segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Discurso penoso!

Raramente vos falo de política neste blogue. E sabem porquê? Porque os meus conhecimentos sobre esse mesmo assunto são escaços. Contudo vejo-me forçado a falar-vos um pouco sobre os acontecimentos dos últimos dias, que tanto têm dado que pensar a alguns portugueses.
Esta semana, antes do jogo Luxemburgo - Portugal, o Senhor Primeiro Ministro deste país anunciou aos Portugueses mais medidas de austeridade, entre as quais o corte de um dos subsídios e o aumento da contribuição para a Segurança Social de 11% para 18%. Ora, é absolutamente natural que os Portugueses estejam descontentes com esta medida. Façamos contas: um cidadão deste país que ganhe 500 €, descontava para a segurança social cerca de 50€. Agora, com este novo desconto passa a descontar cerca de 90€. Sobram-lhe cerca de 410€. Pagando àgua, luz, gás e renda de casa, quanto lhe sobrará? 100? 150? E se tiver filhos?
Bem, na verdade este aumento veio tirar algum dinheiro do bolso dos portugueses.
Agora, no Facebook, o Senhor Primeiro Ministro veio dizer que foi um dos discursos mais penosos que teve de fazer. Se ainda não leram, deixo-vos as suas palavras:
"Amigos,

Fiz um dos discursos mais ingratos que um Primeiro-Ministro pode fazer - informar os Portugueses, que têm enfrentado com tanta coragem e responsabilidade este período tão dificil da nossa história, que os sacrificios ainda não terminaram.

Não era o que gostaria de poder vos dizer, e sei que não era o que gostariam de ouvir.

O nosso país é hoje um exemplo de determinação e força, e esse 

é o resultado directo dos sacrifícios que todos temos feito. Porém, para muitos Portugueses, em particular os mais jovens, essa recuperação não tem gerado aquilo que mais precisam neste momento: um emprego. Quem está nessa situação sabe bem que este é mais do que um problema financeiro - é um drama pessoal e familiar, e as medidas que anunciei ontem representam um passo necessário e incontornável no caminho de uma solução real e duradoura.

Vejo todos os dias o quanto já estamos a trabalhar para corrigir os erros do passado, e a frustração de não poder poupar-nos a estes sacrifícios é apenas suplantada pelo orgulho que sinto em ver, uma vez mais, do que são feitos os Portugueses.

Queria escrever-vos hoje, nesta página pessoal, não como Primeiro-Ministro mas como cidadão e como pai, para vos dizer apenas isto: esta história não acaba assim. Não baixaremos os braços até o trabalho estar feito, e nunca esqueceremos que os nossos filhos nos estão a ver, e que é por eles e para eles que continuaremos, hoje, amanhã e enquanto for necessário, a sacrificar tanto para recuperar um Portugal onde eles não precisarão de o fazer.

Obrigado a todos.
Pedro"


Bem, estas palavras não vieram consolar nenhum cidadão, apenas revoltá-los ainda mais. E disso é prova os cerca de 37000 comentários feitos a esta mensagem facebookiana. Eu, como cidadãos contribuinte, não pude deixar de manifestar a minha revolta e escrevi na publicação. Gostaria de partilhar convosco o que escrevi, mas os 37000 comentários já não me deixam encontrar. Contudo o país escreve, revolta-se, mas não sai para as ruas.
Precisamos de nos manifestar publicamente, de dar a cara. Estamos em crise, é certo, mas pouco vejo para que isso mude. O que vejo são cortes, tirar dinheiro do bolso dos portugueses e escrever mensagens bonitas no facebook. Os outros políticos, são como este. Apontam o dedo, mas não os vejo a apontar soluções. E o país avança e morre. E o país avança sobre os cadáveres daqueles que pouco têm para comer. E o país avança e os ladrões são sempre os mesmos. Bem dizia o Variações que "o povo é que paga". E há quantos anos? Tudo continua nos mesmos moldes. O povinho a pagar, o estado a gozar.
Há uns tempinhos, o Senhor Primeiro Ministro aconselhou os jovens a emigrarem, a deixarem o seu país, para irem para um país estranho. Pois bem, Senhor Primeiro, o meu irmão estudou em Portugal, formou-se neste país, pagou propinas neste país. E quando acabou o curso, que garantias teve de que este mesmo país lhe daria um emprego, por mais reles que ele fosse? Nenhumas. E ao fim de seis meses à procura de um emprego, partiu parao estrangeiro, ele e muitos como ele, onde agora se encontra bem, com um emprego seguro e projectospara um futuro longe de Portugal. E é assim, que vossa senhoria, quer que o país ande para a frente, levando para o estrangeiro, o futuro deste país. E agora pergunto: que garantias tem este país para o futuro? Nenhumas. Somos uma população envelhecida e todos nos queixamos de que os casais dos dias de hoje só têm um ou dois filhos. Pois, compreendo os jovens pais deste país. Ter um filho, nos dias que correm, acarreta vários custos e com o aumento de impostos, contribuíções e outras coisas mais, mal resta para educar um filho com garantias para o futuro.
Pois bem, Senhor Primeiro Ministro, o país está num caos. Bem sei que não é fácil dirigir um barco que está a afundar-se e que somos culpados de tudo. Mas no seu caso é diferente. O senhor não tenciona salvar o barco, mas sim afundá-lo, tentando salvar todo o ouro que os outros piratearam durante tanto tempo. O que o senor deseja é que não lhe metam a mão no bolso, mas mais preocupado em meter a mão no bolso dos outros. Escrevo-lhe com um sentimento de pouca caridade.
Exagéro? Talvez. Mas lembra-se como era difícil entrar na universidade aqui hà uns anos atrás? E este ano as vagas da primeira fase nao ficaram todas completas e, em alguns cursos, o último candidato a entrar tem uma média de 9,6. Vergonhoso, não?
Sempre achei fundamental que não se cortasse na educação e na saúde, bases fundamentais para uma vida com alguma qualidade. E que faz vossa senhoria e o seu governo? Cortam na educação e na saúde. Subsídios para jovens com poucas possibilidades poderem estudar, são cada vez menos. Os manuais cada vez mais caros, sem falar noutras variantes. Na saúde já nem se pode ir às urgências por causa do que se paga. Parece que a saúde é só para os ricos, e não para todo o povo.
Não me alongo mais, porque muitas podiam ser as queixas que aqui se poderiam apresentar contra vossa senhoria e os seus ministros. Não votei em si, e ainda bem. Pessoas como o senhor corromperam o sentido da verdadeira política, e isso envergonha-me. Dirijo-me às urnas, sempre que solícitado, por ser um dever meu como cidadão empara aqui poder escrever estas palavras de revolta. Peço a vossa senhoria que utilize um pouco do seu tempo de ócio para ler os comentários que lhe deixaram na sua querida mensagem que bem daria uma peça de teatro, fingindo uma tristeza que não sente.
Atenciosamente, deste seu amigo, e repare que ironizo, 
Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

1 comentário:

  1. Primeiro ponto: não me lembro de o Variações alguma vez ter dito que o "povo é que paga"... talvez isso seja um parafraseamento.
    Segundo ponto: ainda tentei encontrar o comentário que também fiz a esse mesmo post do primeiro ministro, que seria ideal para usar aqui como comentário, mas desisti quando vi que o número de comentários ia já nos 65000 e tal.
    Eu poderia escrever linhas e mais linhas, mesmo páginas e páginas sobre a situação do país, mas já é tarde para conseguir manter um raciocínio coerente durante muito tempo. Basicamente existem 3 problemas neste momento: falta de um plano concreto, pois parece que todos os meses são anunciadas novas medidas, tipo remendos...; falta de visão de investimento, pois o governo ainda não percebeu as áreas onde deve investir e fomentar o crescimento económico; e por ultimo, nenhum governo teve ainda sentido de estado para perceber que não é só ao povo que se pedem sacrificios... é também aos orgãos governativos, que ainda não se viram afectados pela crise.
    Enquanto este, ou outro governo, não perceberem que a crise só é ultrapassada com o aumento do emprego e da produtividade nacional, através do apoio e fomento de áreas cruciais como a agricultura, criação de animais / gado, pesca e turismo, não vamos conseguir ultrapassar a crise. Claro que até certo grau, a austeridade é importante, e eu até concordo com aumento de impostos porque os portugueses têm de perceber que o dinheiro do estado vem dos impostos e só com o dinheiro dos impostos o estado pode providenciar ensino e saúde tendencialmente gratuitos. Claro que todos estes impostos têm de ser calculados de forma equitativa e não igualitária. Em Inglaterra eu pago todos os meses 35% do meu ordenado em impostos, mas em contra partida o governo garante o acesso à saude de forma gratuita. Pagar muitos impostos é bom desde que os contribuintes vejam que os seus investimentos são devolvidos em melhores condições de vida e não em estádios de futebol pa coisa nenhuma. Nelson Sousa

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