terça-feira, 18 de outubro de 2011

Hoje...


Hoje desembainhei a espada. Cavalguei pelos montes no meu robusto cavalo branco. Lutei contra Mouros, Gregos, Troianos, Romanos. Venci as lutas e regressei em ombros para a minha tenda. Na minha cadeira senhorial, eu ouvia os meus consultores, dava ordens e despontava a guerra. Erguia-me da minha cadeira, colocava a minha capa, partia à conquista de novas terras e novos mundos. Comandava um exército de tropas maravilhosas. Chorei pelos que ficaram nos campos de batalha, socorri os feridos, devolvi a paz a muitas famílias. Libertei povos e condenei outros. Das Ásias às Europas, tudo tinha sido conquistado por mim. Qual Alexandre, qual Júlio César. Era eu, que subordinado ao meu rei conquistava todo o império. Das Ásias trazia as sedas, os costumes e as gastronomias. Das Europas a cultura, as novidades, o canto, a educação. Império maior e mais rico não havia sobre as águas. No meu leito me recostava, sozinho e contente por tão bem servir o meu rei.
Hoje parti à descoberta. Percorri caminhos há muito tempo percorridos. Hoje descobri pirâmides antigas, túmulos inviolados, riquezas espantosas. Segredos ocultos nas escrituras antigas, formas de viver em sociedade, de orar e de conhecer o mundo. Hoje descobri templos antigos, cidades ocultas, paraísos perdidos. Conheci novas culturas e novas histórias. O mundo antigo estava ali, e eu vivia-o como uma pessoa daquele tempo.
Hoje percorri oceanos, nadei com tubarões e espécies infindas de seres marinhos. Hoje parti em busca de velhos navios naufragados, em busca de velhas histórias de amor, de pirataria. Parti em busca de velhas relíquias, de velhos pedaços da história.
Hoje sentei-me na velha biblioteca, agarrei nos livros há muito esquecidos. Conheci a história do mundo, a sua decadência, as suas formas de se voltarem a restituir. As suas correntes artísticas, as formas de se vestirem e de se comportarem.
Hoje eu vi o mundo. Sentei-me na lua e admirei o planeta azul. Admirei a sua beleza exterior e questionei-me sobre o porquê de tanta maldade no seu núcleo.
Hoje falei em tribunal. Defendi um inocente, provei que a sua palavra era verdadeira.
Hoje discursei no parlamento. Defendi os verdadeiros valores do homem. Alertei para os perigos, salvei algumas pessoas.
Hoje fui filósofo. Escrevi sobre teorias, formas de pensar. “Defendi” o Deus cristão, acusei o mundo da sua falta de ligação a Deus.
Hoje sentei-me no banco dos réus. Fui acusado, condenado e morto.
Hoje eu acordei e vi que tudo não passava de um simples sonho. Mas acordei feliz, porque, na magia dos sonhos, pude ser tudo aquilo que queria.
Hoje acordei e vi que não posso mudar o mundo, mas posso ajudar na sua mudança.
Hoje acordei e senti-me bem, porque voltei a acordar…





Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

1 comentário:

  1. Grandes noites no 329 ;)
    Ainda bem.
    Um abraço. Gostei do que escreveste e como escreveste.

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