domingo, 3 de novembro de 2013

Domingo, dia do Senhor

Hoje evoquei uma memória que parecia ter desaparecido da minha memória.
Num pouco de conversa no trabalho, falava-se de eu respeitar tanto o Domingo. Apesar de entrar no trabalho por volta das oito e meia da manhã, de sair por volta das três (maioritariamente, depois) voltar a entrar pelas cinco e meia e sair bem depois das nove e meia, faço questão de em todos os Domingos vestir o fatinho, colocar ou não uma gravata... Em suma, "vestir-me bem"!
Certo é que me é impossível participar na Missa Dominical, mas continua a ser Domingo, dia do Senhor.
No meio da conversa questionavam qual a razão de me dar ao trabalho de me vestir "domingueiramente", se chego ao trabalho e mudo de roupa. Respondi que era um dia diferente, o dia em que celebramos mais festivamente a Ressurreição de Jesus e que assim estava habituado.
Sem que tivesse margem para jústificações perguntaram logo como cresceu esse hábito. Bem, foi altura de recuar alguns anos na minha vida, ao tempo de seminário em Fornos de Algodres.

Quando entrei para o Seminário Menor de São José em Fornos de Algodres, era costume que a Missa Dominical fosse aberta a toda a comunidade, a toda a vila de Fornos.
As memórias que vagueiam na minha mente dizem-me que o dia começava diferentemente dos outros. Cerca de meia-hora depois de nos acordarem era hora de nos reunirmos a capela para o Ofício de Laudes. Pequeno almoço e tempo de preparação para a missa. Banhinho quente (certas vezes frio se éramos dos últimos), vestir a melhor roupa do armário (propositadamente guardada para aquele dia) e ocupar o tempo que sobrava com televisão, estudo ou algo do género.
Se as minhas recordações não me falham, cerca de meia hora antes da missa, tocava a sineta. As pessoas começavam a chegar, iam-se juntando pelo cláustro ou junto da porta da capela. A nós, seminaristas, cabia-nos estar na capela, a dar um último retoque nos cânticos, limar algumas pontas, etc. Era fántástico de assistir à luminosidade daquela capela. O sol trespassava pelos vitrais, enchendo a capela de luz e cores. Para mim era um espetáculo digno de se ver. E somente ao fim de semana podíamos ver aquele espetáculo, já que durante a semana estávamos nas aulas.
Capela praticamente cheia e hora de começar. Se os Domingos exigiam mais solenidade, como por exemplo os Domingos dos Pais, a procissão de entrada era feita pelo fundo da capela. Castiçais, cruz, incenso e tudo o resto. Soavam as vozes na capela e aquela Eucaristia era um momento mágico, momento esperado toda a semana. No fim da Missa, reuníamos-nos junto à porta, cumprimentando as caras conhecidas que alí passavam. O resto do dia era passado com estudo, filmes ou brincadeiras.
Aquele dia era mágico e marcou a minha vida. Hoje, ao fim de dez, onze anos, a memória veio tão forte que tive de partilhar. Hoje falta-me a Missa ao Domingo, a festa que o Domingo é. Mas o hábito de me vestir "domingueiramente" permanece e o Domingo continua a ser o Dia do Senhor. E talvez esta minha memória seja a memória de mais alguns.



Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A serra!

A chuva chegou de mansinho pelo fim da tarde. Nicolas fazia a sua viagem em direcção a casa, pelas estradas cheias de curvas pela serra. O nevoeiro começou a serrar e pouco ou nada se via à sua frente.
Como ainda tinha tempo e nada o esperava, Nicolas decidiu parar o carro e aproveitar um pouco daquela primeira chuva outunal. Saiu do carro e caminhou um pouco pela estrada que se ia desvendando à sua frente. A chuva miudinha não chateava e sentia-se bem por poder aproveitar aquele momento com o ar puro da serra, o cheiro intenso a terra molhada.
Sem que esperasse, os pensamentos sobre dias anteriores invadiram a sua cabeça. Nada de muito importante, mas que davam alguma felicidade a Nicolas. Toda a felicidade se paga e Nicolas receava que algo mal pudesse acontecer nos dias seguintes. Tentava contrariar-se, dizendo que não, que pequenos momentos de alegria não eram pagos. Mas o que lhe ensinara a vida tinha sido absolutamente o contrário: todos os instantes de felicidade são pagos e por vezes caros de mais.
Nicolas queria deixar aqueles pensamentos de lado e recordar somente o que de bom havia acontecido: o voltar a fazer algo que tanto gostava mas que há muito deixara de fazer; o ter uma conversa interessante e com muita confiança; um café no fim de um dia numa esplanada... Pequenos prazeres, pequenos momentos de felicidade. E essas recordações faziam-no sorrir, ali, no meio do nevoeiro intenso, na chuva miudinha que não deixava de cair.
Nicolas olhou o relógio e apressou-se a voltar ao carro. Ainda havia trabalho a fazer e havia-se perdido em pensamentos tempo de mais.
Quando chegou a casa, jantou qualquer coisa rápida e afundou-se no trabalho. Aquele tempo "perdido" na serra, por entre nevoeiro e chuva, havia-lhe feito bem e não tencionava finalizar o seu dia com papelada e mais papelada.
No momento em que terminou o que havia ficado pendente, Nicolas olhou o relógio de solslaio e reparou que os ponteiros marcavam meia-noite. Dirigiu-se à cozinha, encheu a chávena de café, pegou no maço de cigarros e no seu isqueiro austro-húngaro e foi-se sentar na varanda de sua casa, virada para o cume da serra. Como ele se havia apaixonado pela serra, pelos seus bons ares, pelas suas pedras toscas, pelo prado rasteiro e as árvores verdes!
A sua cabeça enchia-se novamente de tantos pensamentos. De momentos bons, momentos maus, de pessoas de quem sentia saudades, de pessoas que lhe haviam virado as costas e de quem ele gostava. Pensava nos que já haviam partido, na saudade e no lugar vazio que haviam deixado. Sentia, em certas alturas, que o seu coração tinha-se quebrado em mil pedaços, num momento da sua vida e que agorateria de colar todos esses pedaços, deixando de lado o que de mal havia nele.
Sorria, simplesmente sorria. Nem tudo havia sido mau. E de que valia que permanecessem os maus momentos e os bons fossem esquecidos? Nada, simplesmente para aprender com eles, recordarmos bons momentos e deixar de lado essas mágoas e recordações que tanta vez o haviam feito chorar.
Nicolas puxou de um cigarro, acendeu-o e deu os primeiros bafos. A noite estava fresca. Nicolas contemplava a serra, senhora magestosa e modesta, tão conhecedora dos desabafos e bons momentos que Nicolas vivera, alí, na sua cabana ou noutro lugar qualquer. A melhor confidente, a melhor conselheira, a melhor amiga.
Nicolas apagou o seu cigarro, meio fumado, meio por fumar, despediu-se da serra e fechou a porta atrás de si, com um único pensamento na cabeça: afinal nem tudo é tão mau!

Ismael Sousa
Ad majorem Dei gloriam!

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Viktor

A noite chegava de mansinho. Sentado no jardim de sua casa, Viktor perdia-se me pensamentos entre um e outro copo de vinho. As estrelas começavam a iluminar os céus, preparando a chegada da Lua que chegaria esplendorosa e brilhante.
O coração de Viktor era totalmente contrário ao ambiente que o rodeava. Perdia-se, o seu coração, em recordações e pessoas que passaram e permaneciam na sua vida. As saudades preenchiam muitas vezes as noites de Viktor. Amava pessoas, perdia-se em momentos de júbilo. Mas a solidão era companheira constante: na maioria das vezes desejada, na minoria indesejada.
Sentia saudades das pessoas, daquelas que as marcavam inteiramente. Por vezes não conseguia distinguir os sentimentos que tinha pelas pessoas. Amava uns, odiava outros.
Mas havia aqueles em que o seu sentimento era maior. Viktor perdia-se no seu jardim em pensamentos. Era-lhe tão difícil expressar os sentimentos de seu coração.
A Lua brilhava intensamente e os olhos de Viktor reluziam com as lágrimas. Sentia fortes emoções, mas de que valia. A ausência apoderava-se de si. Sentia a saudade.
Havia algo em si que não sabia explicar. Seria amor, seria paixão? Não lhe conseguia associar nenhum nome, pois os sentimentos há muito que desapareceram do seu vocabulário. Camuflava-os com muita coisa, e difícil era sempre conseguir compreende-lo. Engasgava-se nas palavras, suavam-se-lhe as mãos, o coração palpitava sempre demais. Então escondia o que sentia, tentava ser um ser sem coração, sem alma. Gelado como o gelo, frio como o inverno mais rigoroso. Quem o conhecesse à primeira impressão diria que era um negro ser, como a noite mais escura, no vale mais profundo, onde nem os mais fortes raios da lua conseguiam chegar e os raios de sol pouco tempo por ali se perdiam. Mas não! Viktor conseguia ser a pessoa mais doce, mais carinhosa, máis atenciosa. Só era preciso conquistarem-lhe o coração. Mas até isso era difícil neste momento. Sofrera muito com alguns que lhe haviam transformado o coração de pedra em coração de cristal. Viktor não se permitia novamente a sofrer isso e limitava todo o acesso ao coração.
As estrelas reluzentes no céu voltavam a relembrar os sentimentos que lhe preenchiam o coração. Era uma mística de grande saudade na ausência, de eterna alegria na presença; era o entregar-se totalmente sem esperar retorno, amar continuamente. Os seus olhos brilhavam mais na sua companhia e escureciam-se mas na ausência. Todos os dias pensava nesses do seu coração, a todo o momento desejava vê-los de novo.
A noite ia avançada quando Viktor pousou por fim o copo, levantou-se e passeou pelo jardim. Na penumbra da noite parecia-lhe ver aqueles que ele queria ver. Mas eram somente sombras. Mas isso não o fazia tremer. Sabia que por maior que fosse a distância nada mudaria o que ele sentia, pouco mudaria a relação que existia entre ambos.
Entrara em casa, fechara as cortinas atrás de si. Deitara-se na cama, fechara os olhos e sonhara. Entrava no seu coração, reconhecia os seus cantos e o que lá residia. Seria feliz, certamente, porque o seu coração estava em júbilo.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Amanhã!

É fim de tarde. Estou sentado numa esplanada perdida entre a Estrela, o Caramulo e a Gralheira. Os meus pensamentos levam-me para longe, para locais perdidos na minha mente.
As lágrimas correm o meu rosto. Sou assim, apegado às memórias do passado. Já o não posso evitar.
Não sei se são lágrimas de tristeza, dor ou saudade. Não sei porque correm.
Olho as andorinhas que voam no céu. Invejo-as. Queria ser livre de voar, percorrer o mundo sem apegos.
Estou cansado de tanto lutar, de tanto fazer. Mas nada disso importa. O esquecimento cai sobre nós bem mais depressa do que aquilo que pensamos ou desejamos. Tudo é passageiro e só resta viver cada momento com intensidade.
Agora sou uma simples caminhante neste mundo tão incerto. Um caminhante que deambula pelos caminhos, em direcção ao horizonte. Sou um caminhante na sombra à espera de ser lembrado. Mas tão certo é eu sair da sombra em momentos de necessidade como o sol voltar a nascer amanhã.
Alguns dizem-me que é o destino. Mas eu deixei de acreditar nessa predisposição das coisas que irão acontecer quer queiramos quer não. Pergunto-me até se não será defeito. Talvez. Advogado em causa própria nunca é bom.
Levanto-me e sigo o meu caminho. O céu ainda arde com a despedida do sol. As pessoas atarefadas correm a meu lado. E eu ao lado delas corro atarefado. Somos todos iguais neste mundo de diversidade. Talvez sim, talvez não.
A incerteza é o meu pior inimigo.
Aprendi a viver. Comecei a conhecer o mundo onde vivo, as pessoas que me rodeiam. As palavras que hoje dizemos são tão efémeras que uma simples rajada de vento leva-as para longe. Só os actos importam. A capacidade de se comprometerem tornou-se tão leve que voa juntamente com as palavras. Mas ainda existem excepções. Mas tudo é tão difícil.

Reclino a cabeça na almofada. Fecho os olhos e relembro que amanhã será um novo dia. Amanhã uma nova esperança, novas coisas para aprender. Amanhã. Haverá sempre a esperança de um amanhã!



Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Caderno preto, folhas amarelas.

Hoje voltei a reabrir o meu diário. Esquecido ou deixado de parte quase hà ano e meio, retirei-lhe o pó e voltei a ver aquelas folhas amarelas onde falei de glórias e derrotas, de alegrias e tristezas, com sorrisos e lágrimas.
Não sei se o comecei da melhor ou da pior maneira, o certo é que comecei. Não interessa, é passado. É o meu passado e não o posso apagar.
Agora que o leio, rio-me de algumas coisas que escrevi. Hoje é uma pessoa diferente que lê. Diferente daquela que o começou a escrever, naquele caderno de capa preta, folhas amarelas.
Ano e meio depois volto a preencher as suas folhas amarelas com tinta preta ou azul. Ano e meio depois, a história é diferente. Tanta coisa para contar a esse meu confidente de nenhumas palavras, de nenhumas opiniões.
Hoje novas lágrimas voltam a manchar o papel, desbotar a tinta, deformar as palavras.
É um momento meu, um momento só meu e de mais ninguém!
A vida mudou. As pessoas mudaram. As circunstâncias são outras.
Negar que sinto saudade de alguns momentos, seria enganar-me a mim próprio.
Tudo é indefinido. Muitas coisas são vagas.
Nas minhas últimas palavras, naquele caderno preto de folhas amarelas, pedi a Deus força. De tudo o que escrevi esse foi das poucas coisas que se realizaram. Tantos sonhos, tantos projectos, tantas ilusões. Tudo por água abaixo. A vida é uma incerteza. Aprendemos a viver cada dia de cada vez. O futuro a Deus pertence e só nos cabe viver cada momento intensamente. Nada nos impede de sonhar, mas nada nós garante que esses mesmos sonhos se concretizem.
Amei, chorei, sofri, regozijei-me intensamente.
Se o passado em algo ainda me faz chorar, isso ninguém o saberá. Apenas eu e as folhas amarelas do caderno preto!


quinta-feira, 18 de abril de 2013

O avanço!

A noite vem triste e só. Triste e só é o sentimento que tantas vezes nos invade. E quando a vida parece tomar rumo, um enorme medo se apodera de nós, deixando-nos tenebrosos.
O coração bate forte, a mente percorre tudo a uma velocidade enorme. Sentamo-nos, pensamos, controlamos os sentimentos. E esses sentimentos são, tantas vezes, sentimentos que nos fazem rebentar num choro compulsivo, impossível de travar. Mas a verdade é que o travamos. Travamo-lo pelas mais diversas razões: ou por vergonha, pelos outros, pelas questões colocadas. Travamos com medo de rótulos, com medo de opiniões.
Queremos ser fortes, mas nem sempre a força está do nosso lado.
Viramos o mundo na busca de algo quenos impeça de exteriorizar aquilo que sentimos, aquilo que nos trespassa a alma. Sacrificamos o interior por causa do exterior.
Há sempre aquele ombro onde podemos chorar, onde podemos falar livremente, sem medo dos rótulos, das criticas. Aquele ombro onde a alma se abre, libertando tudo aquilo que a oprime.
Fáceis as palavras, difíceis os actos. Tão fácil é dizer mas tão mais difícil cumprir.
Mas bem mais fáceis são as palavras mudas, as palavras escritas. Não há juízos, não há condenações. Mas também não há conselho, não há apoio, não há uma palavra amiga.
Muitas podem ser as palavras ou simplesmente tão poucas.
O sol continuará a raiar, independentemente do nosso animo ou estado de espírito. A vida continuará contra ou a favor da tua vontade. As pessoas seguirão o seu rumo e tu só ganharás se as acompanhares, pois se ficares para trás, o prejuízo é só teu.
À que seguir, à que avançar!
O mundo não pára e também nós não devemos parar.



Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Felizmente há luar!


A noite vai adiantada. Lá fora não sei se chove, se sopra o vento ou se o céu estrelado se exibe na noite. Somente vejo as horas passarem. A noite vai longa, como têm sido as últimas noites. Clinicamente há quem lhe chame insónias, psicologicamente uma inquietação que não me deixa dormir, por esta ou por aquela razão. Na verdade é só a falta de algo que acorde este corpo, de forma a que ao reclinar a cabeça feche os olhos para mais umas horas de repouso. Na verdade somente um coração que procura encontrar-se.
As duras horas da noite são passadas às voltas numa cama que já se tornou insuportável. Os pensamentos bailam de recordação em recordação. O tempo de infância, a adolescência e a saída dela. Ou será a eterna saída de uma etapa que tanta coisa boa trouxe e da qual não me quero libertar?
Dói-me o corpo, dói-me o espírito. Em certas horas este vagueia num oceano escuro que tenta derramar-se pelos meus olhos, impedido de transbordar por uma razão tão desconhecida como a da origem do Universo. Mas as cancelas abrem-se tão facilmente ao assistir ao sofrimento dos outros: real ou fictício. Impressionante Tão fácil pelos outros, tão difícil por nós.
Do porto da solidão para o porto do abandono. Sentimentos, interpretados à nossa maneira. Um porto que somente existe na minha mente. Na mente ou na realidade? Não interessa.
Os minutos vão passando como eternas horas. As três, as quatro, as cinco e por aí fora. O sol nasce a Este. Este ou nascente? É igual. Os primeiros raios dão luz à noite que não mais quer passar. Primeiro muito suavemente, como se estivesse com medo de se erguer, para mais um dia de alegrias, tristezas, vida e morte. Mais um dia se ergue.
Suavemente vai subindo, em direcção a Oeste, o poente. Indiferente ao que se passa entre o comum dos mortais. Indiferente a uma raça que se prende tão facilmente, mas que tão dificilmente se liberta. Indiferente corre e com ele as horas do dia.
O frenesim diário começa. Levantar, preparar, trabalho\escola, almoço e tarde, lanche e jantar. A noite está de volta e com ela a falta de sono. Mais uma noite de horas infindáveis. Mais uma noite de voltas e mais voltas. Uma mais de sonhos e pesadelos.
Mas esta não. Esta pode ser diferente. Porquê pressupor aquilo que poderá não acontecer? Talvez esses pensamentos dirijam a nossa vida, tantas vezes a navegar ao largo, com um leme quebrado. Possivelmente seja isso que me impede de fechar os olhos.
Tantas e tantas horas. Talvez isto tudo seja somente parte de um sonho, de um pesadelo, de delírios. Talvez um desabafo ou somente algo inventado para preencher. Talvez não. Talvez seja assim as noites de tantos. E nós desconhecemos.
Que a noite seja reparadora, que a noite seja santa. Que na noite encontre o que tanto ambiciono. Ou talvez já tenha encontrado. É na noite que se cometem crimes, que verdadeiras trovas de amor são feitas. É a noite que consola os tristes e alegra os humildes. É a magia da noite, porque «felizmente… Felizmente há luar!»




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quarta-feira, 27 de março de 2013

Santa Paixão


Encontramo-nos em plena Semana Maior, ou Semana Santa, iniciada neste Domingo de Ramos.
Esta semana adquiriu o nome de Semana Maior por nela se viverem os maiores e mais marcantes acontecimentos do Cristianismo: a entrada em Jerusalém, a celebração da Última Ceia, a Crucificação, o silêncio do túmulo culminando com a Ressurreição.
Certo é que são momentos de grande emoção. Um Rei montado num jovem e desengonçado jumento. Um Homem que se entrega ao mundo sob a espécie do pão e do vinho, que lava os pés aos seus discípulos, que os ensina a amar mesmo perante o ódio. Um Cristo que na cruz perdoa. Um Santo que vence a morte e o pecado pelos homens!
Contudo é também a semana da grande dor. Que me perdoem os meus amigos teólogos e todos aqueles que se sintam ofendidos pela minha diferente visão.
Despido de toda a pompa e circunstância, Jesus entra, naquela que é/seria a sua entrada triunfal em Jerusalém, montado num jumento desengonçado. O povo coloca as suas capas e as palmas e ramos no chão para a sua passagem cantando hossanas.
Na hora da celebração da Última Ceia, Jesus sofre a dor da traição. Depois de partilhar do mesmo pão, de andar na Sua presença, de O chamar amigo, Judas trai-o. E dor tão grande é essa da traição.
Depois de sentir a dor da traição, Jesus sofre a dor da solidão. Só reza no jardim das Oliveiras. E aqueles que deveriam vigiar, simplesmente adormecem, deixando-O sozinho na dor.
O momento da traição é confirmado e o Santo Homem, que sempre fugiu das rebeliões e apregoou a paz, é amarrado e tratado como se de um criminoso se tratasse. Traído por trinta moedas de prata.
Presente ao povo é negado. Serão estes homens que O negam e pedem a sua morte os mesmos que gritavam hossanas, que colocavam as suas capas no chão para a sua passagem? E aquele que tenta ser justo manda-O açoitar. Tantas as dores, tantas as lágrimas que Aquele que irá morrer para salvar, sofreu e derramou. E como se ainda não bastasse, gozado pelos homens. Tamanha terá sido a sua dor. Mas o Homem calou e ninguém saberá como enfrentou tudo isto.
Agora carrega a cruz, cai ao longo do caminho. Mas mesmo assim dirige palavras de conforto aos que por Ele choram. E tamanho é o seu amor que, mesmo na dor da cruz, perdoa. Esquece a dor que sente e ama o próximo. Oh santas e veneráveis lágrimas, oh imenso e eterno amor.
E este Homem, que tanto sofreu, que tanto amou e perdoou, rapidamente é descido ao sepulcro. Grandes foram as suas dores, grandes foram os seus actos.
E em tudo isto Cristo nos ensina. E em tudo isto Cristo se torna exemplo. Sofre sem protestar, guarda no silêncio a sua dor, ama e perdoa aqueles que são causadores da sua dor.
Esta é a Semana Maior, de acontecimentos e dor, de exemplo e ensinamento.




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

terça-feira, 19 de março de 2013

Festa de São José


A preparação para este dia começara já há muito. Hoje era dia de festa no Seminário Menor: dia do Patrono São José.
Quando pela manhã acordava ao som das palmas, acordava num ambiente de festa.
O dia de aulas corria com a maior normalidade, ou com a maior pressa de que o mesmo acabasse. Era dia de JPS e isso poucos são os que entenderão.
Chegados ao Seminário depois das aulas, a preocupação centrava-se em ultimar os últimos pormenores  vestir a melhor roupa, ter tudo pronto para quando chegasse a hora da missa.
Os colegas do Seminário Maior chegavam, bem como outros convidados, entre os quais o Senhor Bispo.
As portas do museu do Seminário eram abertas e isso convidava sempre a um pequeno passeio, por entre memórias da velha casa. A paramentação era realizada também ali.
Dentro da bela Capela, por entre vitrais, arcos e pinturas, afinavam-se as últimas vozes.
É chegada a hora da missa, as velas dos castiçais são acesas, a procissão começa a formar-se no corredor.
Com toda a pompa, circunstância e alegria começava a cerimónia em honra do Patrono. Todos os cânticos poderiam mudar, mas um era impossível  o hino do Seminário. Tradição ou hábito, no final da missa cantava-se sempre este cântico em honra de São José. Não me falha uma única palavra, uma única nota.
«Ó Grande Santo,
que na vida humilde,
foste chamado pai do Salvador.
No céu de glória,
onde estais gozando,
mostrai-vos sempre nosso protetor.

Cá na terra há dor,
há pranto e terror.
Intercedei por nós junto de Deus.
Dai-nos a paz e o reino dos céus.
Dai-nos a paz e o reino dos céus.»

Após a missa seguia-se o jantar, animado como sempre.
A noite terminava com um espaço de diversão maior ou um filme.
Apesar de não estarmos ao lado dos nossos pais nesse dia, era um dia de grande felicidade. Era a nossa festa, a festa do guardião do guardião de Jesus. Era um dia sem salão de estudo (ahahah).
Assim era há uns bons anos atrás, naquela casa em Fornos de Algodres, onde cresci e fui tão feliz.
Um feliz dia de São José e dia do Pai. Que seja um dia propício para recordar os nossos pais, para recordar os tantos sacrifícios que fizeram por nós, os momentos de amor que partilhamos e a sua importância para nós.
Pai, um feliz dia.




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quinta-feira, 14 de março de 2013

Papa Francisco

Desde Terça-feira que a ansiedade tomou conta dos nossos corações. Desde o "extra omnes" que os nossos olhos se fixaram naquela chaminé, esperando o fumo branco.
Como seria de esperar, a primeira vez que a chaminé dá sinais de vida, é anunciado ao mundo que os cardeais ainda não haviam escolhido o novo timoneiro da Igreja.
Na manhã de quarta o coração começou a bater mais forte, com a incerteza da cor do fumo que sairía da Capela Sistina. Mais uma vez o fumo foi negro, mas a esperança e a ansiedade permanecem. Algo diz que será este o dia, 13 de Março, que o sucessor de Bento XVI será apresentado ao mundo.
Pelas 18:06 a chaminé voltou a dar sinais de vida. Primeiro um fumo meio cinzento, deixando o mundo na incerteza. Mas essa rapidamente foi dissipada e na praça de São Pedro ouviram-se os sinos em simultâneo com as palmas de todos aqueles fieis que ali se haviam juntado. O novo Sumo Pontífice havia sido eleito e agora só restava esperar para saber quem é que os cardeais escolheram. Longos foram os minutos de espera. Os olhos centravam-se na varanda do palácio papal. As cortinas vermelhas permaneciam fechadas até que se abriram para o tão desejado anúncio. João Mário Bergoglio foi o homem escolhido para guiar a Igreja de Cristo.
Humildemente apareceu ao mundo. Francisco saudava os fiéis, num misto de nervosismo e simplicidade.
Logo pelas suas primeiras palavras, Francisco conquistou os nossos corações. Rezou pelo seu antecessor, pediu ao mundo para rezar por ele e, no fim, deu ao mundo a benção.
Tudo neste papa era diferente: um papa não europeu, da Argentina; um nome nunca utilizado: Francisco; um jesuíta. Surge ao mundo sem a tradicional mozzeta, sem a estola papal colocada. Rompe com o hábito de cantar a benção Urbi et Orbi. Retira a estola e beija-a. Nada na sua aparição foi teatral, mas tudo natural.
E este Francisco marca uma nova era. Um nome que os relembra o jovem de Assis, o homem que foi Francisco Xavier e, como diria um amigo, o simples Beato da Cova da Iria.
Que espera agora o mundo deste homem? De que forma irá guiar a Igreja? Não se sabe. Mas este homem de sorriso fácil, que faz lembrar um pouco João XXIII, irá deixar-se guiar pelo Espírito Santo e levar a Barca de Cristo para o melhor porto possível.
Papa Francisco, estamos aqui para te acolher, rezar por ti e deixarmo-nos guiar. Francisco, que o teu pontificado seja, como o dos teus antecessores, um pontificado que nos marque.


Ad majorem Dei gloriam!

Ismael Sousa

sábado, 9 de março de 2013

Domingo Laetare


Hoje é o Domingo Laetare, ou seja, o Domingo da Alegria. É-o porque a antífona de entrada deste Domingo inicia-se com «Laetare, Ierusalem et conventum facite omnes qui diligites eam; gaudete cum laetitia, qui in tristitia fuistis; ut exsultetis, et santiemini ab uberibus consolationis vestrae.» (“Alegra-te, Jerusalém, reuní-vos vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria; saciai-vos com a abundância de suas consolações.”) [Isaías 66, 10-11]
É-o porque se aproxima a Páscoa do Senhor. Por estas razões, visivelmente, há também algumas alterações como a cor do paramento do celebrante: o roxo é trocado pelo rosa. Contudo esse costume tem-se vindo a perder, optando por continuar com o roxo.
Mas esta mudança da cor do paramento deu origem a uma tradição: a benção de rosas. Era costume, neste Domingo da Alegria, ou das Rosas, benzerem-se rosas. No século X o Papa ia do Palácio de Latrão à Basílica de Santa cruz de Jerusalém, abençoando as pessoas com uma mão e na outra uma rosa de ouro, oferecida no fim ao Presidente de Roma como agradecimento pelas suas obras. Daquí advém, também, o significado da oferta da Rosa de Ouro a diversas entidades e locais. As mesmas são benzidas neste mesmo Domingo em Roma.
O Evangelho deste Domingo fala-nos da parábola do Filho Pródigo (ou Pai Misericordioso). Quanto a este tema, nada de novo vos irei dizer. Contudo gostaria de partilhar convosco a minha reflexão.
Em primeiro lugar convido a olhar o filho mais novo. Depois de ter crescido, certamente, na abundância de riqueza e do amor de seu pai, este filho decide partir. Bem, todos conhecemos a história. Este filho, convencido de que tinha tudo, pega na riqueza e parte para longe de casa. Parte para longe da protecção do pai. E cai em desgraça. Vendo-se nela, relembra o passado e reconhece que tudo tinha junto do pai. Reconhece que pecou, pede perdão aos céus e a seu pai; assume o seu erro, reconhece-o perante o mundo. Este filho somo-lo também nós, muitas vezes. Somo-lo porque, pensando que tudo sabemos sobre Deus, que Ele sempre está a nosso lado, desviamo-nos do Seu caminho para o caminho do pecado. E, muitas vezes, reconhecêmo-lo. Reconhecêmo-lo e procuramos a reconciliação, aquilo que nos “coloca” de novo no caminho de Deus.
A imagem do pai não precisa de legenda. A imagem do pai é a de Deus, é a imagem do Amor. Imagem do Amor que tudo perdoa, que a todos acolhe. É a imagem do Perdão que acolhe de braços abertos todos aqueles que humildemente vão até Ele. É o Pai que se alegra, que festeja pelo seu filho que reconhece o seu erro, que volta e pede perdão, pois «há mais alegria no céu por um só pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de perdão» (Lc 15,7). Este é o Deus de Abraão, Isaac e Jacob, bem como o Pai de Jesus que, pela sua morte e ressurreição, nos tornou Seus irmãos. Deus é Amor, Deus é Perdão, Deus é Misericordia, Deus é Pai que perdoa e se alegra.
A terceira personagem é o filho mais velho. Este também se pode identificar com cada um de nós. Nós, cristãos, muitas vezes não compreendemos este perdão de Deus, achando-nos como rectos. E apontamos o dedo aos outros. E rejeitamo-los. Entristecemo-nos com a alegria dos que “re-abriram” os olhos. E neste acesso de inveja, ajoelhamo-nos, revoltamo-nos contra Deus. Tomamos o papel de Job. E ceguinhos, não compreendemos a grandeza do amor de Deus, da infinitude do seu perdão e misericordia.
Num plano geral, sem aprofundarmos, esta parábola parece dizer-nos que é melhor ser transviado do que justo. Mas nem tudo pode ficar pela superficialidade. É necessário aprofundar. E Jesus ensina, uma vez mais, a amar o próximo, mesmo que seja um pecador. Jesus aponta-nos o caminho da felicidade: alegrarmo-nos pelos pecadores que se arrependem, por aqueles que (re)conhecem Deus e a Ele se entregam de corpo e alma.
Este é o Domingo da Alegria: a alegria pelo que se liberta do pecado, pelo que se entrega a Deus, pelo justo, por aquele que mergulha no Amor de Deus.
Todo este texto pode não ter valido nada, mas ao menos que percebam que nada é melhor que o amor de Deus, nem que seja preciso dizer: «Pai, pequei contra Ti e contra os céus. Não mais sou digno de ser chamado Teu filho». Então percebemos Suas palavras: «Filho, estavas morto mas voltaste à Vida»!
Um Santo e Alegre Domingo!




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quarta-feira, 6 de março de 2013

Passos...


Primeiro a alegria, o júbilo, o êxtase. O coração a bater mais forte, as pernas a tremer. O nervosismo. É o sorriso que rasga a cara, os olhos que brilham.
É o absorver de cada minuto, de cada gesto e palavra. É desejar que o tempo não termine. Sentir o carinho, a dedicação. Sentir a vontade, a energia de ali estar. De partilhar aquele momento. São olhares, são sentimentos. É tudo aquilo porque ansiamos naquele momento.
Depois vem o adeus. A distância. O brilho a desaparecer dos olhos, o sorriso a esbater-se. O coração acalma-se, o nervosismo dissipa-se.
É uma forma de transe, onde não se sente, não se pensa, não se reage. Ou talvez devesse ser assim: não reagir.
E, assim, se entra na tristeza. A mente remete-se para as memórias, o coração para a saudade.
O mau humor aparece. A mania de embirrar com tudo e com todos. E, tantas vezes, aqueles que estão ao nosso lado sofrem com a nossa mudança de humor. Até o máximo da perfeição parece imperfeito. Tudo irrita, até a coisa mais simples.
A vontade de ficar completamente só aparece de mansinho, tomando forma, crescendo, até se apoderar. A luta enorme de evitar as lágrimas em frente aos que nos rodeiam. Lutamos, lutamos, até que chega a oportunidade perfeita para nos retirarmos de tudo, de fugir do mundo. A oportunidade de nos sentarmos naquele cantinho, meter a cabeça entre as pernas e chorar… chorar!
Puxamos da estante o álbum, sopramos-lhe o pó e, por fim, desfolhamo-lo. Os dedos percorrem os traços dos rostos, as bordas das fotos, os momentos imortalizados.
Página e mais página; memória mais memória. E todos aqueles que já partiram, e todos aqueles que estão longe, e todos aqueles que desapareceram da nossa vida.
Todo um passado vivido. Coisas ficaram por fazer, palavras ficaram por dizer. E tantas vezes tivemos oportunidade de o fazermos, tantas vezes tivemos oportunidade de as dizer. E pensámos que aquele momento não era o último, que muitos mais existiriam. E fomos adiando, fomos deixando de lado. Mas um dia mais tarde arrependemo-nos. E aí é tarde…
E quando reclinamos a cabeça, esperamos voltar a sentir tudo o que é bom, sem pensar no depois. Esperamos superar tudo o que é mau, prolongar o que é bom.
Mas no fim, na raiz da nossa esperança a causa de existir, de ser-se recordado, de ser amado...
São passos a dar...




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Obrigado Bento!


Estes tempos que temos vivído têm sido tempos de memórias. Tempos em que recordamos o pontificado de Bento XVI, do testemunho que deu, dos ensinamentos que transmitiu e na força com que carregou a sua cruz.
Muito se tem escrito nestes últimos tempos sobre o exemplo deste homem, sobre a coragem de resignar. Este é mais um desses textos.
Não podemos deixar de esquecer o grandioso dia 19 de Abril do ano 2005, quando vímos o fumo branco sair da chaminé da Capela Sistina, anunciando ao mundo a eleição do novo Papa. Não consigo esquecer as tão célebres palavras, ainda estranhas para mim, pronunciadas na janela do Vaticano: «Annuntio vobis gaudium magnum; habemus Papam». E após estas palavras, um nova era começava na Igreja. Aquele que seria um Papa de transição, tornou-se um Papa único, que começava a cativar o coração dos cristãos.
Olhado muitas vezes com desconfiança, o humilde servo de Deus assumia a sua cruz e tornava concretas as palavras da sua primeira mensagem: «Ao escolher-me para Bispo de Roma, o Senhor quis-me para seu Vigário, quis-me “pedra” sobre a qual todos possam apoiar-se com segurança». E nele todos nos apoiámos. Dele esperámos palavras certas quando a Igreja era atacada. Dele esperámos o exemplo, esperámos o testemunho. E não nos dececionou.
Ao fim de quase oito anos de pontificado, olhamos para trás e vemos que a sua cruz não foi leve. Foram os ataques por causa das suas palavras de verdade, os casos de pedófilia, entre tantos outros que nem vale enumerar. E, humildemente, olhou os cristãos nos olhos, pediu-lhes deculpa com lágrimas no olhos, sem ter culpa de nada, mas assumindo essa culpa para si.
Renuncias, Bento. Uma vez mais. E a tua vida foi feita de tantas renuncias. Renuncias por amor, por saberes que não és capaz de continuar a orientar a Igreja, porque as forças já não são de um jovem, porque a idade é já avançada. Renuncias porque desejas um novo rosto, uma nova energia para a Igreja.
Hoje faz-se história. Ao fim de seiscentos anos, um Papa renuncia e deixa a cadeira de Pedro vazia. Até nisto o humilde servo de Deus foi exemplo.
Vamos sentir saudades de tuas, Bento. Saudades de te ver sorrir, de ouvir as tuas palavras, de acolher os teus ensinamentos. Vamos ter saudades tuas, Bento.
E hoje abres os nossos corações para acolher aquele que virá a ser o próximo Papa, para o amarmos como te amamos a ti.
Obrigado Bento! Obrigado por tudo!




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

De novo!


De novo o sol se põe,
De novo as nuvens cobrem as estrelas.

De novo a noite assombra,
De novo o dia anseio.

De novo a lembrança dói,
De novo a memória faz sorrir.

De novo a lágrima cai,
De novo o sorriso se esboça.

De novo a saudade ataca,
De novo o medo assola.

De novo os olhos brilham,
De novo os olhos se fecham.

De novo volto a sonhar,
De novo conheço a realidade.

De novo o mundo sorri,
De novo me fecho sobre mim,
De novo me afasto do mundo.

De novo tudo parece tomar sentido,
De novo perdemos o rumo.

De novo me torno em um louco,
De novo escondo o mistério em palavras.

De novo sou eu,
De novo uma alma magoada.

De novo tudo é absurdo,
De novo muito perde o sentido.

De novo, boa noite…


Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Quaresma 2013


«Chegaram os dias de penitência, expiemos nossos pecados e alcançaremos misericórdia.»

Caros leitores,
Iniciamos uma vez mais o Tempo da Quaresma. E com ele inicia-se um tempo propício para analisar a vida, a forma como a temos orientado e escutar os propósitos de Deus para cada um de nós.
São tempos dedicados ao jejum, à penitência e abstinência. Tempo de nos desligarmos das coisas terrenas e de nos ligarmos às coisas celestes.

Este ano, na sua Mensagem para a Quaresma, Sua Santidade, o Papa Bento XVI, escreve-nos sobre a relação entre a fé e a caridade, sob o título “Crer na caridade suscita caridade”.
Ora, nesta que é a sua última mensagem, Bento XVI convida cada cristão, nesta Quaresma do Ano da Fé, a meditar na relação entre a fé e a caridade, resumida em quatro pontos: 1. A fé como resposta ao amor de Deus; 2. A caridade como vida na fé; 3. O entrelaçamento indissolúvel de fé e caridade; 4. Prioridade da fé, primazia da caridade.

No primeiro ponto é-nos apontado o caminho para o amor de Deus e em como a fé no «Deus vivo é um caminho para o amor», esse que nunca está «”concluído” e completado».
Através de várias citações da sagrada escritura, Bento XVI demonstra como a fé, caminho para o amor, se relaciona com a caridade:

«A fé é conhecer a verdade e aderir a ela (cf. 1 Tm 2, 4); a caridade é «caminhar» na verdade (cf.Ef 4, 15). Pela fé, entra-se na amizade com o Senhor; pela caridade, vive-se e cultiva-se esta amizade (cf. Jo 15, 14-15). A fé faz-nos acolher o mandamento do nosso Mestre e Senhor; a caridade dá-nos a felicidade de pô-lo em prática (cf. Jo 13, 13-17). Na fé, somos gerados como filhos de Deus (cf. Jo 1, 12-13); a caridade faz-nos perseverar na filiação divina de modo concreto, produzindo o fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5, 22). A fé faz-nos reconhecer os dons que o Deus bom e generoso nos confia; a caridade fá-los frutificar (cf. Mt 25, 14-30).»

Se por vezes confundimos caridade com solidariedade ou mera ajuda humanitária, Sua Santidade esclarece-nos que «a maior obra de caridade é precisamente a evangelização “ao serviço da palavra”» repartindo o pão da Palavra de Deus, tornando-o «participante da Boa Nova do Evangelho», introduzindo-o no relacionamento com Deus.

Findo, convidando-vos a perderem alguns minutos na leitura desta bela mensagem. Faço votos para que tenhais uma Santa Quaresma e que aproveitem para ir ao “deserto” e encontrarem-se com Deus.

Aos meus amigos seminaristas que hoje iniciam o retiro quaresmal, votos de um frutuoso tempo de reflexão.




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

domingo, 20 de janeiro de 2013

Devaneio!

Memórias, passadas ou presentes, são sempre memórias.
Recordações, não importa se boas ou más, serão sempre recordações.
E nada ou tudo importam, são parte da nossa vida, parte do que somos.
E tantas vezes mergulhamos os olhos, mergulhados em lágrimas, nas páginas de um livro, nas folhas de um caderno.
E ninguém as vê cair, e ninguém sabe o seu significado. Serão de dor, de alegria, saudade ou plena nostalgia? E tudo isto é parte de nós, e nós somos parte de tudo isto.
E as pessoas, que tantas vezes recordamos ou simplesmente nos lembramos, passaram pela nossa vida, marcando-a, positiva ou negativamente. E as pessoas que tanta falta nos fazem, ou simplesmente nada significam. E eu, significante ou simples memória, escondo as lágrimas e os sorrisos, em palavras e silêncios.
E tudo aquilo que somos ou aquilo que nada somos, somente reside nos nossos pensamentos. Porque somos ou não somos, meros transeuntes de um passeio que começa num ápice e termina num pontão desconhecido, algures neste mundo tão conhecido ou tão misterioso.
E as nuvens no alto céu, sobem e descem, cobrem e descobrem o céu. Mas o sol, esse astro flamejante, continua a brilhar no alto firmamento, no espaço longínquo, no universo tão desconhecido. Mas ele continua lá, a brilhar continuamente. E chorar por deixar de o ver, de nada vale se por consequência perco o brilho das estrelas, o cantar do luar.
E tudo ou nada somos, num mundo de fantasia e de sonhos. E tudo ou nada somos, num mundo tão só nosso e de ninguém!



Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Retalho de vida!

Recordar é viver e nunca é tarde para revivermos.
Hoje chegou-me um video que me fez voltar à minha infância.
Corria o ano de 1996 quando a imagem peregrina da Imaculada Conceição de Vila Viçosa chegou a terras de Lafões. Recordo ainda os preparativos para esta festa, a alegria em nossos corações.
Hoje revi um filme desse acontecimento. Deixo-vos o filme.


Peço desculpa pelo erro, mas não se deve ler Santa (Sta), mas sim Imaculada.
É bom resgatar um bocado do nosso passado e poder revê-lo 16 anos depois.

Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa