domingo, 11 de setembro de 2011

Há dez anos...


Há dez anos a viver sob a sombra deste dia. Há dez anos que os sonhos de muitos se tornaram pesadelos. Há dez anos que milhares de inocentes morreram por causa de ideologias e interesses políticos. Há dez anos que o mundo parou para assistir ao holocausto deste novo milénio.

As minhas recordações desse dia são muito vagas. Não tenho a certeza se almoçava ou se já tinha acabado de almoçar quando o mundo rebentou com esta notícia. Não sei se fazia sol se chuva. Mas de nada isso interessa. A verdade é que assisti a esse holocausto como tantos outros neste mundo: em frente a um ecrã da televisão, chorando ou sentindo compaixão de todos aqueles que perdiam as suas vidas.
De todas as imagens que retenho desse dia, a que mais me impressiona é de ver as pessoas a saltarem do prédio alto. Não sei se acto de coragem ou de loucura. Não sei. O que sei é que essa imagem sempre me ficou marcada.
Não demorou muito tempo até que o mundo assistisse ao desmoronamento das torres. Aqueles gritos horrendos das pessoas permaneceram no meu pensamento durante horas. Tinha onze anos, mas aquele dia, daquele ano, marcou-me para o resto da vida. Aquele acto, aquele pedaço de história que se ia construindo, a que eu assistia como um espectador na cadeira do teatro, marcou o mundo de uma forma horrenda.
Muitas medidas foram tomadas, muitas guerras começaram e milhares de pessoas morreram. O mundo ficou virado ao contrário e os mais velhos, que passaram pela II Grande Guerra, olhavam o passado e pensavam que a história se repetia. A III Guerra Mundial poderia rebentar a qualquer momento. E esta seria para rebentar com tudo. É assim que recordo os meus avós a falarem disso.


Quem nasceu nesse dia, já hoje sabe ler. Agora, etnia e religião muito importam. Agora, estas crianças estão de costas voltadas, separadas e destinadas a viver com ódio umas das outras. É assim que eu vejo as coisas. Árabes e Europeus, muçulmanos ou cristãos, andam de costas voltadas, por um passado que nenhum apagará das suas vidas.
O nome de Deus vem novamente à baila, por diversas razões. Uns gritam o nome de Deus antes de se matarem; outros gritam por Deus para O culpar. Mas Deus nada tem a ver com este horrível crime. Deus nada tem a ver com as escolhas erróneas dos homens. Mas uma vez mais Deus é culpado, e o homem livra a pele, acalma a consciência por ter encontrado um bode expiatório a quem atribuir a culpa das suas acções.
Hoje as famílias recordam os seus familiares mortos. Hoje os heróis daquele dia relembram toda a miscelânea de sentimentos que devem ter sentido. Hoje o homem continua a sofrer por causa deste holocausto.

Há dez anos caíram duas torres no centro de Nova Iorque. Há dez anos o mundo assistiu a mais um capítulo da história. Há dez anos o homem tornou-se ainda mais desconfiado. Há dez anos que Deus é culpado sem ter culpa de nada. Há dez anos, eu chorei por um desconhecido…



Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

2 comentários:

  1. De todos os artigos que tenho lido penso que até hoje este será dos melhores que estão neste blogue, não sei se pela temática que a todos nos toca tão profundamente ou mesmo pela maneira como te decidiste a escreve-lo. Tal como tu não tenho uma recordação muito consciente do que se passou: lembro-me de estar sentada no tapete da sal, à frente da televisão e ver aquelas pessoas aos gritos e de um momento para o outro as torres foram abaixo. Nem no melhor dos filmes de terror poderíamos ter assistido a algo que foi tão real e que ainda hoje pedimos que seja ficcional. Não falem de Deus. Não tem culpa de nada, aliás o nosso Deus é um Deus de Amor, misericórdia, perdão, não nos pede para morrermos, para nos vingarmos, para impormos a nossa religião pela força.
    Cerca de 3000 mortos, vidas inocentes que já não estão entre nós para contar o que foi o desespero daquele dia e as pessoas que o provocaram, os poderosos não se expõem...Que culpa tiveram estes inocentes, que fizeram?
    Um marco na história que ficará para sempre, uma data que será sempre para nós um desespero... Hoje são 10 anos do 11 de Setembro, mas não podemos esquecer também o 11 de Março que em Madrid matou outros tantos.
    O Mundo tem de acordar...

    Lia

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  2. Sim lá venho eu... Primeiro dizer que concordo completamente que as pessoas usam a religião, ou melhor, a sua interpretação da religião para justificar os seus actos. Não foi Deus e Alá que se confrontaram a 11 de Setembro de 2001. Foram os interesses humanos que chocaram entre si. Foi a perversão humana que levou à tragédia, não os desígnios divinos.

    O que eu não concordo é que "árabes e europeus", "cristãos e muçulmanos" andem de costas voltadas. Alguns países árabes e os EUA e 2 ou 3 países europeus talvez. Mas felizmente que o diálogo ainda existe. Se não já tinha estoirado a III Guerra Mundial. E é importante que se promova e mantenha esse diálogo multicultural mas sem que se misture o que não deve ser misturado, política e religião por exemplo.

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