Hoje desembainhei a espada.
Cavalguei pelos montes no meu robusto cavalo branco. Lutei contra Mouros,
Gregos, Troianos, Romanos. Venci as lutas e regressei em ombros para a minha
tenda. Na minha cadeira senhorial, eu ouvia os meus consultores, dava ordens e
despontava a guerra. Erguia-me da minha cadeira, colocava a minha capa, partia
à conquista de novas terras e novos mundos. Comandava um exército de tropas
maravilhosas. Chorei pelos que ficaram nos campos de batalha, socorri os
feridos, devolvi a paz a muitas famílias. Libertei povos e condenei outros. Das
Ásias às Europas, tudo tinha sido conquistado por mim. Qual Alexandre, qual
Júlio César. Era eu, que subordinado ao meu rei conquistava todo o império. Das
Ásias trazia as sedas, os costumes e as gastronomias. Das Europas a cultura, as
novidades, o canto, a educação. Império maior e mais rico não havia sobre as águas.
No meu leito me recostava, sozinho e contente por tão bem servir o meu rei.
Hoje parti à descoberta. Percorri
caminhos há muito tempo percorridos. Hoje descobri pirâmides antigas, túmulos
inviolados, riquezas espantosas. Segredos ocultos nas escrituras antigas,
formas de viver em sociedade, de orar e de conhecer o mundo. Hoje descobri
templos antigos, cidades ocultas, paraísos perdidos. Conheci novas culturas e
novas histórias. O mundo antigo estava ali, e eu vivia-o como uma pessoa
daquele tempo.
Hoje percorri oceanos, nadei com
tubarões e espécies infindas de seres marinhos. Hoje parti em busca de velhos
navios naufragados, em busca de velhas histórias de amor, de pirataria. Parti
em busca de velhas relíquias, de velhos pedaços da história.
Hoje sentei-me na velha
biblioteca, agarrei nos livros há muito esquecidos. Conheci a história do
mundo, a sua decadência, as suas formas de se voltarem a restituir. As suas
correntes artísticas, as formas de se vestirem e de se comportarem.
Hoje eu vi o mundo. Sentei-me na
lua e admirei o planeta azul. Admirei a sua beleza exterior e questionei-me
sobre o porquê de tanta maldade no seu núcleo.
Hoje falei em tribunal. Defendi
um inocente, provei que a sua palavra era verdadeira.
Hoje discursei no parlamento.
Defendi os verdadeiros valores do homem. Alertei para os perigos, salvei
algumas pessoas.
Hoje fui filósofo. Escrevi sobre
teorias, formas de pensar. “Defendi” o Deus cristão, acusei o mundo da sua
falta de ligação a Deus.
Hoje sentei-me no banco dos réus.
Fui acusado, condenado e morto.
Hoje eu acordei e vi que tudo não
passava de um simples sonho. Mas acordei feliz, porque, na magia dos sonhos,
pude ser tudo aquilo que queria.
Hoje acordei e vi que não posso
mudar o mundo, mas posso ajudar na sua mudança.
Hoje acordei e senti-me bem,
porque voltei a acordar…
Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa
Grandes noites no 329 ;)
ResponderEliminarAinda bem.
Um abraço. Gostei do que escreveste e como escreveste.