terça-feira, 1 de novembro de 2011

Contradição

Caríssimos leitores:
Hoje é dia de Todos os Santos. Hoje relembramos todos aqueles que pela sua forma de viver se tornaram exemplos de cristandade. Poder-vos-ia falar mais sobre este assunto, mas remeto-vos para outro blogue que fala sobre este assunto (aqui).
O que vos quero falar hoje é de uma frase de Bento XVI que me tem dado muito que pensar. Esta será o mote da minha reflexão.

«Se o Evangelho que anuncio não gera contradição, é porque não o estou anunciando na totalidade» (Bento XVI)

Jesus Cristo, Filho de Deus, foi motivo de contradição. Todas as suas pregações foram contestadas. Ele falou ao coração dos homens aquilo que eles não queriam ouvir. E bem lá no fundo, sabiam que ele tinha razão nas coisas que dizia. Os homens do tempo de Jesus, como os de hoje, têm medo de ouvir a verdade. Sabendo que estão a fazer algo de mal, receiam que alguém lhes diga que estão a errar.
Os Apóstolos, pregando a Boa nova, foram motivo de contradição. Eles quebraram as cadeias a que estavam presos e anunciaram uma mensagem que a todos incomodava: era a mensagem de Jesus.
Os Santos foram, de igual forma, motivo de contradição. As suas palavras, a forma de agirem e de viverem, foram motivo de contradição.
Hoje, o verdadeiro cristão, é motivo de contradição. E se não o é, então é porque não é verdadeiramente cristão.
O Evangelho ensina-nos que devemos amar o irmão incondicionalmente. Num mundo em que ninguém ama ninguém, se um ama verdadeiramente o outro, é motivo de contradição. Se um jovem, nos dias de hoje, opta por não ter relações sexuais com a parceira antes do casamento, é motivo de contradição. Se um jovem se assume verdadeiramente cristão e, se sem medo, assume que é um membro activo na igreja, então ele é motivo de contradição. Se nas palavras que uso, nas acções que faço, coloco Deus a meu lado e ajo de modo diferente, então sou motivo de contradição. Se vejo um jovem a caminhar, com um terço a rodar pela mão, então eu vejo uma contradição.
Há uma frase, bem conhecida de todos nós, que nos fala de remar contra a corrente: se alguém no meio da multidão que caminha toda num sentido, fura a multidão em sentido contrário, então esse alguém é motivo de contradição.
E que quero eu dizer com isto tudo? Bem, mais explicito não pode estar: a diferença, pela positiva, gera um conflito nos outros. Um conflito interior, de tentar perceber porque é que esse alguém é diferente. E esse alguém é diferente porque têm Deus no seu coração.
Ser-se cristão é ser-se diferente. E nos tempos que correm, essa diferença faz-se notar cada vez mais. E se eu não opto pela diferença, tendo em conta os valores e deveres que tenho, então eu não gero contradição: sou mais um no cardume, mais um a ir na corrente daquilo que todos os outros pensam, fazem.
Se tenho vergonha de dizer que sou cristão, então eu sou mais um no mundo da igualdade.
O Evangelho de hoje falava nas Bem-Aventuranças. E elas são uma fonte para quem quer ser diferente.
Sim eu sei que é difícil ser-se diferente nos dias de hoje, mas Jesus dizia-nos: «Felizes os pobres no espírito, […] felizes os mansos […] os aflitos, […] os que têm fome e sede de justiça, […] os misericordiosos, […]os puros no coração, […] os que promovem a paz, […] os que são perseguidos por causa da justiça» porque deles é «o Reino dos Céus, […]porque serão saciados, […] herdarão a terra, […] serão saciados, […] serão chamados filhos de Deus». E conclui dizendo-nos: «Felizes sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus».
Então porque esperamos? Temos medo que nos apontem o dedo, que nos desprezem, que gozem connosco? Que sejamos motivo de chacota e de riso? Não tenhamos medo, pois, ainda que tudo isto nos aconteça, estamos a ser contraditórios ao mundo; estamos a ser verdadeiros discípulos do Mestre. Por Ele, para Ele e com Ele tudo faz sentido. Ele é a nossa infinita razão de viver.
Anunciai verdadeiramente e completamente o Evangelho: sede contraditórios.




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

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