À lua
brilhante sussurro o meu canto alegre e entristecido. Choro profundamente as
lágrimas que me saem do coração por perceber que tudo foi em vão. Já de nada
valem as palavras, pois por elas já não consigo expressar o que me vai no coração.
Já vai longe a velha habilidade de juntar palavras simples e talvez sem
sentido, para exprimir o que me vai na alma. Agora são meras palavras, meros
conjuntos de letras unidas entre si para tentarem dar sentido a algo que sinto,
mas que não consigo expressar. Se talento era, talento deixou de ser. Se paixão
era, ela se esmoreceu.
A suavidade
das palavras já não mais a sinto.
Agora reside
o vazio da sua fluidez, o espaço da sua imaginação.
Há muito que
não consigo escrever, e este ensaio é o que mais se aproxima de algo daquilo
que já foi. Tudo agora é sem sentido, tudo agora é supérfluo e triste.
As folhas do
meu diário permanecem em branco, pois já nem o mais básico consigo escrevinhar.
Caminho
junto ao mar, local onde sempre encontrei inspiração. Mesmo sem estar junto a
ele, só a lembrança do som do mar a segredar com a areia, o seu bater nas
rochas, o vento e as despedidas do sol que avermelham as águas cristalinas me
faziam crescer a vontade de escrever. Agora isso já não reside na minha memória
e nem as águas avermelhadas pelo sol me fazem crescer a vontade de lhe
construir belos sonetos.
E as noites
frias, nos bosques do mundo que eu nunca conheci, mas que sempre imaginei, já
não são parte de mim.
Ilusões…
As paredes
do meu quarto transformavam-se naquilo que a minha mente desejava: a praia, o
bosque, a serra, a noite, os teatros e óperas…
Ilusões…
Tudo fruto
da minha cabeça. O banco de jardim desapareceu; o bosque nevado, derreteu; a
cidade que sempre foi fruto de delírios, destruída.
Meu coração
bate forte. As lágrimas só correm pela saudade e pela recordação.
Mas tudo
isto de nada vale, porque são meras palavras, sem sentido ou sentimento, uma
falsidade pura e que eu nunca vivi…
A imaginação
tem destas coisas, e eu em muito vivi na ilusão: na ilusão de ser aquilo que
nunca fui; de sentir o que eu nunca senti; de me perder e sonhar aquilo que
nunca vivi.
E o mundo
não é feito de ilusões? Então o porquê de sentir que só a minha ilusão é descabida
e sem sentido? Que sou um louco entre tantos normais e que a loucura não tem
espaço neste mundo?
«Cogito,
ergo sum!» (Penso, logo existo) afirmava René. Mas, e quem sonha? Quem
aproveita a sua loucura para conseguir embelezar um pouco a vida dos outros?
Esses não têm direito a existir? Eu digo que não. Eu digo que esses são meros
loucos de quem a história nunca falou, de quem o fado nunca cantou, e na pedra
nunca foram esculpidos. Esses, que ambicionam dar um pouco mais aos outros, dar
aquilo que têm para que o outro se sinta mais completo, esses são meros loucos!
E o Grande
Homem, que no meio do mundo falou em dar a outra face a quem bate, perdoar quem
ofende, amar incondicionalmente, até a Esse os homens mataram!
Talvez um
dia o homem aceite a diferença. Talvez um dia eu aceite a diferença. Talvez um
dia chegue a hora das coisas tomarem outro rumo, de fazer a diferença.
Ad majorem Dei gloriam!
P.S. - Parabéns ao leitor n.a.!
Ismael Sousa
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigado pelo comentário!