terça-feira, 17 de abril de 2012

No words!


Farto de frases feitas. Farto de todas aquelas frases bonitas que dizem tanto ou tão pouco. Preciso de sentimentos, de coisas concretas e possíveis de se sentir.
Nada neste mundo é tão fácil quanto parece. Ao início até pode parecer fácil, mas, como vem sempre um mas, vem também sempre um depois. E depois?
Sinto tanta vontade de escrever, desabafar, mas não consigo. Chega a hora de pousar a caneta no papel, ou os dedos nas teclas, e tudo parece desaparecer.
Deparo-me, muitas vezes, comigo a desejar coisas tão contrárias àquilo que eu sou. Não sei.
A chuva começou a vir e eu ouvia-a a bater suavemente no vidro da clarabóia. Desejava ardentemente estar lá fora, debaixo daquela chuva, mas simplesmente não podia. Voltei a concentrar-me no que fazia, esperando que as horas passassem. Mas elas pareciam redobrar cada minuto. Caiu a noite e eu finalmente pude ver-me livre de tudo o que me rodeava.
O dia mudou e eu vagueava pelas ruas desertas. A chuva caía miudinha e calmamente. O nevoeiro cerrava-se a cada passo, retirando da minha visão aquilo que eu tantas vezes gosto de ver. E ali estava eu, no meio da rua, com a chuva a cair e rodeado de nevoeiro. Sentia-me no mundo mas ao mesmo tempo tão distante dele. Até que a lágrima caiu e me fez despertar.
De guarda-chuva a servir de bengala, caminhei até casa, onde me voltei a fechar. Não tenho vontade de sair, de ver as pessoas. Somente aquelas que estão longe é que eu quero ver.
Faltam-me as palavras, falta-me a inspiração. É assim quando não conseguimos nem compreender o nosso coração. Queremos tudo e ao mesmo tempo nada. Nada nos sacia. Tudo nos aborrece.
Fechamo-nos num mundo tão só nosso que é difícil de explicar, difícil de demonstrar, difícil de viver. E tudo aquilo que é tão só nosso, somente a nós pertence.
A porta do quarto fechada, proporcionando-nos a solidão, faz-nos sentir tudo aquilo que escondemos durante o dia. Não há fuga possível. Os sentimentos, pensamentos e emoções vêm ao de cima com o silêncio. E é neste silêncio que tantas vezes nos encontramos. É neste silêncio que encontramos aquilo que não pode ser encontrado no meio da multidão.
Mas este silêncio tão bom pode ser um punhal, cravado nas costas, sem que alguém saiba, pois a ferida sara antes de alguém conseguir ver.
Preciso de silêncio, mas longe destas paredes. Preciso do silêncio da liberdade, do vento dos tempos áureos, da alegria das estrelas e do sorriso da lua.
Mas eu fechei-me para o mundo. A vontade enorme de adormecer suavemente, de sonhar com os meus momentos de felicidade e no fim entrar no sono profundo atormenta-me durante a noite. Quero viver e livrar-me destes grilhões que me aprisionam. É a morte o meu destino, mas esse fado cumprir-se-á num tempo distante. Não, não é agora, ainda que essa fosse a vontade de muitos.
Abro o livro em cima da mesa, e saltam-me as palavras à vista. O infortúnio, o peso da tristeza, o sentimento de solidão e esquecimento preenchem as páginas deste livro. E como eu conheço cada palavra destas páginas, cada vírgula e cada interrogação. Eu conheço cada sílaba, cada acento. É a história da minha vida, são as palavras do meu passado, as interrogações de outrora. Sou eu, eu e mais ninguém.
Fecha a mala das recordações, a mala do tempo.





Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

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