Acho que ainda não vos falei
sobre este assunto que foi muito falado, mas que agora já pouco se houve.
Contudo, se estiveres a ler isto e achares que eu já falei sobre isto ou que
estou errado, fecha a página ou separador.
Muito se falou sobre o tão dito
Novo Acordo Ortográfico. Mas a mim, directamente, ainda não me tinha afectado.
Mas como há sempre um mas…
Eu, como muitos, nasci na altura
dos escudos, no tempo das brincadeiras de rua, das pistas de carros, dos
verdadeiros desenhos animados, de tanta coisa que hoje já não existe.
Andei na escola, e, apesar de nem
sempre escrever correctamente (não fosse o Word meu amigo), aprendi a escrever
acção, actor, acto, correcção, descontracção, mini-saia, entre tantas outras
palavras…
Mas agora as coisas mudaram, e é
bem que assim aconteçam. Contudo, acho que algumas coisas são absurdas. Os meus
avós são do tempo da Pharmácia e eu já do tempo da Farmácia. E, na verdade, dei
graças a Deus por algumas coisas terem mudado, pois vi-me à rasca com o Gil
Vicente e o seu português arcaico.
Mas, nos tempos em que eu aprendi
a escrever, as palavras já se percebiam bem.
Mas podeis agora questionar-vos
(e como diria o meu professor de História da Igreja Antiga: perguntai) que
quero eu dizer com este paleio todo? Bem, na verdade o que quero dizer é que Portugal
perdeu a sua língua, sendo agora o brasileiro (não propriamente, mas quase).
Se eu, segundo o novo acordo
ortográfico, disser que «no ato eu ato» isto não me soa nada bem. Mas se disser
que «no acto eu ato» já me soa de maneira diferente.
Bem, a diferença pode não ser
muita, mas é alguma.
A verdade é esta: sinto-me velho.
Já não sei escrever. Pareço o meu avô que escreve «coubes» em vez de «couves».
E o meu avô não andou na escola. Ora, eu, que andei e ando na escola, também já
não sei escrever… E, possivelmente, como eu, muitos de vós. Mas façam a
experiência. Pegai numa caneta e escrevei: «O meu ator favorito é o Orlando
Bloom que entra no segundo ato do cinema, com uma rapariga de minissaia num ato
de descontracção», e ides ver que o maldito “c” aparece… Mas se tiverdes de
escrever um texto para uma revista, já não podeis escrever com o maldito “c”… E
agora pedem-me que faça trabalhos com o novo acordo ortográfico. Que
complicação. Depois de escrever o texto todo, ter que o rever por causa dos
hífens, dos “c’s” etc…
Mas que posso eu fazer contra o
acordo ortográfico? Nada? Calar-me? Não, irei contestar. Que ensinem as
crianças agora a escrever com o novo acordo ortográfico, ainda bem. Agora que
me obriguem a mim, e a outros como eu, a escrever segundo o novo acordo
ortográfico é que eu não acho bem. Sim, eu sei que o homem é um ser de hábitos
(ou será ábitos???), mas não vão exigir à minha mãe ou ao meu pai que, ao
escrever um requerimento, retire o hífen ou o “c”. O meu pai diria logo: «Eu
aprendi a escrever assim, há mais de quarenta anos, e agora vêm-me um fulano
qualquer ensinar-me a escrever?» (e verdade seja feita, que eu não saio ao meu
pai que escreve lindamente e com uma letra perfeita).
Ok, os tempos mudaram, mas ainda
existem pessoas do tempo antigo. Bem, vou mas é directo (direto??) à conclusão.
Não digo mais para não vos melgar. Podeis chamar-me velho do restelo, que eu
não me importo. Eu aprendi a escrever de uma maneira, e gostaria de morrer a
escrever da mesma maneira (o que acho impossível porque mais cedo ou mais tarde
até o meu Word me vai traír).
Aqui, o velho do restelo, vai continuar
a escrever no antigo acordo ortográfico até que este novo esteja tão infiltrado
nas nossas vidas que nos esqueçamos do antigo. E depois irá recorrer aos
antigos escritos para relembrar o velho hífen e o velho “c”.
Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa
VIVA O ACORDO ORTOGRÁFICO.
ResponderEliminarVIVA A LUSOFONIA.