quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Chuva


Estou deitado sobre a cama a ouvir a chuva que cai fortemente lá fora.
A minha mente leva-me para lá dos meus horizontes.
Surge-me a imagem de uma cabana, perdida nos montes, rodeada de árvores. Da chaminé surge um fumo intenso, cinzento. A chuva cai fortemente. Uma luz, no recanto da casa, salta pela janela. Do lado de dentro, um homem sentado na poltrona, junto à lareira acesa. Os seus cabelos são brancos como a neve, totalmente brancos. Veste um robe de cores escuras, fazendo um padrão todo ele entrelaçado entre si. Sob as pernas, uma manta. A seu lado uma pequena mesa com um candeeiro. Sustenta nas mãos, o velho homem, um livro de capa castanha, com aparência de já ter sido lido várias vezes. As letras douradas, já gastas e sem brilho.
Retira os óculos e fecha os olhos, poisando o livro sobre as pernas. Poder-se-ia dizer que estaria a dormitar, mas não. De olhos fechados o velho homem ouve o concerto do lado de fora da sua cabana. Um concerto da natureza: a chuva a cair, o vento a soprar por entre as árvores, as copas das altas árvores a tocarem-se umas às outras, o som dos passos dos animais que correm apressados, e o solo da velha coruja.
De novo abre os olhos e olha lentamente à sua volta. A madeira da cabana sustenta em si a história daquele homem, por entre quadros e diplomas.
De novo volta o meu pensamento à realidade. Lá fora a chuva já abrandou, o vento já não sopra com tanta intensidade. Mas no meu pensamento só reside a imagem do velho homem. Pego num livro para ler, mas sempre presente está a imagem do velho!
A chuva volta a cair apressadamente e eu adormeço ao som daquela bela melodia. O meu sonho começa escuro.
Vagueio agora por entre uma floresta, em direcção a uma luz que surge por entre as árvores. No topo o fumo dissolve-se no ar suavemente. De novo a cabana surge na minha mente. Mas já não chove. O céu vestiu-se de estrelas e a lua veio iluminar a noite fria. De novo o velho homem se encontra tal e qual. Mas agora, o livro jaz na mesa e nas suas mãos uma fotografia. Abeiro-me da janela para observar de mais perto. O meu coração decidiu acordar, palpitando fortemente. Na foto via o meu rosto, com traços jovens e cabelo ainda com cor…  


Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

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