domingo, 18 de setembro de 2011

Pessoas, donas do Mundo!


Hoje estou intrigado. Já nada me devia admirar, mas continuamente as pessoas surpreendem-me.
O homem nasce livre, segundo o conceito de que o homem é livre quando cumpre os seus direitos e deveres. Mas facilmente o homem passa da liberdade para a libertinagem. Achando-se dono do mundo, faz o que quer e bem lhe apetece. Esquecem-se de que a sua liberdade termina onde começa a liberdade do outro.
E isto tudo surgiu-me, hoje, enquanto ia na procissão da Santa Eufémia. E porquê? Porque as pessoas, ou porque vão cumprir uma promessa, ou porque levam os andores, pensam que já podem fazer tudo o que desejam. E isto porque uma das senhoras que levava o andor, depois de beber a sua garrafinha de água, lançou-a para o chão, sem se preocupar com as consequências do seu acto. Mas não foi a única, pois outros fizeram da mesma maneira. Bem, deviam ter consciência de que por levarem um andor não lhes permite que estraguem o ambiente, e descarreguem a sua consciência com o peso do andor.
Outra situação caricata foi a de as pessoas se colocarem logo atrás do andor da Santa Eufémia, não querendo saber se o seu lugar era aí ou não. Aliás, o que interessa? Eu tenho uma promessa e por isso faço o que quero. E se alguém me diz alguma coisa, eu refilo logo, digo que prometi ir atrás do andor, e que me tiram a fé. E os mordomos, assistindo a tudo, deixam que as pessoas mandem. E depois, ainda ouço dizer: «Façam duas filas que fica mais bonito!» Ah, mas o que é isto? As pessoas estão mal educadas, e ninguém as educa. Deixa-se andar, fazendo o que querem, pois se se fizer algo, tira-se a fé às pessoas. Mas que raio de fé é esta? Fé de procissões, em que ao passar a imagem da, desculpem a expressão, «santinha», todos se benzem e se ajoelham? Essa é que é a nossa fé? Dizia São Paulo, na segunda leitura de hoje, aos Filipenses que para ele, que se considera um aborto (cf. 1 Cor 15, 8), viver é Cristo e morrer é lucro (cf. Fil 1, 20-21a). Ora, para Paulo a sua vida só se completa na vivência em Cristo, até que Ele se forme em todos nós (cf. Gl 4, 19).
Hoje em dia é mais fácil deixar-se as pessoas fazerem o que querem, a tentar educa-las correctamente. E depois admiramo-nos quando ouvimos as pessoas dizerem: «Eu cá tenho a minha fé!». Mas a nossa fé não é igual? Não acreditamos todos em Deus Pai, Filho, Espírito Santo e na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica? Ah, já me esquecia… É só mais uma fórmula que dizemos na missa, sem saber o que significa, como tantas outras coisas. Mas «esta é a fé da Igreja, esta é a nossa fé». Uma fé comum a todos, e não uma fé particular e de cada um. Mas hoje não educamos para isso, não formamos quem possa educar. Bem sei que não é geral, mas o que mais tenho visto…
Mas findo por aqui, não querendo avançar mais, pois poderíamos dizer muito sobre este assunto.
Deixo o link (aqui) de uma das catequeses da Jornada Mundial da Juventude em Madrid, onde podemos ler e ficar um pouco mais esclarecidos sobre em que se fundamenta a nossa fé!

Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

1 comentário:

  1. É a evolução dos tempos! A sociedade cresceu, globalizou-se, informou-se e formou-se... mas ao mesmo tempo tornou-se mais frenética, agitada, ocupada e, acima de tudo, egocêntrica. Tal como disseste, parece que as pessoas acreditam que existe uma fé só sua e transpondo para a vida civil (não comentaria se não pudesse fazer esta transposição), a generalidade das pessoas acredita que tem também a sua própria lei ou moral.
    Haverá uma razão para isto?! Há e é bastante evidente!
    Por um lado temos o sistema. Há quem pratique ilegalidades, ou mesmo crimes, sem que seja punido por eles. E o facto de algumas destas pessoas serem figuras importantes na sociedade só faz com que sejam tomadas como exemplo. Ora se fulano fez e não foi punido, porque não hei-de eu fazer também?! O sistema judicial como bem sabemos funciona mal! Por isso cria-se esta sensação de impunidade.
    Por outro lado, a própria sociedade parece não reagir perante ilegalidades ou imoralidades tidas como "normais" ou pelo menos usuais. Quantas pessoas sabem perfeitamente que o vizinho está inscrito no "centro de emprego" e a receber o dito cujo "subsídio de desemprego" e a trabalhar em simultâneo?! Quantas pessoas se gabam de ludibriar o sistema, por exemplo afirmando receber parte do ordenado "por fora"?! Mais um exemplo: quantas pessoas se envergonham de realizar um aborto, de engravidar na adolescência, ou até mesmo, de ajudar um necessitado, e levam com naturalidade a "esperteza" de dar a volta ao estado?! Ora bem vistas as coisas, o estado somos nós, por isso somos burlados de forma consentida. Não precisamos de uma sociedade de "bufos" pois isso só piorava as relações, aumentando a desconfiança geral. Uma espécie de ambiente que julgo que se vivia no tempo da PIDE. O que precisamos é de uma sociedade consciencializada, isto é, uma sociedade que se puna internamente. O que quero dizer é: porque é que em vez de nos rirmos ou acharmos um acto de incrível esperteza quando alguém nos conta que enganou o estado, não lhe explicamos que ao fazer tal coisa está é a roubar-me a mim?! Porque é que ninguém chamou à atenção aquele/a(s) que atirou(aram) a garrafa vazia fora?! Porque a sociedade vive nesta passividade, nesta adinamia, neste medo de repreender o outro. Quantas pessoas, não vítimas, denunciam a violência doméstica?! Continua-se a viver no "entre marido e mulher não meto a colher". O que parece não estar claro é que vivemos todos em sociedade e, mesmo preservando a individualidade de cada um ou de cada grupo, temos uma responsabilidade social, civil, moral para com os demais. E é essa responsabilidade que me legitima a repreender quem não respeita os demais na fila da procissão ou aquele que deita fora uma garrafa sem peso na consciência.

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