domingo, 10 de julho de 2011

Beda, o Venerável - «Os Mestres»

Foi no nordeste da Inglaterra, em Northumbria, que Beda nasceu no ano de 672/673. Os seus parentes entregaram-no ao abade do mosteiro beneditino vizinho, quando este tinha sete anos. No mosteiro dedicou-se intensamente ao estudo da Sagrada Escritura, tornando-se uma das figuras mais insignes de erudito da Idade Média.
Os seus ensinamentos e a sua fama proporcionou-lhe muitas amizades com as principais personalidades do seu tempo, que o encorajavam a continuar o seu trabalho. Mesmo após de adoecer não parou de trabalhar, conservando sempre uma enorme alegria interior que se expressava na oração e no canto. Morreu a 26 de Maio de 735, dia da Ascensão.
                A fonte constante de reflexão de Beda são as Sagradas Escrituras. Ele lê a Bíblia, comenta-a, numa forma cristológica, reunindo duas coisas: ouve o que o texto diz exactamente e por outro lado está convencido de que a chave para ler toda a Sagrada Escritura, Antigo e Novo Testamento, é Cristo. As vicissitudes do Antigo e do Novo Testamento são um caminho em direcção a Cristo, apesar de se expressarem com diferentes sinais e instituições. Beda diz que a tenda da aliança que Moisés ergueu no deserto e o primeiro e segundo templo de Jerusalém são imagens da Igreja, edificada sobre Cristo e os Apóstolos, cimentada pela caridade do Espírito.
                Beda foi uma dos grandes unificadores da Igreja e vê crescer a universalidade da mesma. Para a edificação da Igreja contribuem os Apóstolos e mestres provenientes não unicamente das antigas linhagens judaicas, gregas e latinas, mas também dos novos povos, pois esta não é limitada uma determinada cultura, mas composta por todas as culturas do mundo que se abriram a Cristo.
                Na sua obra Chronica Maiora, Beda delineia uma cronologia que se tornará a base do calendário universal “ab incarnatione Domini”, calendário este que lê a história a partir da Encarnação do Senhor. Ele regista os primeiros seis concílios ecuménicos e os seus desenvolvimentos, apresentando, fielmente, a doutrina escatológica, mariológica e soteriológica.
                Autor da perícia literária História Eclesiástica dos Povos Anglos, é considerado “o pai da historiografia inglesa. Para Beda, a Igreja possui dois traços importantes: a catolicidade como fidelidade à tradição e a abertura aos desenvolvimentos históricos; a apostolicidade e a romanidade, pois era importante que toda a Igreja celebrasse unitariamente a Páscoa segundo o calendário romano (o que não acontecia com as Igrejas Iro-Celtas e dos Pitti). O Cálculo que ele elaborou cientificamente para estabelecer a data exacta da celebração pascal, sendo um texto de referência para toda a Igreja Católica.
                Nas homilias sobre os evangelhos, Beda educava os fiéis a celebrarem alegremente os mistérios da fé e para os reproduzirem de forma coerente na vida, até que sejamos admitidos em procissão ofertorial na liturgia eterna de Deus no Céu. Cada sacramento de iniciação cristã constitui cada fiel «não só cristão, mas Cristo», pois, por cada vez que um grupo de neófitos recebe os sacramentos pascais, a Igreja “gera-se a si mesma”, tornando-se, a Igreja, Mãe de Deus, que participa na geração dos seus filhos, por obra do Espírito Santo.
                 São Beda tem, na sua doutrina, uma mensagem tanto para estudiosos (doctores ac doctrices), como para pastores e pessoas consagradas. Aos doctores ac doctrices ele apresenta duas tarefas: perscrutar as maravilhas da Palavra de Deus e expor as verdades dogmáticas. Aos pastores recomenda que a grande prioridade deve ser a pregação e que se deve valorizar os ícones, procissões e peregrinações. Por fim, às pessoas consagradas ele aconselha que se cuide do apostolado e quer com os bispos, jovens ou como “peregrini pro amore Dei”.
                A sua fama levou-o a ganhar o título de “Venerável”, mesmo ainda em vida. O Papa Sérgio I, em 701, escreve-lhe, chamando-o de Venerável. Notkero Galbulo comparou-o como um novo sol que Deus tinha feito nascer, não do Oriente mas do Ocidente.
             Os seus escritos foram difundidos amplamente pela Pátria e pelo continente Europeu. Beda contribuiu para a construção de uma Europa cristã, em que as diferentes culturas e populações se amalgamaram entre si.



Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

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