Primeiro a alegria, o júbilo, o êxtase. O coração a bater mais forte,
as pernas a tremer. O nervosismo. É o sorriso que rasga a cara, os olhos que
brilham.
É o absorver de cada minuto, de cada gesto e palavra. É desejar que o
tempo não termine. Sentir o carinho, a dedicação. Sentir a vontade, a energia
de ali estar. De partilhar aquele momento. São olhares, são sentimentos. É tudo
aquilo porque ansiamos naquele momento.
Depois vem o adeus. A distância. O brilho a desaparecer dos olhos, o
sorriso a esbater-se. O coração acalma-se, o nervosismo dissipa-se.
É uma forma de transe, onde não se sente, não se pensa, não se reage. Ou
talvez devesse ser assim: não reagir.
E, assim, se entra na tristeza. A mente remete-se para as memórias, o
coração para a saudade.
O mau humor aparece. A mania de embirrar com tudo e com todos. E,
tantas vezes, aqueles que estão ao nosso lado sofrem com a nossa mudança de
humor. Até o máximo da perfeição parece imperfeito. Tudo irrita, até a coisa
mais simples.
A vontade de ficar completamente só aparece de mansinho, tomando
forma, crescendo, até se apoderar. A luta enorme de evitar as lágrimas em
frente aos que nos rodeiam. Lutamos, lutamos, até que chega a oportunidade
perfeita para nos retirarmos de tudo, de fugir do mundo. A oportunidade de nos
sentarmos naquele cantinho, meter a cabeça entre as pernas e chorar… chorar!
Puxamos da estante o álbum, sopramos-lhe o pó e, por fim,
desfolhamo-lo. Os dedos percorrem os traços dos rostos, as bordas das fotos, os
momentos imortalizados.
Página e mais página; memória mais memória. E todos aqueles que já
partiram, e todos aqueles que estão longe, e todos aqueles que desapareceram da
nossa vida.
Todo um passado vivido. Coisas ficaram por fazer, palavras ficaram por
dizer. E tantas vezes tivemos oportunidade de o fazermos, tantas vezes tivemos
oportunidade de as dizer. E pensámos que aquele momento não era o último, que
muitos mais existiriam. E fomos adiando, fomos deixando de lado. Mas um dia
mais tarde arrependemo-nos. E aí é tarde…
E quando reclinamos a cabeça, esperamos voltar a sentir tudo o que é
bom, sem pensar no depois. Esperamos superar tudo o que é mau, prolongar o que
é bom.
Mas no fim, na raiz da nossa esperança a causa de existir, de ser-se
recordado, de ser amado...
São passos a dar...
Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa
Belíssimo e profundo texto, cheio de ternura, transparência e sentimentos que emanam dos homens com H grande, mesmo apesar da sua juventude. Esperança de se ser recordado e, diria eu amado sem reservas e eternamente recordado. Disso não tenha dúvidas. Parabéns e um abraço.
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