quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Aquela lareira...

Enquanto escrevo algumas palavras, acendo o meu cachimbo. O fumo sobe deixando para trás aquilo que já foi.
Uma vez mais o meu pensamento dispersa-se deixando-me sozinho. Gostaria de, juntamente com ele, viajar e deixar tudo para trás.
Viaja o meu pensamento pelo passado trazendo-me aos olhos lembranças de uma vida.
Recordo a infância, a juventude, a adolescência...
Os Verões passados, as lareiras e salamandras em que me aqueci no Inverno.
Recordo-me sobretudo da lareira da minha velha casa...
Uma simples lareira, de tijolo burro, com fotos, pequenos embelezamentos e dois bancos, um de cada lado.
Nesses bancos sentavam-se os meus pais. Entre eles, sentados no chão e de pernas cruzadas, estava eu e o meu irmão mais velho.
Ali, em frente àquela lareira aprendemos muita coisa.
Aprendemos as catequeses que nos formaram como cristãos; as palavras que não sabíamos pronunciar correctamente e as que viríamos a aprender.
Em frente àquela lareira o meu pai desenhava-nos um índio, fumando o seu cachimbo e largando dele bolas de fumo.
Ah, que perfeição... Para mim não havia melhor desenho que aquele. Às vezes pegava em duas ou três pequenas folhas e desenhava o índio nelas. Na primeira folha desenhava-o sem bolas de fumo. Na segunda já com algumas, e na terceira completava o desenho. Depois, num passe de magia, fazia as bolas de fumo "subirem". Que alegria se esboçava no nosso rosto.
Ali, em frente àquela lareira, desembrulhamos presentes, ouvimos canções e aprendemos a cantá-las.
Ali ouvimos histórias, fábulas, contos, e outras coisas tantas.
Em frente àquela lareira fomos educados, crescendo com valores e com um sentido para a vida!
Naquela lareira pendurávamos a "botinha" pelo Natal, esperando alguma coisa. Colocávamos as cartas ao "Pai-Natal", os Ovos da Páscoa, as fotos de família, os postais que recebíamos no Natal!
Dos meus olhos saem lágrimas de nostalgia. Nostalgia daquele tempo, daquelas lições, daquelas memórias que em mim ficaram.
Já lá vai o tempo em que a família se reunia diante da lareira para estarem algum tempo juntas; para rezarem; ensinarem; serem uma família.
Muitas vezes penetrava com os olhos no fogo daquela lareira esquecendo-me de tudo o que se passava à minha volta.
Poderia chover cá fora, chover "Que Deus a dava" que para mim era-me indiferente, estando eu diante daquela lareira que tantas vezes foi local de refúgio.
Nunca me esquece as alegrias que ali vivi. Os sorrisos que dali saíam, das grandes lições que lá aprendi.
Recordo alguns poemas, que mais tarde na presença dos "cinco", ali se recitavam. Recordo o gosto que os meus pais me incutiam, tanto pela música, pela escrita, leitura e pela arte.
Recordo ainda as vezes que ao colo de minha mãe ou de meu pai nós adormecíamos...



Ismael Sousa

2 comentários:

  1. Um dia destes escreves um livro de memórias! Eu compro um (se não for muito caro) e ponho-me na fila para autografares! ^^
    Vê lá se deixas de fumar cachimbo! Faz-te mal!lol! ^^
    Abraço

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  2. Hum eu concordo com o Cristóvão...
    Acho que devias escrever um livro de memórias
    Eu também compro, seja caro seja barato loool, e estarei em primeiro na fila, para o autografo :)

    Muito bonito o texto.... Continua assim

    beijo

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