Porque nem só
de sonhos e de velhas lembranças vos falo; porque nem só de novos livros ou de
acontecimentos vos escrevo. Hoje decidi escrever um pouco sobre um assunto que
não parece muito claro para todos nós.
Tudo surgiu da
Lectio Divina do Evangelho do Domingo de Cristo Rei do ano A. O tema é a Vida
Eterna, e o que nos diz a Igreja sobre o Juízo particular, o Céu, a Purificação
final ou Purgatório e o Inferno.
Para nós,
cristãos, que unimos a nossa própria morte à de Jesus, encaramos a morte como
uma forma de chegarmos a Ele.
É no Novo Testamento
que encontramos o anúncio do juízo, como perspectiva de encontro final com
Jesus. Mas é também, no Novo Testamento, que encontramos a retribuição imediata
de cada um depois da morte, em função das suas obras e da sua fé. Fala-se então
de um destino final da alma, que diferencia de umas para as outras.
Com a morte, a
alma imortal de cada homem recebe a retribuição eterna, «num juízo particular que
põe a sua vida em referência a Cristo, quer através duma purificação, quer para
entrar imediatamente na felicidade do céu, quer para se condenar imediatamente
para sempre».
O Céu
Aqueles
que na morte participam da graça e da amizade de Deus e estejam devidamente
purificados, viverão, eternamente, com Cristo. Diz-nos Bento XII, na
Constituição Benedictus Deus:
«Com nossa autoridade apostólica definimos que,
segundo a disposição geral de Deus, as almas de todos os santos mortos antes da
Paixão de Cristo (...) e de todos os outros fieis mortos depois de receberem o
santo Baptismo de Cristo, nos quais não houve nada a purificar quando morreram,
(...) ou ainda, se houve ou há algo a purificar, quando, depois de sua morte,
tiverem acabado de faze-lo, (...) antes mesmo da ressurreição em seus corpos e
do juízo geral, e isto desde a ascensão do Senhor e Salvador Jesus Cristo ao céu,
estiveram, estão e estarão no Ceu, no Reino dos Ceus e no paraíso celeste com
Cristo, admitidos na sociedade dos santos anjos. Desde a paixão e a morte de
Nosso Senhor Jesus Cristo, viram e vêem a essência divina com uma visão
intuitiva e ate face a face, sem a mediação de nenhuma criatura.»
Chama-se, então, céu, a esta vida perfeita com
a Santíssima Trindade, com a Santa Mãe de Deus, com os Santos e anjos. Assim,
viver no céu é «estar com Cristo». E este céu foi-nos dado por Jesus, através
da Sua morte e ressurreição. Possuindo em plenitude os frutos da redenção
operadora de Cristo, que a associa à sua glorificação celeste aqueles que n’Ele
acreditam e permanecem fieis à sua vontade, é ser bem-aventurado. Para melhor
nos ajudar, a Sagrada Escritura dá-nos uma visão terrena do céu: «vida, luz,
paz, banquete de núpcias, vinho do Reino, casa do Pai, Jerusalém celeste,
paraíso; aquilo que "nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem jamais
passou pelo pensamento do homem, Deus o preparou para aqueles que O amam" (1 Cor
2, 9)».
A purificação final ou Purgatório
Os que morrem na graça e na amizade de Deus,
mas a sua alma não está inteiramente purificada, sofrem, após a morte, uma
purificação, para assim obterem a santidade de que necessitam para entrarem na Jerusalém
celeste.
A esta purificação, chama a Santa Madre Igreja
de Purgatório. Este nome foi formulado nos Concílios de Florença e Trento. É
também caracterizado como um fogo purificador.
São Gregório Magno diz: «No que concerne a
certas faltas leves, deve-se crer que existe antes do juízo um fogo
purificador, segundo o que afirma aquele que e a Verdade, dizendo, que, se alguém
tiver pronunciado uma blasfémia contra o Espirito Santo, não lhe será perdoada
nem presente seculo nem no seculo futuro (Mt 12,32). Desta afirmação podemos
deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no seculo presente, ao passo que
outras no século futuro.»
É remota a tradição de honrar a memória dos
defuntos, através de sufrágios em seu favor, principalmente o Sacrifício
Eucarístico, para que assim atinjam a purificação.
Inferno
Só ao escolher amá-Lo livremente é que podemos
estar em união com Ele.
Se não seguirmos os Seus preceitos e pedidos,
seremos separados d’Ele. Morrendo em pecado mortal sem arrependimento, é forma
de viver separado d’Ele. E a esta separação do homem de Deus, chama-se inferno.
Jesus falou várias vezes da “gehena”, reservada
aos que recusam acreditar e converter-se, perdendo-se, assim, a alma e o corpo.
«A doutrina da Igreja afirma a existência do
Inferno e a sua eternidade. As almas que morrem em estado de pecado mortal
descem imediatamente, após a morte, aos infernos, onde sofrem as penas do
Inferno, “o fogo eterno”. A principal pena do inferno consiste na separação
eterna de Deus, o único em Quem o homem pode ter a vida e a felicidade para que
foi criado e a que aspira.»
Não é Deus que predestina as pessoas para o
Inferno, mas sim a existência de uma aversão voluntária a Deus e até ao fim
persistir nela. Diariamente, na liturgia eucarística e nas orações quotidianas
dos fiéis, a Igreja implora a misericórdia de Deus.
(Toda esta informação foi retirada do Catecismo da Igreja Católica, 1020- 1037)
Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa
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