domingo, 8 de maio de 2011

The boat

Sentei-me nas escadas de acesso à praia.
A brisa suave da manhã percorreu o meu rosto. O meu olhar fitava o horizonte. Lá em baixo, na praia, uns homens amarravam os seus barcos no pontão da praia.
Conversavam entre si. Possivelmente sobre a noite de pesca, ou sobre outro assunto qualquer.
O mar está meio agitado. As ondas rebentam com grande intensidade contra as rochas e a costa.
Os homens permanecem ali, no cais, a falar. Tudo parece acalmar. O sol brilha no alto céu.
Nesta paz, algo de inesperado começa a acontecer.
Um pequeno barco desprende-se do cais e começa a afastar-se. Os homens não dão por nada. E o barco continua a afastar-se para o alto mar.
Quando os homens dão conta do afastamento do barco, já nada podem fazer senão lamentar-se.
Contudo uma réstia de esperança parece surgir para aquele pequeno barco. Um outro barco navega em direcção à costa. Mas também esse não foi capaz de o resgatar. E o barco continua a afastar-se por causa das turbulências da água.
Tudo está perdido para aquele pequeno barco.
Os homens desistem do barco, viram-lhe as costas e saem da praia.
Quando passam por mim, consigo ouvi-los a falar sobre aquele barco: “Era novo, mas cheio de problemas... Não nos causará mais dores de cabeça.”
Os homens foram-se embora, mas o barco continuou à deriva no alto mar.
Com aquele pequeno barco ninguém se importou. Todos lhe viraram as costas. Mas eu resisti, tentando adivinhar o seu futuro, e vendo-o a caminhar em direcção ao horizonte.
Voltei para casa, desanimado. Aquele pequeno episódio que vira hoje fizera-me pensar em como os homens também são assim uns com os outros. Quando algo traz problemas e se começa afastar, os homens não mais querem saber… não digo todos, mas grande maioria.
As pessoas são más. Tendo a sua barriga cheia, não mais querem saber dos outros.
Ah!, como a maldade que reside nas pessoas é eloquente.  São capazes de desistir dos outros em meros minutos.
Adormeci com estes pensamentos na minha cabeça.
Alguns meses depois voltei de novo à praia. Esta estava deserta. Os barcos estavam presos ao cais. Mas algo agora era diferente nesta praia. Um pequeno barco mostrava o seu esqueleto, e jazia morto na praia. Aproximei-me dele e vi que era o barco que se tinha perdido havia meses. Mas agora estava partido, destruído.
Voltei para as escadas, peguei no carvão e em papel e desenhei aquela vista. Ia já a meio quando uns homens passaram por mim. Dirigiram-se para o barco que jazia na praia. Olhavam-no com tristeza, com saudade.
A meu lado sentou-se um velho que acompanhara os outros homens, mas mais afastado. Comentou comigo que aquele, apesar de alguns problemas, era um bom barco.
Mas agora tudo estava perdido. Quando puderam fazer algo por ele, deixaram-no ir de encontro ao horizonte. E agora, lamentavam-se da perda…
A brisa suave da manhã bateu-me na cara.
E eu levantei-me e segui caminho…




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

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