quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Barca...


Navego num barco sem rumo, à deriva no mar. A revolta do mar tempestuoso faz oscilar toda a minha barca. Perdi-me do mundo, naufragando neste mar num tempo tão incerto que já nem o sol nem a lua conseguem dizer.
Do meu norte perdi a Polar. O céu inunda-se de estrelas, impedindo-me de descobrir a norte. De dia o sol indica-me o seu berço e a lua, durante algumas horas da noite, o seu sepulcro. O firmamento roda por cima da minha cabeça. E eu neste belo espectáculo, sentei-me como espectador atento. E as noites e os dias passaram. A aurora boreal fez-me companhia durante algumas noites. Mas, sentado como espectador atento, perdi-me no mar da vida.
Agora, que tento encontrar o norte, perco-me, remando para o desconhecido. A noite já nem sei se é quente ou fria.
Procuro no horizonte a luz do farol, mas nem sei se remo para junto dele, se remo para longe dele.
O mar continua revoltado, fazendo oscilar cada vez mais a minha barca, salpicando o seu interior com a sua gélida água.
Enrosco-me no cobertor que me tem aquecido dia e noite, da chuva e do vento. Deito-me na barca, entregando o meu destino à sorte. Fecho os olhos e adormeço com a esperança que o mar se acalme.
A chuva começa a cair e eu vejo próximo o meu fim.
Um sol brilhante ergue-se no céu, e um enorme areal reflecte o seu brilho. Encontro-me deitado sobre a areia. Não sei se é sonho se é ilusão. Não sei se é delírio ou realidade. Fecho na minha mão um punhado de areia. Sinto os seus grãos a fugirem-me por entre os dedos. O mar está calmo e de um azul cristalino nunca visto por mim. Tento acordar deste sonho, desta ilusão. Mas a minha mente diz-me que é pura realidade. Levanto-me e olho em minha volta. A praia está deserta. Nela só residem as rochas e o segredar do mar à areia. Tudo se torna belo como um dia assim esperei. Ah, só pode ser ilusão, mera ilusão. Nada mais pode ser.
Subo as arrábidas em busca de um sinal de vida. Procuro o ponto mais alto, mas tudo o que vejo é só natureza. Do ponto mais alto, vejo a ilha deserta e sem sinal de vida.
Uma vez mais estou só, rodeado pelo silêncio de uma ilha perdida no mar, por uma ilha esquecida pelos homens.


Foto de Miguel Claro

Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

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