sábado, 9 de março de 2013

Domingo Laetare


Hoje é o Domingo Laetare, ou seja, o Domingo da Alegria. É-o porque a antífona de entrada deste Domingo inicia-se com «Laetare, Ierusalem et conventum facite omnes qui diligites eam; gaudete cum laetitia, qui in tristitia fuistis; ut exsultetis, et santiemini ab uberibus consolationis vestrae.» (“Alegra-te, Jerusalém, reuní-vos vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria; saciai-vos com a abundância de suas consolações.”) [Isaías 66, 10-11]
É-o porque se aproxima a Páscoa do Senhor. Por estas razões, visivelmente, há também algumas alterações como a cor do paramento do celebrante: o roxo é trocado pelo rosa. Contudo esse costume tem-se vindo a perder, optando por continuar com o roxo.
Mas esta mudança da cor do paramento deu origem a uma tradição: a benção de rosas. Era costume, neste Domingo da Alegria, ou das Rosas, benzerem-se rosas. No século X o Papa ia do Palácio de Latrão à Basílica de Santa cruz de Jerusalém, abençoando as pessoas com uma mão e na outra uma rosa de ouro, oferecida no fim ao Presidente de Roma como agradecimento pelas suas obras. Daquí advém, também, o significado da oferta da Rosa de Ouro a diversas entidades e locais. As mesmas são benzidas neste mesmo Domingo em Roma.
O Evangelho deste Domingo fala-nos da parábola do Filho Pródigo (ou Pai Misericordioso). Quanto a este tema, nada de novo vos irei dizer. Contudo gostaria de partilhar convosco a minha reflexão.
Em primeiro lugar convido a olhar o filho mais novo. Depois de ter crescido, certamente, na abundância de riqueza e do amor de seu pai, este filho decide partir. Bem, todos conhecemos a história. Este filho, convencido de que tinha tudo, pega na riqueza e parte para longe de casa. Parte para longe da protecção do pai. E cai em desgraça. Vendo-se nela, relembra o passado e reconhece que tudo tinha junto do pai. Reconhece que pecou, pede perdão aos céus e a seu pai; assume o seu erro, reconhece-o perante o mundo. Este filho somo-lo também nós, muitas vezes. Somo-lo porque, pensando que tudo sabemos sobre Deus, que Ele sempre está a nosso lado, desviamo-nos do Seu caminho para o caminho do pecado. E, muitas vezes, reconhecêmo-lo. Reconhecêmo-lo e procuramos a reconciliação, aquilo que nos “coloca” de novo no caminho de Deus.
A imagem do pai não precisa de legenda. A imagem do pai é a de Deus, é a imagem do Amor. Imagem do Amor que tudo perdoa, que a todos acolhe. É a imagem do Perdão que acolhe de braços abertos todos aqueles que humildemente vão até Ele. É o Pai que se alegra, que festeja pelo seu filho que reconhece o seu erro, que volta e pede perdão, pois «há mais alegria no céu por um só pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de perdão» (Lc 15,7). Este é o Deus de Abraão, Isaac e Jacob, bem como o Pai de Jesus que, pela sua morte e ressurreição, nos tornou Seus irmãos. Deus é Amor, Deus é Perdão, Deus é Misericordia, Deus é Pai que perdoa e se alegra.
A terceira personagem é o filho mais velho. Este também se pode identificar com cada um de nós. Nós, cristãos, muitas vezes não compreendemos este perdão de Deus, achando-nos como rectos. E apontamos o dedo aos outros. E rejeitamo-los. Entristecemo-nos com a alegria dos que “re-abriram” os olhos. E neste acesso de inveja, ajoelhamo-nos, revoltamo-nos contra Deus. Tomamos o papel de Job. E ceguinhos, não compreendemos a grandeza do amor de Deus, da infinitude do seu perdão e misericordia.
Num plano geral, sem aprofundarmos, esta parábola parece dizer-nos que é melhor ser transviado do que justo. Mas nem tudo pode ficar pela superficialidade. É necessário aprofundar. E Jesus ensina, uma vez mais, a amar o próximo, mesmo que seja um pecador. Jesus aponta-nos o caminho da felicidade: alegrarmo-nos pelos pecadores que se arrependem, por aqueles que (re)conhecem Deus e a Ele se entregam de corpo e alma.
Este é o Domingo da Alegria: a alegria pelo que se liberta do pecado, pelo que se entrega a Deus, pelo justo, por aquele que mergulha no Amor de Deus.
Todo este texto pode não ter valido nada, mas ao menos que percebam que nada é melhor que o amor de Deus, nem que seja preciso dizer: «Pai, pequei contra Ti e contra os céus. Não mais sou digno de ser chamado Teu filho». Então percebemos Suas palavras: «Filho, estavas morto mas voltaste à Vida»!
Um Santo e Alegre Domingo!




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

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