quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Pátria minha!


A densa escuridão da noite e o frio das noites invernais cercam-me no meio do nada! Para os cimos dos montes caminhei, para toda a minha terra ver. Toda a minha nação, o meu país amado esteve sobre o meu olhar. As terras de trovadores, de poetas e cantores, de heróis que partiram em busca do mundo, de reis e de santos, de homens bons e maus, estiveram aqui tão perto. Nas terras ficaram as manchas do sangue, do suor, as marcas das passadas, dos cavalos, dos carros., das lágrimas de alegria e de tristeza. Nos cumes das árvores as cantigas de amor, de revolta e de orgulho. Dentro das igrejas, a marca da nossa fé.
Mas agora chega a noite e ouvem-se os gemidos dos choros por aqueles que partiram, pelos amigos, noivos e noivas, filhos, pais… As preces que mal se escutaram por aqueles que estavam lá longe, por aqueles que partiam em busca de uma vida diferente.
Nas tascas, a velha guitarra trina, a voz dos cantores ressoa. Cantam o amor a um país que é o seu. Cantam a saudade.
Nas eiras, perdidas pelos socalcos, pelas terras planas, o cantar alegre de desfolhar.
No cume dos montes ouço a voz do povo ao qual pertenço, a voz do meu povo. Sou filho das revoluções, das guerras, de entre tantas coisas… Não, não as vivi, mas sou o fruto daqueles que as viveram.
A lua ergue-se esbelta no céu, e o clamor da terra vem até mim. Uma voz cansada pelo tempo, cansada de guerras e de delírios, de dor e angústia faz-se ecoar. Clama por paz, por amor, por liberdade. Clama por ser reconhecida, por ser amada, por ser exibida com orgulho. Chora por aquilo que dizem dela, por aqueles que a esqueceram, por aqueles que a maltratam e se envergonham dela.
Mas o seu consolo é grande: as vinhas do Douro cantam-lhe canções; as imponentes construções agradecem-lhe; o mar acarinha-a.
Do norte ao sul, de este a oeste, eu orgulho-me dela, da minha terra.
O sol nasce no horizonte, beijando os seus cumes e enchendo todas as suas planícies de luz. Esta é a minha terra, esta é a minha pátria.
Mas a voz do homem sufoca toda esta beleza. O homem exige para si aquilo que não tem direito. O homem avança e destrói. Todo um passado deixou de existir. Toda a grandeza, toda a beleza. Agora, já nada disso importa. Já nada disso é relevante.
Mas em mim nasce a esperança do homem voltar a contemplar as montanhas de Tráz-os-Montes, do sabor do sumo do Douro, da historicidade e cultura das Beiras, das cantigas do Alentejo e das águas do sul. Em mim nasce a esperança de voltar a ver erguida a minha terra, a minha pátria!




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

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