Estou deitado sobre a cama a ouvir
a chuva que cai fortemente lá fora.
A minha mente leva-me para lá dos
meus horizontes.
Surge-me a imagem de uma cabana,
perdida nos montes, rodeada de árvores. Da chaminé surge um fumo intenso,
cinzento. A chuva cai fortemente. Uma luz, no recanto da casa, salta pela janela.
Do lado de dentro, um homem sentado na poltrona, junto à lareira acesa. Os seus
cabelos são brancos como a neve, totalmente brancos. Veste um robe de cores
escuras, fazendo um padrão todo ele entrelaçado entre si. Sob as pernas, uma
manta. A seu lado uma pequena mesa com um candeeiro. Sustenta nas mãos, o velho
homem, um livro de capa castanha, com aparência de já ter sido lido várias
vezes. As letras douradas, já gastas e sem brilho.
Retira os óculos e fecha os
olhos, poisando o livro sobre as pernas. Poder-se-ia dizer que estaria a
dormitar, mas não. De olhos fechados o velho homem ouve o concerto do lado de
fora da sua cabana. Um concerto da natureza: a chuva a cair, o vento a soprar
por entre as árvores, as copas das altas árvores a tocarem-se umas às outras, o
som dos passos dos animais que correm apressados, e o solo da velha coruja.
De novo abre os olhos e olha
lentamente à sua volta. A madeira da cabana sustenta em si a história daquele
homem, por entre quadros e diplomas.
De novo volta o meu pensamento à
realidade. Lá fora a chuva já abrandou, o vento já não sopra com tanta
intensidade. Mas no meu pensamento só reside a imagem do velho homem. Pego num
livro para ler, mas sempre presente está a imagem do velho!
A chuva volta a cair
apressadamente e eu adormeço ao som daquela bela melodia. O meu sonho começa
escuro.
Vagueio agora por entre uma
floresta, em direcção a uma luz que surge por entre as árvores. No topo o fumo
dissolve-se no ar suavemente. De novo a cabana surge na minha mente. Mas já não
chove. O céu vestiu-se de estrelas e a lua veio iluminar a noite fria. De novo
o velho homem se encontra tal e qual. Mas agora, o livro jaz na mesa e nas suas
mãos uma fotografia. Abeiro-me da janela para observar de mais perto. O meu
coração decidiu acordar, palpitando fortemente. Na foto via o meu rosto, com
traços jovens e cabelo ainda com cor…
Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigado pelo comentário!