domingo, 21 de novembro de 2010

Em ti há sete torres...

Olho pela janela e tudo o que vejo é a cidade. Tudo o que está para além da quarta torre parece não existir.
O tempo está chuvoso, transmitindo alguma tristeza.
Estou no meu quarto, deitado sobre a cama e a pensar no que se passa lá fora.
Decido então ir passear até lá fora.
Passo pela primeira torre. As ruas estão desertas e não se encontra ninguém corajoso o suficiente para sair.
Ao passar a terceira e quarta torre vejo uma mulher que pede. Penso que seja romena, ou algo assim... Pede uma pequena esmola, à porta da igreja, esperando algum auxilio. Ainda que ninguém lhe dê nem os pretos que tem no bolso, ela agradece. Eu fui mais um dos que, passando por ela, a desprezou, a achincalhou, a enganou.
Sigo o meu pequeno passeio pela rua da "Formosura". Enquanto caminho vou cantarolando alguns refrões... Assobio essa melodia bem alto. Subo até à quarta e quinta torre onde, apesar da chuva que cai, admiro o horizonte, lembrando o que ali já aconteceu. Ao longe, mesmo sem a ver, sei que está a minha terra natal! Aquele que eu muitas vezes recordo. Aquela onde cresci!
Viro-me e no sentido oposto sei que está aquela velha Vila que tanta saudade me faz ter. Nela me formei como Homem, cresci, aprofundei a minha vida.
Olho agora as últimas torres da cidade: sexta e sétima.
Entre aquelas torres, ainda que não o pareça, já muita história se fez. Nela falaram Santos, Reis assistiram a missas, catecumunos foram baptizados, entre outras coisas tantas...
Volto para a primeira torre...
No caminho retomo aos meus pensamentos.
Penso em como será possível? Viver numa comunidade e andar sozinho... É incrível...
Contudo, nem tudo é mau... Penso que por vezes a solidão é bem melhor que a presença. Viver vinte e quatro horas sobre vinte e quatro sempre com as mesmas pessoas pode ser cansativo, pode levar a que deixemos de conviver, passando simplesmente a viver. Pode levar a que eu não me importe com o outro, que o deixe de parte levando, assim, ao favoritismo.
Mas, e como há sempre um mas, eu não quero viver assim. Eu vivo com todos de forma igual!
Simplesmente não sou capaz de ir onde não sou convidado, a estar e ser gozado, a amar e ser odiado.
Muita coisa pode mudar em mim, mas isto é algo que não muda! Não deixarei de viver a minha vida. Só não estou para ser motivo de riso, ser substituto, ser o último!
Um sorriso se esboça na minha cara, levando-me a rir... A rir alto no meio da rua!
Recordo o fado da ilustríssima "Rainha" do Fado em que diz: "Sabe-se lá amanhã o que virá, um breve disfarce, uma vida honrada e boa, ninguém sabe quando nasce, para o que nasce a pessoa"
À memória vem-me aquela ilustre foto de quatro amigos... Penso... e concluo... Ainda que cada um ande por seu lado, a amizade é a mesma.




Ismael Sousa

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