical fosse aberta a toda a comunidade, a toda a vila de Fornos.
As memórias que vagueiam na minha mente dizem-me que o dia começava diferentemente dos outros. Cerca de meia-hora depois de nos acordarem era hora de nos reunirmos a capela para o Ofício de Laudes. Pequeno almoço e tempo de preparação para a missa. Banhinho quente (certas vezes frio se éramos dos últimos), vestir a melhor roupa do armário (propositadamente guardada para aquele dia) e ocupar o tempo que sobrava com televisão, estudo ou algo do género.
Se as minhas recordações não me falham, cerca de meia hora antes da missa, tocava a sineta. As pessoas começavam a chegar, iam-se juntando pelo cláustro ou junto da porta da capela. A nós, seminaristas, cabia-nos estar na capela, a dar um último retoque nos cânticos, limar algumas pontas, etc. Era fántástico de assistir à luminosidade daquela capela. O sol trespassava pelos vitrais, enchendo a capela de luz e cores. Para mim era um espetáculo digno de se ver. E somente ao fim de semana podíamos ver aquele espetáculo, já que durante a semana estávamos nas aulas.
Capela praticamente cheia e hora de começar. Se os Domingos exigiam mais solenidade, como por exemplo os Domingos dos Pais, a procissão de entrada era feita pelo fundo da capela. Castiçais, cruz, incenso e tudo o resto. Soavam as vozes na capela e aquela Eucaristia era um momento mágico, momento esperado toda a semana. No fim da Missa, reuníamos-nos junto à porta, cumprimentando as caras conhecidas que alí passavam. O resto do dia era passado com estudo, filmes ou brincadeiras.
Aquele dia era mágico e marcou a minha vida. Hoje, ao fim de dez, onze anos, a memória veio tão forte que tive de partilhar. Hoje falta-me a Missa ao Domingo, a festa que o Domingo é. Mas o hábito de me vestir "domingueiramente" permanece e o Domingo continua a ser o Dia do Senhor. E talvez esta minha memória seja a memória de mais alguns.



Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A serra!

A chuva chegou de mansinho pelo fim da tarde. Nicolas fazia a sua viagem em direcção a casa, pelas estradas cheias de curvas pela serra. O nevoeiro começou a serrar e pouco ou nada se via à sua frente.
Como ainda tinha tempo e nada o esperava, Nicolas decidiu parar o carro e aproveitar um pouco daquela primeira chuva outunal. Saiu do carro e caminhou um pouco pela estrada que se ia desvendando à sua frente. A chuva miudinha não chateava e sentia-se bem por poder aproveitar aquele momento com o ar puro da serra, o cheiro intenso a terra molhada.
Sem que esperasse, os pensamentos sobre dias anteriores invadiram a sua cabeça. Nada de muito importante, mas que davam alguma felicidade a Nicolas. Toda a felicidade se paga e Nicolas receava que algo mal pudesse acontecer nos dias seguintes. Tentava contrariar-se, dizendo que não, que pequenos momentos de alegria não eram pagos. Mas o que lhe ensinara a vida tinha sido absolutamente o contrário: todos os instantes de felicidade são pagos e por vezes caros de mais.
Nicolas queria deixar aqueles pensamentos de lado e recordar somente o que de bom havia acontecido: o voltar a fazer algo que tanto gostava mas que há muito deixara de fazer; o ter uma conversa interessante e com muita confiança; um café no fim de um dia numa esplanada... Pequenos prazeres, pequenos momentos de felicidade. E essas recordações faziam-no sorrir, ali, no meio do nevoeiro intenso, na chuva miudinha que não deixava de cair.
Nicolas olhou o relógio e apressou-se a voltar ao carro. Ainda havia trabalho a fazer e havia-se perdido em pensamentos tempo de mais.
Quando chegou a casa, jantou qualquer coisa rápida e afundou-se no trabalho. Aquele tempo "perdido" na serra, por entre nevoeiro e chuva, havia-lhe feito bem e não tencionava finalizar o seu dia com papelada e mais papelada.
No momento em que terminou o que havia ficado pendente, Nicolas olhou o relógio de solslaio e reparou que os ponteiros marcavam meia-noite. Dirigiu-se à cozinha, encheu a chávena de café, pegou no maço de cigarros e no seu isqueiro austro-húngaro e foi-se sentar na varanda de sua casa, virada para o cume da serra. Como ele se havia apaixonado pela serra, pelos seus bons ares, pelas suas pedras toscas, pelo prado rasteiro e as árvores verdes!
A sua cabeça enchia-se novamente de tantos pensamentos. De momentos bons, momentos maus, de pessoas de quem sentia saudades, de pessoas que lhe haviam virado as costas e de quem ele gostava. Pensava nos que já haviam partido, na saudade e no lugar vazio que haviam deixado. Sentia, em certas alturas, que o seu coração tinha-se quebrado em mil pedaços, num momento da sua vida e que agorateria de colar todos esses pedaços, deixando de lado o que de mal havia nele.
Sorria, simplesmente sorria. Nem tudo havia sido mau. E de que valia que permanecessem os maus momentos e os bons fossem esquecidos? Nada, simplesmente para aprender com eles, recordarmos bons momentos e deixar de lado essas mágoas e recordações que tanta vez o haviam feito chorar.
Nicolas puxou de um cigarro, acendeu-o e deu os primeiros bafos. A noite estava fresca. Nicolas contemplava a serra, senhora magestosa e modesta, tão conhecedora dos desabafos e bons momentos que Nicolas vivera, alí, na sua cabana ou noutro lugar qualquer. A melhor confidente, a melhor conselheira, a melhor amiga.
Nicolas apagou o seu cigarro, meio fumado, meio por fumar, despediu-se da serra e fechou a porta atrás de si, com um único pensamento na cabeça: afinal nem tudo é tão mau!

Ismael Sousa
Ad majorem Dei gloriam!