quinta-feira, 11 de abril de 2013

Felizmente há luar!


A noite vai adiantada. Lá fora não sei se chove, se sopra o vento ou se o céu estrelado se exibe na noite. Somente vejo as horas passarem. A noite vai longa, como têm sido as últimas noites. Clinicamente há quem lhe chame insónias, psicologicamente uma inquietação que não me deixa dormir, por esta ou por aquela razão. Na verdade é só a falta de algo que acorde este corpo, de forma a que ao reclinar a cabeça feche os olhos para mais umas horas de repouso. Na verdade somente um coração que procura encontrar-se.
As duras horas da noite são passadas às voltas numa cama que já se tornou insuportável. Os pensamentos bailam de recordação em recordação. O tempo de infância, a adolescência e a saída dela. Ou será a eterna saída de uma etapa que tanta coisa boa trouxe e da qual não me quero libertar?
Dói-me o corpo, dói-me o espírito. Em certas horas este vagueia num oceano escuro que tenta derramar-se pelos meus olhos, impedido de transbordar por uma razão tão desconhecida como a da origem do Universo. Mas as cancelas abrem-se tão facilmente ao assistir ao sofrimento dos outros: real ou fictício. Impressionante Tão fácil pelos outros, tão difícil por nós.
Do porto da solidão para o porto do abandono. Sentimentos, interpretados à nossa maneira. Um porto que somente existe na minha mente. Na mente ou na realidade? Não interessa.
Os minutos vão passando como eternas horas. As três, as quatro, as cinco e por aí fora. O sol nasce a Este. Este ou nascente? É igual. Os primeiros raios dão luz à noite que não mais quer passar. Primeiro muito suavemente, como se estivesse com medo de se erguer, para mais um dia de alegrias, tristezas, vida e morte. Mais um dia se ergue.
Suavemente vai subindo, em direcção a Oeste, o poente. Indiferente ao que se passa entre o comum dos mortais. Indiferente a uma raça que se prende tão facilmente, mas que tão dificilmente se liberta. Indiferente corre e com ele as horas do dia.
O frenesim diário começa. Levantar, preparar, trabalho\escola, almoço e tarde, lanche e jantar. A noite está de volta e com ela a falta de sono. Mais uma noite de horas infindáveis. Mais uma noite de voltas e mais voltas. Uma mais de sonhos e pesadelos.
Mas esta não. Esta pode ser diferente. Porquê pressupor aquilo que poderá não acontecer? Talvez esses pensamentos dirijam a nossa vida, tantas vezes a navegar ao largo, com um leme quebrado. Possivelmente seja isso que me impede de fechar os olhos.
Tantas e tantas horas. Talvez isto tudo seja somente parte de um sonho, de um pesadelo, de delírios. Talvez um desabafo ou somente algo inventado para preencher. Talvez não. Talvez seja assim as noites de tantos. E nós desconhecemos.
Que a noite seja reparadora, que a noite seja santa. Que na noite encontre o que tanto ambiciono. Ou talvez já tenha encontrado. É na noite que se cometem crimes, que verdadeiras trovas de amor são feitas. É a noite que consola os tristes e alegra os humildes. É a magia da noite, porque «felizmente… Felizmente há luar!»




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

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