segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A magia de ler!


Se na minha vida tenho paixões, uma delas é, certamente, a leitura. Não sei que feitiços lançaram nos livros ou que encantamento eles me fizeram, mas a verdade é que cada vez que abro um livro, aprisiono-me a ele, nasce em mim a vontade de mergulhar nele, de ser uma parte constituinte do livro, de viver nele.
Cada vez que abro um livro, saltam de lá as árvores, as estradas, a neve, a chuva ou o sol. Na minha frente surgem as casas, os mares, as pessoas. Ouço as vozes daqueles que caminham nas estradas, que estão sentados a uma mesa de café ou restaurante. Um cenário, descrito em palavras surge-me como uma realidade viva e palpável. Conheço aqueles espaços e personagens; pressinto-os; conheço-lhes as expressões no rosto, a forma como falam, como se movem. Ouço o canto do pintassilgo, o som das cascatas, os segredos do vento e as razões da chuva.
Tudo se forma na minha cabeça, sem que eu possa evitar. Choro por aqueles que choram, rio pelos que riem. Exalto-me com os que gritam e zango-me com os que se tornam inimigos. Uma segunda vida renasce para mim nas páginas de um livro. Posso ser um herói ou o simples mordomo; um rei ou um simples camponês. É-me fácil percorrer oceanos ou fazer longas caminhadas; cavalgar por montes desconhecidos, voar no infinito céu. Mas, na realidade, são somente palavras, esborratadas numa folha, e noutra e em mais outra.
E quando acabo mais um livro, a ausência de algo fica presente na minha vida. E, para além de toda a possibilidade de imaginação, também toda a imensidão de ensinamentos que podemos apreender. Toda uma cultura, um transmitir de conhecimentos e tradições, de verdades e desvendar de mistérios. Toda uma possibilidade de discussão, de argumentação. Toda uma possibilidade de podermos conhecer, de sermos melhores.
Pudera eu viver eternamente numa enorme biblioteca, poder conhecer todas as palavras, todas as frases de eternos clássicos, de obras que nunca saíram disso mesmo: de simples páginas pintadas com palavras, formando uma mancha bela.
E uma vez mais me sento na poltrona que está de frente para a lareira. A velha lareira de tijolo, repintado de preto por todo o uso, guarda em si as chamas vermelhas e laranjas que ardem e dançam numa liberdade invejosa. Olho pela vidraça e a neve cai la fora, suavemente, sobre o chão. Desce, dos altos céus, sem pressas. Dança entrelaçada com o vento; uma valsa, talvez, tocada suavemente por violinos. Uma valsa calma que, de súbito, se apressa com os violoncelos, os trompetes, as trompas, os oboés e os rufos. E o floco de neve cai no chão, juntando-se a todos os outros que não resistiram à valsa.
Mais um cavaco na lareira. Estico as pernas no pequeno banco de madeira, forrado num verde e negro que se entrelaçam sem se misturarem. Pego no livro que está em cima da camilha, coberta com uma toalha verde-escuro. As velas, no castiçal prateado, brilham. Fecho os olhos e preparo-me para entrar no misterioso. Abro o livro e lá vou eu, em mais um momento de fuga, em mais um momento de alegria ou tristeza. Em mais um momento só meu! 
 
 

Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

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