terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A minha vida nas páginas do vento...

O vento leva-nos os nossos melhores momentos. Ele traz-nos memórias que nos marcaram...
Gostaria de poder ver o vento, mas tudo o que sei dele é o que sinto. 
Sinto este vento e muitas vezes sinto que seja Deus. Como no princípio, também Deus nos manda o seu ruah.
Quando a noite cai e a solidão aperta, saio de casa. No banco do jardim me sento. Acendo o cigarro e o vento faz com que a minha capa esvoace. O vento não é frio. Quente como uma noite de verão, como o amor de uma mãe pelo filho.
O vento traz-me más recordações e boas ao mesmo tempo. 
Um sorriso esboça-se no meu rosto mas a lágrima cai. 
Abro o velho caderno, onde escrevi durante muito tempo. As suas páginas estão quase a acabar... 
Pouso a caneta sobre as folhas velhas e dobradas do caderno e começo a escrever. O meu pensamento vai para longe, percorrendo locais que eu desconheço, pessoas que conheço, horas que vivi, horas que estarei para viver.
Projecto o meu futuro, desejando que tudo seja bom. Mas nem sempre corre tudo como queremos, nem sempre os nossos sonhos se tornam realidade...
Muitas vezes desejamos viver, num futuro não muito longínquo, rodeado pelas pessoas que amamos, amigos e familiares. Mas quando vivemos esse futuro, que agora se torna presente, vemos que não é bem assim. 
Descobrimos que, muitas vezes, somos possessivos. Queremos tudo como nós queremos e nunca nos esforçamos por fazer as coisas como os outros querem. 
Esboçamos, muitas vezes, um futuro com os que amamos, não nos lembrando de que eles também têm os seus sonhos, a sua família, o seu esboço de futuro. Não podemos obrigar ninguém a fazer parte do nosso futuro. 
Escrevo estas coisas todas no meu caderno. 
Levanto os olhos para o céu... Admiro a lua que não tarda muito a desaparecer e as estrelas que dominam o céu. Uma vez mais a lua está a meu lado neste momento. 
Pego na caneta e continuo a escrever... De um momento para o outro perco-me num mundo que é só meu e que não pertence a mais ninguém.
Acabam-se as folhas e procuro a lua com os olhos. A lua já se pôs e as estrelas são as minhas únicas companheiras. 
Fecho o caderno e acendo um cigarro. 
O fumo sobe pelo ar e o vento dá-lhe formas estranhas. 
Abro o caderno e arranco-lhe as folhas. Olho-as uma última vez. Solto-as... Dou-as ao vento para que uma vez mais a minha vida seja escrita nas páginas do vento...



Ad majorem Dei gloriam...

Ismael Sousa

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