sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Lágrima


Sentei-me na varanda de minha casa, sob o luar da lua crescente e do brilho das estrelas.
Uma suave brisa passa por mim. Perguntei-lhe onde encontrara tamanha doçura, tamanho amor e sorriso. Mas a brisa suave não me respondeu e eu perdi-me nos meus pensamentos. De novo a suave brisa passou por mim e eu perguntei-lhe qual a razão do seu silêncio, da sua frieza. Mas de novo ela não me respondeu e eu perdi-me de novo na profundidade dos meus pensamentos. De olhos no infinito esperei conseguir encontrar uma resposta.
A noite fria de inverno faz-se sentir e eu recolho-me no meu canto. A sala repleta de pequenas e grandes memórias fazem-me sentir uma nostálgica saudade. Bocados de mim, retalhos da minha vida. Tudo aquilo me fere o coração, me deixa triste e com saudades. Mas o tempo passou e a vida mudou. Já nada daquilo existe, ficando somente a recordação.
A longitude dos tempos faz aumentar ainda mais a mágoa de não ter dito o que meu coração sentia, de não ter aproveitado o momento, vivendo-o de forma passageira e sem lhe dar a importância devida.
Toda esta nostálgica saudade enche os meus olhos de água e lágrima cai no meu rosto. A lágrima da saudade, a lágrima da alegria, a lágrima da felicidade e da tristeza. A lágrima dos momentos bons e dos maus momentos, das dores e dos momentos de prazer.
Toda a minha vida ouvi a afirmação de que o homem não chora. Mas o homem chora. Chora sentidamente, chora com profundidade, chora e derrama pesadas lágrimas.
E esta lágrima, caída no chão, dissolve-se e com ela os sentimentos que a fizeram correr. No silêncio da queda de uma lágrima, um enorme grito sai do coração de quem a derrama. No silêncio do desaparecimento da lágrima, o enorme brado dos sentimentos.
Pudera o homem conseguir descobrir o segredo contido em cada lágrima, o seu significado, o seu porquê. Mas essas coisas são impossíveis ao homem que somente se preocupa em conhecer o significado das coisas mais inúteis, mais fúteis, mais ocas, mais vãs…
E eu, na minha inocente tentativa de compreender aquilo que não é compreensível…
Mas esta lágrima que cai, não é uma lágrima de tristeza, dor. Mas uma lágrima de saudade completada pela felicidade de uma vida vivida, de momentos de enorme alegria, de enorme gozo. Uma lágrima pelos bons amigos que a vida me deu, pelas pessoas que se cruzaram na minha vida, pelos sorrisos que vi florescer e renascerem de um poço profundo. É uma lágrima profunda, de amor e satisfação.
Toda a minha vida olhei para o lado negro: os momentos de dor, os momentos de solidão, os momentos de abandono. Mas, agora, sentado no meio de tanta recordação, de tanta coisa boa, eu vejo que o lado negro resume-se a quase nada. E eis que a lágrima cai, grossa, pesada e quente no chão e no meu rosto um sorriso.




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

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