Hoje é o Domingo
Laetare, ou seja, o Domingo da Alegria. É-o porque a antífona de entrada deste
Domingo inicia-se com «Laetare, Ierusalem et conventum facite omnes qui
diligites eam; gaudete cum laetitia, qui in tristitia fuistis; ut exsultetis,
et santiemini ab uberibus consolationis vestrae.» (“Alegra-te, Jerusalém,
reuní-vos vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria;
saciai-vos com a abundância de suas consolações.”) [Isaías 66, 10-11]
É-o porque se
aproxima a Páscoa do Senhor. Por estas razões, visivelmente, há também algumas
alterações como a cor do paramento do celebrante: o roxo é trocado pelo rosa.
Contudo esse costume tem-se vindo a perder, optando por continuar com o roxo.
Mas esta mudança
da cor do paramento deu origem a uma tradição: a benção de rosas. Era costume,
neste Domingo da Alegria, ou das Rosas, benzerem-se rosas. No século X o Papa
ia do Palácio de Latrão à Basílica de Santa cruz de Jerusalém, abençoando as
pessoas com uma mão e na outra uma rosa de ouro, oferecida no fim ao Presidente
de Roma como agradecimento pelas suas obras. Daquí advém, também, o significado
da oferta da Rosa de Ouro a diversas entidades e locais. As mesmas são benzidas
neste mesmo Domingo em Roma.
O Evangelho deste
Domingo fala-nos da parábola do Filho Pródigo (ou Pai Misericordioso). Quanto a
este tema, nada de novo vos irei dizer. Contudo gostaria de partilhar convosco
a minha reflexão.
Em primeiro lugar
convido a olhar o filho mais novo. Depois de ter crescido, certamente, na
abundância de riqueza e do amor de seu pai, este filho decide partir. Bem,
todos conhecemos a história. Este filho, convencido de que tinha tudo, pega na
riqueza e parte para longe de casa. Parte para longe da protecção do pai. E cai
em desgraça. Vendo-se nela, relembra o passado e reconhece que tudo tinha junto
do pai. Reconhece que pecou, pede perdão aos céus e a seu pai; assume o seu
erro, reconhece-o perante o mundo. Este filho somo-lo também nós, muitas vezes.
Somo-lo porque, pensando que tudo sabemos sobre Deus, que Ele sempre está a
nosso lado, desviamo-nos do Seu caminho para o caminho do pecado. E, muitas
vezes, reconhecêmo-lo. Reconhecêmo-lo e procuramos a reconciliação, aquilo que
nos “coloca” de novo no caminho de Deus.
A imagem do pai
não precisa de legenda. A imagem do pai é a de Deus, é a imagem do Amor. Imagem
do Amor que tudo perdoa, que a todos acolhe. É a imagem do Perdão que acolhe de
braços abertos todos aqueles que humildemente vão até Ele. É o Pai que se
alegra, que festeja pelo seu filho que reconhece o seu erro, que volta e pede perdão,
pois «há mais alegria no céu por um só pecador que se arrepende, do que por
noventa e nove justos que não necessitam de perdão» (Lc 15,7). Este é o Deus de
Abraão, Isaac e Jacob, bem como o Pai de Jesus que, pela sua morte e
ressurreição, nos tornou Seus irmãos. Deus é Amor, Deus é Perdão, Deus é
Misericordia, Deus é Pai que perdoa e se alegra.
A terceira
personagem é o filho mais velho. Este também se pode identificar com cada um de
nós. Nós, cristãos, muitas vezes não compreendemos este perdão de Deus,
achando-nos como rectos. E apontamos o dedo aos outros. E rejeitamo-los.
Entristecemo-nos com a alegria dos que “re-abriram” os olhos. E neste acesso de
inveja, ajoelhamo-nos, revoltamo-nos contra Deus. Tomamos o papel de Job. E
ceguinhos, não compreendemos a grandeza do amor de Deus, da infinitude do seu
perdão e misericordia.
Num plano geral,
sem aprofundarmos, esta parábola parece dizer-nos que é melhor ser transviado
do que justo. Mas nem tudo pode ficar pela superficialidade. É necessário aprofundar.
E Jesus ensina, uma vez mais, a amar o próximo, mesmo que seja um pecador. Jesus
aponta-nos o caminho da felicidade: alegrarmo-nos pelos pecadores que se
arrependem, por aqueles que (re)conhecem Deus e a Ele se entregam de corpo e
alma.
Este é o Domingo
da Alegria: a alegria pelo que se liberta do pecado, pelo que se entrega a
Deus, pelo justo, por aquele que mergulha no Amor de Deus.
Todo este texto
pode não ter valido nada, mas ao menos que percebam que nada é melhor que o
amor de Deus, nem que seja preciso dizer: «Pai, pequei contra Ti e contra os
céus. Não mais sou digno de ser chamado Teu filho». Então percebemos Suas
palavras: «Filho, estavas morto mas voltaste à Vida»!
Um Santo e Alegre
Domingo!
Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa
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