Estes tempos que temos vivído têm sido tempos de
memórias. Tempos em que recordamos o pontificado de Bento XVI, do testemunho que
deu, dos ensinamentos que transmitiu e na força com que carregou a sua cruz.
Muito se tem escrito nestes últimos tempos sobre o
exemplo deste homem, sobre a coragem de resignar. Este é mais um desses textos.
Não podemos deixar de esquecer o grandioso dia 19
de Abril do ano 2005, quando vímos o fumo branco sair da chaminé da Capela Sistina,
anunciando ao mundo a eleição do novo Papa. Não consigo esquecer as tão
célebres palavras, ainda estranhas para mim, pronunciadas na janela do
Vaticano: «Annuntio vobis gaudium magnum; habemus Papam». E após estas palavras,
um nova era começava na Igreja. Aquele que seria um Papa de transição,
tornou-se um Papa único, que começava a cativar o coração dos cristãos.
Olhado muitas vezes com desconfiança, o humilde
servo de Deus assumia a sua cruz e tornava concretas as palavras da sua
primeira mensagem: «Ao escolher-me para Bispo de Roma, o Senhor quis-me para
seu Vigário, quis-me “pedra” sobre a qual todos possam apoiar-se com segurança».
E nele todos nos apoiámos. Dele esperámos palavras certas quando a Igreja era
atacada. Dele esperámos o exemplo, esperámos o testemunho. E não nos
dececionou.
Ao fim de quase oito anos de pontificado, olhamos
para trás e vemos que a sua cruz não foi leve. Foram os ataques por causa das
suas palavras de verdade, os casos de pedófilia, entre tantos outros que nem
vale enumerar. E, humildemente, olhou os cristãos nos olhos, pediu-lhes deculpa
com lágrimas no olhos, sem ter culpa de nada, mas assumindo essa culpa para si.
Renuncias, Bento. Uma vez mais. E a tua vida foi
feita de tantas renuncias. Renuncias por amor, por saberes que não és capaz de
continuar a orientar a Igreja, porque as forças já não são de um jovem, porque
a idade é já avançada. Renuncias porque desejas um novo rosto, uma nova energia
para a Igreja.
Hoje faz-se história. Ao fim de seiscentos anos, um
Papa renuncia e deixa a cadeira de Pedro vazia. Até nisto o humilde servo de Deus
foi exemplo.
Vamos sentir saudades de tuas, Bento. Saudades de
te ver sorrir, de ouvir as tuas palavras, de acolher os teus ensinamentos.
Vamos ter saudades tuas, Bento.
E hoje abres os nossos corações para acolher aquele
que virá a ser o próximo Papa, para o amarmos como te amamos a ti.
Obrigado Bento! Obrigado por tudo!
Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa