Eu,
Uma simples lembrança esquecida, uma estrela no céu perdida. Sinto-me
um sonho inacabado, um sentimento destroçado. Que pode o homem dizer, sentir ou
pensar, quando o seu coração está ferido e alma não sacia? Deixemos as mentiras
de lado e assumamos aquilo que na verdade somos. Deixemo-nos de ilusões e
enfrentemos o nosso eu!
As palavras não são suficientes para tudo aquilo que eu queria dizer.
Os gestos, esses, incompreendidos e tomados como loucuras. Que pode o homem
fazer neste turbilhão de ondas e correntes, de ventos e tempestades?
De que vale ao homem expressar os seus sentimentos, aquilo que o
coração lhe diz, se somos tomados como crianças imaturas e adolescentes sem
responsabilidades?
Mas eu sou louco! Não sou como os outros: tenho a minha maneira de
ser, a minha forma de pensar, os meus olhos para ver o mundo! Não, obrigado,
mas eu não preciso da tua personalidade, não preciso dos teus pensamentos ou
dos teus olhos para ver o mundo. Cansei de tomar as personalidades dos outros,
de assumir os pensamentos daqueles que são influentes ou de ver o mundo com os
olhos dos outros. Eu já não sou assim, há muito tempo. Mas todo o tempo que eu
assim fui marcou toda a minha vida. Mesmo aquela que eu ainda não vivi. Todos
me tomam por ter uma personalidade que não a minha, incapaz de pensar pela
minha própria cabeça, de andar a ver o mundo por olhos alheios e deixar tudo
aquilo que sou de lado. Ah!, mas eu já não sou assim, mas parece que ninguém é
capaz de ver isso.
Mas deixai-me ser tomado por louco. Deixai. A loucura dá-me a
felicidade que todos aqueles que se dizem normais não a têm.
Sou louco, julgado e apontado, sem se saber ou se compreender a minha
loucura.
Vivi, pouco, mas tenho vivido. Sofri, muito, mas tenho sofrido.
Alegrei-me, demais, mas tenho-me alegrado. E em todo este mar de sentimentos,
emoções ou palavras ocas, em todos estes sonhos ou loucuras, eu fui vivendo. Eu
mesmo. Ninguém sabe o que o meu coração viveu, o que a minha alma sofreu, o que
os meus lábios se riram. E tanta vez na penumbra da noite, onde ninguém
conseguia ver, eu ri, eu sofri, eu vivi.
E com tudo isso eu cresci, fechando tudo no íntimo do meu coração, no
fundo da minha alma, numa gaveta tão bem fechada que ninguém a descobria. Mas
agora a gaveta abriu-se e eu perdi a chave para a fechar. Agora os meus olhos
não demonstram mais a alegria ou a tristeza. São olhos frios, pequenos pedaços
de vidro inanimados e por onde nada se vê. Já não são espelhos da minha alma,
onde a alegria sempre está presente, mesmo quando todas as tristezas se abatem
sobre mim.
Sim, eu fui. Eu fui um actor. Um actor que representou muitas vezes
aquilo que eu não sentia, aquilo que tantas vezes queria sentir mas não
conseguia. Para quem me compreende, eu fui forte. Para quem me odeia, um falso.
Mas de que vale ao homem mostrar uma cara triste àqueles que esperam uma cara
alegre? De que vale entristecer ainda mais aqueles que já andam tristes? Se
isto é ser falso, então eu sou-o. Porque eu sempre pus a felicidade dos outros
à minha frente. Sempre me alegrei, mesmo quando a minha alma sentia uma
tristeza de morte, ao ver alguém sorrir… E isto é ser falso? Então eu sou-o.
Não sei o que sou, não sei o que penso, nem aquilo que escrevo. Sou um
louco sonhador que sonha por um mundo melhor, por pessoas melhores e em quem
sempre posso confiar. Sou um louco sonhador, porque deixo tudo para seguir a
felicidade. Ah, basta, chega! Chega de fazerem de mim algo que eu não sou. Chega
de me cravarem punhais nas costas, de me julgarem. Chega de fazerem suposições
sobre mim!
Palavras, meras palavras, que o vento numa rajada mais forte leva
consigo. Palavras, meras palavras, compostas por consoantes e vogais, ordenadas
de uma forma invulgar e sem sentido nem nexo. São meros caracteres, símbolos,
impressões e índoles que não dizem nada a ninguém. Somente a loucos e
sonhadores. Somente a mim me dizem algo!
Mas eu, na minha loucura, continuo e continuarei a escrever aquilo que
sinto e quero. Já não me importa se devo ou não escrever. Já não me importa
aquilo que cada um poderá pensar. Podem vir mil à minha direita e mil à minha
esquerda que eu não vacilarei. E eu não vacilarei porque confio. E eu confio no
Senhor meu Deus, em Yahweh o Deus forte e poderoso. Em Yahweh, o meu e único
Deus, porque ele aceita-me como sou…
Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa
"Sem loucura que é o homem, mais que besta sadia, cadáver adiado que procria?"... O homem para não ser apenas a besta sadia ou o cadáver adiado que procria tem de ser também louco... Mas um homem não pode ser só louco... Tem de ser homem também... E ser homem é ser-se muita coisa, inclusive tolerante, respeitador e equilibrado no eixo egoísmo/altruísmo... xD ;)
ResponderEliminarLouco? Não direi tanto. Mas, se assim o admites, eu diria apenas: de uma loucura saudável. Mas és também um excelente ser humano, preocupado sempre com o seu semelhante, o seu próximo mais próximo. E eu sei bem do que falo. Não só por ser amigo, mas por ser louco também, tenho que comungar dos mesmos sentimentos. Um texto muito bem escrito e de uma sensibilidade a que já nos habituaste e que é característica da tua personalidade e caráter. Só que te conhece, o pode afirmar. Parabéns.
ResponderEliminar