Navego num barco sem rumo, à
deriva no mar. A revolta do mar tempestuoso faz oscilar toda a minha barca.
Perdi-me do mundo, naufragando neste mar num tempo tão incerto que já nem o sol
nem a lua conseguem dizer.
Do meu norte perdi a Polar. O céu
inunda-se de estrelas, impedindo-me de descobrir a norte. De dia o sol
indica-me o seu berço e a lua, durante algumas horas da noite, o seu sepulcro. O
firmamento roda por cima da minha cabeça. E eu neste belo espectáculo,
sentei-me como espectador atento. E as noites e os dias passaram. A aurora
boreal fez-me companhia durante algumas noites. Mas, sentado como espectador
atento, perdi-me no mar da vida.
Agora, que tento encontrar o
norte, perco-me, remando para o desconhecido. A noite já nem sei se é quente ou
fria.
Procuro no horizonte a luz do
farol, mas nem sei se remo para junto dele, se remo para longe dele.
O mar continua revoltado, fazendo
oscilar cada vez mais a minha barca, salpicando o seu interior com a sua gélida
água.
Enrosco-me no cobertor que me tem
aquecido dia e noite, da chuva e do vento. Deito-me na barca, entregando o meu
destino à sorte. Fecho os olhos e adormeço com a esperança que o mar se acalme.
A chuva começa a cair e eu vejo
próximo o meu fim.
Um sol brilhante ergue-se no céu,
e um enorme areal reflecte o seu brilho. Encontro-me deitado sobre a areia. Não
sei se é sonho se é ilusão. Não sei se é delírio ou realidade. Fecho na minha
mão um punhado de areia. Sinto os seus grãos a fugirem-me por entre os dedos. O
mar está calmo e de um azul cristalino nunca visto por mim. Tento acordar deste
sonho, desta ilusão. Mas a minha mente diz-me que é pura realidade. Levanto-me
e olho em minha volta. A praia está deserta. Nela só residem as rochas e o
segredar do mar à areia. Tudo se torna belo como um dia assim esperei. Ah, só
pode ser ilusão, mera ilusão. Nada mais pode ser.
Subo as arrábidas em busca de um
sinal de vida. Procuro o ponto mais alto, mas tudo o que vejo é só natureza. Do
ponto mais alto, vejo a ilha deserta e sem sinal de vida.
Uma vez mais estou só, rodeado
pelo silêncio de uma ilha perdida no mar, por uma ilha esquecida pelos homens.
Foto de Miguel Claro |
Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa
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