sábado, 9 de julho de 2011

João Clímaco - «Os Mestres»

João, chamado Clímaco, nasceu por volta de 575, sendo a sua vida desenvolvida nos anos em que Bizâncio passou pela maior crise da sua história.
Foi entre as montanhas do Sinai que João viveu e narrou a sua grande vivência espiritual.
Aos dezasseis anos João tornou-se monge no monte Sinai, e aos vinte decide viver como eremita numa gruta do sopé do monte, em Tola.
Por volta dos seus sessenta anos, depois de quarenta anos a viver como eremita, é nomeado abade do grande mosteiro do monte Sinai, voltando, assim, à sua vida cenobita no mosteiro.
Morre por volta do ano de 650, com cerca de setenta e cinco anos.
A sua vida foi-se desenvolvendo entre os dois grandes montes: Sinai e Tabor.
A sua fama deve-se à sua obra Escada, caracterizada por ser um tratado completo de vida espiritual, onde João descreve o caminho de um monge, desde a renúncia ao mundo até à perfeição do amor. Este caminho desenvolve-se ao longo de trinta degraus, cada qual ligado ao seguinte.
Este percurso pode ser dividido em três fases sucessivas.
A primeira fase é expressada na ruptura com o mundo, com o objectivo de voltar ao estado da infância evangélica. Isto é, o essencial é a união ao que Jesus disse. Assim, o desapego voluntário das pessoas e dos lugares queridos, permitem à alma uma comunhão mais profunda com Deus. Renunciar a isto é caminho para a obediência, que por sua vez é caminho para a humildade diante das humilhações que nunca faltarão por parte dos irmãos.
A segunda fase deste percurso é constituída pelo combate espiritual contra as paixões. Cada degrau desta fase está ligado a uma paixão principal. E este conjunto de degraus constitui o mais importante tratado de estratégia espiritual. Contudo, a luta contra as paixões está revestida de positividade, graças à imagem do «fogo» do Espírito Santo. «Todos aqueles que empreendem este bom combate, duro e árduo […] saibam que vieram lançar-se num fogo, se verdadeiramente desejam que o fogo imaterial habite neles.»
Mas para João torna-se, assim, necessário tomar consciência de que as paixões, em si, não são más; estas tornam-se más por causa do mau uso que a liberdade do homem faz das mesmas.
Por último, a terceira fase, constitui a perfeição cristã, desenvolvida nos últimos sete degraus da Escada, sendo os mesmos os mais altos da vida espiritual. Clímaco considera que o degrau mais importante é o do discernimento, pois cada comportamento deve ser sujeito a um discernimento.
O estado de tranquilidade, de paz interior, prepara o hesicasta para a oração, pois, para João, esta é biforme: “oração corpórea” e “oração do coração”.
A “oração corpórea” é própria de quem se deve fazer ajudar por atitudes do corpo: estender as mãos, bater no peito, etc.
A “oração do coração” é algo espontâneo, pois é o resultado do despertar da sensibilidade espiritual, que é dom de Deus a quem se dedica à oração corpórea.
João diz-nos ainda que a memória de Jesus deve ser uma plena união com o respirar, reconhecendo a paz interior.
O último degrau da escada, o trigésimo degrau, embebido da “sóbria ebriedade do Espírito”, é dedicado à suprema “trindade das virtudes”, a saber: fé, esperança e, sobretudo, caridade.
João caracteriza esta última (a caridade), como éros, figura da união matrimonial da alma com Deus, caracterizando o ardor, a luz, a purificação do amor a Deus como fogo. Uma intensa experiência deste éros faz progredir a alma muito mais que a dura luta contra as paixões, pois o seu poder é grande.



Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

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