“Hoje fechei a porta ao mundo”; “Hoje o mundo fechou-se para mim”.
Findei esta semana uma leitura que me acompanhava há alguns dias, e que não era capaz de terminar aquele livro.
É interessante quando começamos a ler um livro e nos identificamos muito com ele.
E foi o que aconteceu comigo… Comecei por ler esse livro e tive medo. Via-a, naquelas palavras, a minha vida. Em tudo o que o autor dizia eu vi-a a minha vida.
Um monólogo consegue provocar-nos essa estranha sensação.
Deixei o livro de lado e não lhe toquei. Assolava-se em mim o medo do que poderia continuar a ler… O meu amor à leitura e a minha sede de beber um pouco mais de literatura, perderam-se. Não sentia, em mim, vontade de ler.
Ah, como é possível que um simples objecto inanimado, com alguns borrões negros, logre com o temor de um coração.
Eis que decidi vencer este medo. “Afinal, pensava para mim próprio, não passam de palavras de um homem que está já debaixo de um monte de terra. Aquilo é pura ficção, e a minha vida não é, e nem pode, ser pautada por um livro.”
Retomei o livro e, após algumas páginas, o medo voltou a mim.
Dizia o autor:
“Porquê e para quê, no fundo, quero escrever? Se não é para o público, poderia recordar tudo mentalmente, sem pô-lo no papel, não é verdade?
Pois é, mas no papel a coisa parece soar com mais dignidade. Há nisso algo de imponente, o juízo de mim mesmo é mais intenso, há mais requinte no estilo. Além disso, é possível que o processo de escrever me alivie. […] A leitura, escusado será dizê-lo, ajudava-me muito – apaixonava-me, preenchia-me, torturava-me.”
Como será possível que, alguém consiga descrever exactamente o que sinto. Nunca tive contacto com este autor, pois se assim o fosse, estaria já morto e não estava aqui a escrever estas palavras. Depois, só comecei a ler as suas obras agora. Poderia, se lesse este autor há muito tempo, ter vivido sob sua influência. Mas não.
A cada página que virava, revia a minha vida. Revia-a, num homem, que me parecia em muito eu.
Pode ser confuso, mas isto era o que eu sentia ao ler este livro. Era perturbante, confuso.
A páginas tantas, deparei-me com o seguinte excerto:
“A minha vida era já lúgubre, desordenada e solitária até à selvajaria. Não convivia com ninguém, evitava mesmo falar e cada vez mais e mais me enfiava no meu buraco. […] Fazia até por não olhar para ninguém. […] Torturava-me ainda outra circunstância: o facto de, precisamente, ninguém se parecer comigo, e de eu não ser parecido com ninguém…”
Ah, como foi torturante ler estas palavras… Eu sentia-me realmente naquilo tudo…
À medida que ia acabando o livro, desejava que ele tivesse mais mil folhas. Já não o detestava. Sentia que era, para mim, um aviso. Uma previsão do meu futuro se assim continuasse.
Mas as folhas acabaram, e todo o meu ser estremeceu.
Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa
A leitura é um mundo de sonho, faz-nos ganhar asas e voar.
ResponderEliminarO céu é o limite, na literatura.
Só faz bem ^^
Abraço