Há dez anos a viver sob a sombra
deste dia. Há dez anos que os sonhos de muitos se tornaram pesadelos. Há dez
anos que milhares de inocentes morreram por causa de ideologias e interesses políticos.
Há dez anos que o mundo parou para assistir ao holocausto deste novo milénio.
As minhas recordações desse dia
são muito vagas. Não tenho a certeza se almoçava ou se já tinha acabado de
almoçar quando o mundo rebentou com esta notícia. Não sei se fazia sol se
chuva. Mas de nada isso interessa. A verdade é que assisti a esse holocausto
como tantos outros neste mundo: em frente a um ecrã da televisão, chorando ou
sentindo compaixão de todos aqueles que perdiam as suas vidas.
De todas as imagens que retenho
desse dia, a que mais me impressiona é de ver as pessoas a saltarem do prédio
alto. Não sei se acto de coragem ou de loucura. Não sei. O que sei é que essa
imagem sempre me ficou marcada.
Não demorou muito tempo até que o
mundo assistisse ao desmoronamento das torres. Aqueles gritos horrendos das
pessoas permaneceram no meu pensamento durante horas. Tinha onze anos, mas
aquele dia, daquele ano, marcou-me para o resto da vida. Aquele acto, aquele
pedaço de história que se ia construindo, a que eu assistia como um espectador
na cadeira do teatro, marcou o mundo de uma forma horrenda.
Muitas medidas foram tomadas,
muitas guerras começaram e milhares de pessoas morreram. O mundo ficou virado
ao contrário e os mais velhos, que passaram pela II Grande Guerra, olhavam o
passado e pensavam que a história se repetia. A III Guerra Mundial poderia
rebentar a qualquer momento. E esta seria para rebentar com tudo. É assim que
recordo os meus avós a falarem disso.
Quem nasceu nesse dia, já hoje
sabe ler. Agora, etnia e religião muito importam. Agora, estas crianças estão
de costas voltadas, separadas e destinadas a viver com ódio umas das outras. É
assim que eu vejo as coisas. Árabes e Europeus, muçulmanos ou cristãos, andam
de costas voltadas, por um passado que nenhum apagará das suas vidas.
O nome de Deus vem novamente à
baila, por diversas razões. Uns gritam o nome de Deus antes de se matarem;
outros gritam por Deus para O culpar. Mas Deus nada tem a ver com este horrível
crime. Deus nada tem a ver com as escolhas erróneas dos homens. Mas uma vez
mais Deus é culpado, e o homem livra a pele, acalma a consciência por ter encontrado
um bode expiatório a quem atribuir a culpa das suas acções.
Hoje as famílias recordam os seus
familiares mortos. Hoje os heróis daquele dia relembram toda a miscelânea de
sentimentos que devem ter sentido. Hoje o homem continua a sofrer por causa
deste holocausto.
Há dez anos caíram duas torres no
centro de Nova Iorque. Há dez anos o mundo assistiu a mais um capítulo da
história. Há dez anos o homem tornou-se ainda mais desconfiado. Há dez anos que
Deus é culpado sem ter culpa de nada. Há dez anos, eu chorei por um
desconhecido…
Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa
De todos os artigos que tenho lido penso que até hoje este será dos melhores que estão neste blogue, não sei se pela temática que a todos nos toca tão profundamente ou mesmo pela maneira como te decidiste a escreve-lo. Tal como tu não tenho uma recordação muito consciente do que se passou: lembro-me de estar sentada no tapete da sal, à frente da televisão e ver aquelas pessoas aos gritos e de um momento para o outro as torres foram abaixo. Nem no melhor dos filmes de terror poderíamos ter assistido a algo que foi tão real e que ainda hoje pedimos que seja ficcional. Não falem de Deus. Não tem culpa de nada, aliás o nosso Deus é um Deus de Amor, misericórdia, perdão, não nos pede para morrermos, para nos vingarmos, para impormos a nossa religião pela força.
ResponderEliminarCerca de 3000 mortos, vidas inocentes que já não estão entre nós para contar o que foi o desespero daquele dia e as pessoas que o provocaram, os poderosos não se expõem...Que culpa tiveram estes inocentes, que fizeram?
Um marco na história que ficará para sempre, uma data que será sempre para nós um desespero... Hoje são 10 anos do 11 de Setembro, mas não podemos esquecer também o 11 de Março que em Madrid matou outros tantos.
O Mundo tem de acordar...
Lia
Sim lá venho eu... Primeiro dizer que concordo completamente que as pessoas usam a religião, ou melhor, a sua interpretação da religião para justificar os seus actos. Não foi Deus e Alá que se confrontaram a 11 de Setembro de 2001. Foram os interesses humanos que chocaram entre si. Foi a perversão humana que levou à tragédia, não os desígnios divinos.
ResponderEliminarO que eu não concordo é que "árabes e europeus", "cristãos e muçulmanos" andem de costas voltadas. Alguns países árabes e os EUA e 2 ou 3 países europeus talvez. Mas felizmente que o diálogo ainda existe. Se não já tinha estoirado a III Guerra Mundial. E é importante que se promova e mantenha esse diálogo multicultural mas sem que se misture o que não deve ser misturado, política e religião por exemplo.