quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Eu ainda sou do tempo...






Hoje sentei-me e recordei.


Há dias que não são dias. E hoje é um desses dias... 

Estava eu sentado a olhar para a floresta que se encontra atrás de minha casa, quando de um momento para o outro vejo um grupo de crianças, eram umas 3 ou 4, a saírem do meio do mato.
Vinham apetrechadas com paus e muita imaginação, muita energia. 
Um desses jovens era eu...
Lembro-me perfeitamente daquela altura em que navegávamos no mar da imaginação, lutávamos contra feiticeiros do mal, apenas com paus a servirem de bastões mágicos, ou até entravamos numa "Grande Guerra" contra as árvores... Éramos livres de brincar, de sonhar, de escalar uma árvore só para vermos o infinito...
A nossa casa era feita por nós...
Acordávamos de manhã a pensar em como seria o dia. Vestíamos umas calças, uma camisola qualquer, e íamos descobrir o mundo da imaginação...
Não havia impossíveis...
De meia dúzia de Mimosas fazíamos o nosso castelo. De troncos de velhas árvores fazíamos os nossos tronos. O nosso reino era tudo quanto pudéssemos ver diante dos nossos olhos. Não nos preocupávamos se nos aleijávamos. O mundo era nosso, e nós tínhamos um montão de aventuras por fazer.
Do nascer ao por do sol, nós éramos felizes. Queríamos respirar o ar puro, sair de dentro das quatro paredes das nossas casas: queríamos liberdade.
Os nossos pais, sempre muito cuidadosos, deixavam-nos ir. Sabiam que aquilo era necessário para o nosso crescimento. Aquilo era importante para podermos admirar as coisas belas que a vida tem.
Lembro-me das horas que passávamos a  olhar ninhos, a procurar aventuras, e, até, da nossa curiosidade sobre uma mina de água.
Eram tempos em que saíamos de casa e deixávamos a porta aberta, ou a chave debaixo da porta. Em que passávamos os dias em casa, nas nossas aventuras sem estarmos debaixo dos olhares dos nossos pais.
Consigo, agora ver, que aqueles tempos me ajudaram em muita coisa.
Foram aqueles tempos que me levaram a apreciar uma obra de arte, uma paisagem magnifica, uma boa peça de musica.
Podes perguntar como é que isso influenciou, como é que por ter vivido desta forma consegui apreciar as coisas belas da vida.Bem, é simples: nós preservávamos a natureza, víamos a natureza nascer, víamos como ela se tornava bela quando o sol a iluminava, como uma flor desabrochava durante o dia para acolher o irmão sol, e, durante a noite, se fechava para poder proteger a sua beleza.

Pois é. Para mim esses tempos foram óptimos. Eu era feliz.
Agora, tudo mudou.
As crianças já não saem de casa. Os jogos de video, a Internet, a televisão, entre outras tantas coisas já não permitem a construção de cabanas , nem a sua imaginação. Os pais tornaram-se super protectores, impedindo que as crianças corram e se aleijem, que fiquem com um arranhão. entopem-os com inúmeras actividades, sem os deixarem viver à sua maneira, sem os deixarem respirar.

Isto entristece-me profundamente.

Fico a pensar em que sociedade viveremos quando a geração das casas das árvores acabarem, quando os guardadores de lendas, contos e cantigas antigas morrerem...
E quando mais ninguém quiser preservar este património que é nosso e formalizar todo o mundo?
Onde estarão os ranchos e os jogos de antigamente?
Não será importante pensarmos em mudar isto?
A minha esperança residirá na esperança de que os pais de amanha, serão os pais de ontem, que deixam os seus filhos viver livremente sem andarem sempre debaixo do seu olhar atento.

Vivam as cabanas de árvores, vivam os arranhões no corpo! Viva a liberdade das crianças.



Ismael Sousa

3 comentários:

  1. Também eu sou desse tempo!!! Oh tempo, volta para trás! E o que havia de melhor do que chegar a casa a cheirar a erva, cheios de terra e arranhões.... Na minha meninice, o meu castelo era um arbusto... O meu castro, o meu baluarte... Ninguém me chegava...
    Falta educar os pais, mais do que os filhos! Tanto se preocupam em deixar uns filhos melhores para o mundo, que se esquecem de deixar um mundo melhor para os filhos!!!
    Tenho dito.
    Abraço

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  2. "Provas de uma amizade"8 de setembro de 2010 às 22:06

    gostei muito do k li
    eu passei uma infância não muito boa e como costumam dizer sou menina da cidade....por isso dexas experiencias só as passei nos excuteiros. Bons tempos
    saudds .....
    beijo
    gmdt

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  3. Gostei, identifico-me plenamente...

    Uma coisa triste, que anexo ao teu post, é que os pais deixam os filhos ir a mil e uma coisas (futebol; grupo de dança; ginásio; etc), mas à catequese...
    - NÃO, o meu filho não é pra isso - dizem.

    Eduquem as crianças em tudo, a seu tempo elas tomarão as suas decisões pessoais.

    Demos Graças a Deus pelas nossas famílias e pelo que vivemos, pois foram o alicerce que nos tornou hoje o que somos.

    Um Abraço, meu irmão.

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