quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Pégasus e o Cavaleiro



A lua acabara de eclipsar-se há alguns minutos. A noite estava escura e fria. Suavemente um fiozinho de luz começara a surgir no céu. A lua voltara a brilhar e, quando terminou o eclipse, Pégasus surgiu no cimo de um monte. De longe, um homem via aquele cenário de quadro, admirando toda a beleza do momento.
Pégasus era um jovem cavalo. Não o mais belo da sua tropa, mas o que tinha causado mais admiração àquele homem que, sentado tantas noites na esplanada da sua cabana, o admirava e desejava conseguir montá-lo.
Contudo, Pégasus não era um cavalo fácil; era selvagem, corria os campos de uma forma diferente de todos os outros. Não era a primeira vez que aquele homem o tentara montar e, de diversas vezes, Pégasus tinha-lhe deixado marcas.
Mas naquela noite tudo seria diferente. O homem não o sabia; Pégasus não o sentia.
O homem entrou em casa. Depois de ter acendido a vela do seu quarto, abriu o armário. Lá dentro as botas de cano jaziam, juntamente com o chicote e a corda. Seria mais uma noite de tentativa, mas, agora, algo lhe dizia que seria única.
Saiu para os campos. Lá longe, Pégasus corria livremente. A sua crina de um castanho-escuro, esvoaçava ao vento. Uma vez mais relinchava com o prazer da sua liberdade. O homem, de longe, apreciava todo aquele cenário e foi impelido, não se sabe se pela magia da noite se pela sua loucura, a caminhar até Pégasus. Para trás ficaram a corda e o chicote, bem como as esporas das suas botas. O seu coração palpitava fortemente. Pégasus estava a menos de dois metros do homem quando se apercebeu da sua presença. Levantou-se e colocou-se frente a frente ao homem.
Taurusan não era um homem velho. Não. Era um jovem robusto, na flor da idade. Vivia na encosta de um monte, na sua cabana sem luz eléctrica e longe de todo o movimento frenético das cidades. Dizia várias vezes, quando era obrigado, pela força de algumas necessidades, a descer à aldeia mais próxima, que era no meio da natureza, no meio da obra belíssima de Deus que se sentia bem. E era ali que vivia há vários anos.
A sua vida cruzara-se com a de Pégasus de uma forma inesperada. Desde o primeiro momento que desejava subir para o seu dorso, cavalgar sobre os montes nas tardes quentes e nas noites de luar. Mas os sonhos eram maiores que a realidade. Pégasus ainda cavalgava sozinho e Taurusan observava-o sempre que podia.
Já várias vezes o tentara domar, mas Pégasus levava sempre a melhor.
Mas agora era diferente. Pégasus e Taurusan estavam ali, frente a frente.
Taurusan avançou, lentamente, mais um metro. Quando se aventurou a dar mais um passo, Pégasus recuou.
O medo podia ler-se nos olhos de ambos. Tão perto, mas tão longe.
Dez minutos se passaram e eles ali, frente a frente, sem um único movimento. Taurusan estendeu o braço e de mão aberta avançou uma passada. Podia sentir o bafo quente de Pégasus. Na sua mente passavam imagens da sua vida: um reviver de tudo o que tinha vivido com aquele cavalo. E agora tão perto. O seu coração disparava, a emoção apoderava-se do seu corpo. Não era capaz de avançar nem mais um passo. Receava, do fundo do seu coração, deitar tudo por terra.
O tempo passava sem que eles dessem por isso. Pégasus sentia o nervosismo de Taurusan; Taurusan ansiava por aquele momento.
De repente, Pégasus avançou. Não foi uma investida, mas uma passada suave. A mão de Taurusan assentou, suavemente, sobre os olhos de Pégasus. Os seus olhares cruzaram-se de uma tal forma que nada, naquele momento, os poderia distrair. Aquele era o momento, o momento mágico que Taurusan esperava e que Pégasus concretizara.
A mão de Taurusan passeou-se pela crina e, receando, avançou para o dorso. Pégasus estava calmo e exibia-se perante a figura de Taurusan.
Uma vez mais se encontraram frente a frente, olhos nos olhos. Os seus olhos brilhavam; Taurusan era o homem que brilhava aos olhos de Pégasus.
No brilho de seus olhos podia ver-se a enorme vontade de montar Pégasus; Pégasus ansiava correr pelos campos.
A confiança encheu Taurusan de energia e este, de um salto, subiu para o dorso de Pégasus. As suas patas dianteiras ergueram-se no ar e Taurusan só teve tempo de se agarrar à sua crina castanha.
Nos campos ouviu-se um novo galope e Pégasus e Taurusan corriam neles.
A lua quase tocava no cume do monte, um homem e um cavalo corriam livremente.
Um sonho se concretizara, uma vida nova surgia!


Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

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