quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Novo Acordo Ortográfico


Acho que ainda não vos falei sobre este assunto que foi muito falado, mas que agora já pouco se houve. Contudo, se estiveres a ler isto e achares que eu já falei sobre isto ou que estou errado, fecha a página ou separador.
Muito se falou sobre o tão dito Novo Acordo Ortográfico. Mas a mim, directamente, ainda não me tinha afectado. Mas como há sempre um mas…
Eu, como muitos, nasci na altura dos escudos, no tempo das brincadeiras de rua, das pistas de carros, dos verdadeiros desenhos animados, de tanta coisa que hoje já não existe.
Andei na escola, e, apesar de nem sempre escrever correctamente (não fosse o Word meu amigo), aprendi a escrever acção, actor, acto, correcção, descontracção, mini-saia, entre tantas outras palavras…
Mas agora as coisas mudaram, e é bem que assim aconteçam. Contudo, acho que algumas coisas são absurdas. Os meus avós são do tempo da Pharmácia e eu já do tempo da Farmácia. E, na verdade, dei graças a Deus por algumas coisas terem mudado, pois vi-me à rasca com o Gil Vicente e o seu português arcaico.

Mas, nos tempos em que eu aprendi a escrever, as palavras já se percebiam bem.
Mas podeis agora questionar-vos (e como diria o meu professor de História da Igreja Antiga: perguntai) que quero eu dizer com este paleio todo? Bem, na verdade o que quero dizer é que Portugal perdeu a sua língua, sendo agora o brasileiro (não propriamente, mas quase).
Se eu, segundo o novo acordo ortográfico, disser que «no ato eu ato» isto não me soa nada bem. Mas se disser que «no acto eu ato» já me soa de maneira diferente.
Bem, a diferença pode não ser muita, mas é alguma.
A verdade é esta: sinto-me velho. Já não sei escrever. Pareço o meu avô que escreve «coubes» em vez de «couves». E o meu avô não andou na escola. Ora, eu, que andei e ando na escola, também já não sei escrever… E, possivelmente, como eu, muitos de vós. Mas façam a experiência. Pegai numa caneta e escrevei: «O meu ator favorito é o Orlando Bloom que entra no segundo ato do cinema, com uma rapariga de minissaia num ato de descontracção», e ides ver que o maldito “c” aparece… Mas se tiverdes de escrever um texto para uma revista, já não podeis escrever com o maldito “c”… E agora pedem-me que faça trabalhos com o novo acordo ortográfico. Que complicação. Depois de escrever o texto todo, ter que o rever por causa dos hífens, dos “c’s” etc…
Mas que posso eu fazer contra o acordo ortográfico? Nada? Calar-me? Não, irei contestar. Que ensinem as crianças agora a escrever com o novo acordo ortográfico, ainda bem. Agora que me obriguem a mim, e a outros como eu, a escrever segundo o novo acordo ortográfico é que eu não acho bem. Sim, eu sei que o homem é um ser de hábitos (ou será ábitos???), mas não vão exigir à minha mãe ou ao meu pai que, ao escrever um requerimento, retire o hífen ou o “c”. O meu pai diria logo: «Eu aprendi a escrever assim, há mais de quarenta anos, e agora vêm-me um fulano qualquer ensinar-me a escrever?» (e verdade seja feita, que eu não saio ao meu pai que escreve lindamente e com uma letra perfeita).
Ok, os tempos mudaram, mas ainda existem pessoas do tempo antigo. Bem, vou mas é directo (direto??) à conclusão. Não digo mais para não vos melgar. Podeis chamar-me velho do restelo, que eu não me importo. Eu aprendi a escrever de uma maneira, e gostaria de morrer a escrever da mesma maneira (o que acho impossível porque mais cedo ou mais tarde até o meu Word me vai traír).
Aqui, o velho do restelo, vai continuar a escrever no antigo acordo ortográfico até que este novo esteja tão infiltrado nas nossas vidas que nos esqueçamos do antigo. E depois irá recorrer aos antigos escritos para relembrar o velho hífen e o velho “c”.





Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

1 comentário:

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