domingo, 30 de dezembro de 2012

Até 2013!!!


Pois é, caros leitores: esta é a última vez que vos escrevo este ano. E ao findar o ano, quero escrever-vos sobre algumas coisitas que é meu desejo falar, partilhar convosco.
Em primeiro lugar quero falar-vos sobre o último livro de Sua Santidade, o Papa Bento XVI, como já tinha manifestado essa vontade aqui.
Como o Natal estava aí à porta, recebi de um amigo o livro Jesus de Nazaré – A Infância de Jesus. Não demorou muito a que o começasse a ler, nem muito tempo para o terminar. Apesar da enormidade de trabalho, lá fui lendo, entre uma e outra pausa, o pequeno livro de uma centena de páginas (pouco mais é que isso). A verdade é que, uma vez mais, Bento XVI obriga o leitor a recorrer àquele livro que devia, na sua grande maioria, ser o que devíamos ler todos os dias: a Bíblia. E isto porquê? Porque Sua Santidade, apesar de referir e citar os textos, fala das narrações da infância de Jesus em São Mateus e São Lucas. Ora, se não tivermos bem presentes os textos, muito daquilo que o autor diz, passa-nos ao lado. É claro que isto é uma opinião minha.
Bem, Bento XVI começa por falar sobre a questão da origem de Jesus, passando pela anunciação, nascimento de João Baptista, nascimento de Jesus, etc (para mais informações, nada melhor que ler o livro). Muitas das questões à volta destes temas são esclarecidos de uma forma simples. Outros assuntos são, também para mim, uma autêntica novidade.
Como seria de esperar, a parte em que Bento XVI explica o porquê do burro e da vaca, tem sido motivo de risada e de chacota entre os média e não só. E isto suscitou-me um pequeno pensamento que queria partilhar: se a Igreja não esclarece alguns assuntos, é porque são mentira, são assuntos secretos, a Igreja é uma sociedade secreta, etc, etc. Quando a Igreja vem esclarecer alguns assuntos, todos ficam escandalizados, todos acham que a Igreja é só mentiras. Então, digam-me, o que preferem? Ser esclarecidos ou continuar eternamente na ignorância? Mas que nenhum presépio prescinda do burro e da vaca!
Resumindo: é óbvio que só posso aconselhar a leitura deste livro a toda a gente, porque é algo muito bom. E uma boa leitura de Advento. Seria bom que a grande maioria dos cristãos lesse este livro e explicasse à outra parte, pois assim todos teriam o conhecimento das coisas como elas são.

Outro assunto de que vos quero falar é o facto de já ter ouvido mais de uma centena de vezes que o Natal já terminou. Bem, deve ter terminado para os não cristãos, porque, para nós cristãos, o Natal continua. Mas entristece-me ouvir a expressão de que o Natal já terminou da boca de um cristão, quando ainda estamos na oitava do Natal.
Para esclarecer aqueles que tenham dúvidas, o Tempo de Natal vai da Véspera de Natal até ao Baptismo do Senhor que, neste (?? Próximo??) ano será a 13 de Janeiro. Só depois é que acaba o Natal e poderemos dizer que o Natal já terminou, apesar de eu achar que o Natal devia ser todo o ano, pois todos os dias devíamos fazer nascer no nosso coração o Deus feito homem.

O terceiro e último ponto de hoje é sobre a festa que a Igreja hoje celebra: A Sagrada Família de Jesus, Maria e José. Sobre este tema, nada melhor que recorrer ao velhinho texto de São Paulo aos Colossences, a segunda leitura da Eucaristia de hoje:
«Esposas, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor. Maridos, amai as vossas esposas e não as trateis com aspereza. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isso agrada ao Senhor. Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo.»
Este deve ser o comportamento das nossas famílias. Posso estar errado ou ir contra a opinião de muitos, mas se muitos dos casais fossem assim, não existiriam tantos divórcios, separações, falta de compromissos, etc. Já diz o velho ditado de que «Filho és, pai serás.». Então, se os pais cultivarem nos filhos valores como a misericórdia, a bondade, a humildade, a mansidão e a paciência, então os filhos de hoje, enraizarão, como pais amanhã, esses valores nos seus filhos.

Bem, hoje foi um bocadinho maçador, mas espero que tenha valido a pena. Desejo-vos muita prosperidade no ano que se irá iniciar e, apesar de todas as más premunições para o próximo ano, que na vossa vida existam muitos sorrisos, muita diversão, muita concretização pessoal. Que o pior de 2013 seja o melhor deste ano. Divirtam-se, alegrem-se, amem, disfrutem a vida. Sejam um testemunho de vida para aqueles que vos rodeiam. Sejam vocês mesmos. Santo 2013 e um Santo Natal. Ah, como diria Raúl Solnado, «façam o favor de serem felizes».
Até para o ano!




Ad majorem Dei gloriam! 
Ismael Sousa

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Feliz Natal

A todos os seguidores deste blogue, a todos os amigos e familiares, um Santo e Feliz Natal.
Que esta época seja uma altura propícia para refazer laços, estarmos com os que amamos. Que seja também altura de olharmos o nosso coração e deixar que o Menino-Deus nasça dentro de nós.
Boas Festas!



Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Bodas de Prata


Pois é! Aqui estou eu a escrever-vos novamente. Mas hoje com um motivo bem diferente do que tem sido habitual.
Há precisamente 25 anos atrás, um casal trocava votos de amor e de compromisso, na cidade de Lisboa. Agora, 25 anos depois, encontram-se perdidos na Beira.
Lado a lado, percorreram todos estes anos, repletos de momento bons e maus, de alegrias e tristezas, de amor e compreensão.
Não posso falar por eles, mas bem sei que foram 25 anos difíceis, principalmente a aturar três filhos tão insuportáveis. 25 anos de esforços e lutas para dar aos seus filhos o que necessitavam, para lhes dar uma educação correcta. 25 anos de lágrimas e sorrisos.
Como no dia de hoje era impossível celebrar as suas bodas de prata, as mesmas foram celebradas no passado Domingo, que, litúrgicamente, é chamado o Domingo Gaudete, Domingo da alegria.
Não vou fazer uma descrição pormenorizada, mas uns traços gerais. Foi celebrada missa na qual trocaram as alianças que, diga-se de passagem, só foram vistas por eles no momento. Depois seguiu-se um pequeno almoço com alguns membros da família, recordando os que por esta ou aquela razão não puderam estar presentes.
O dia terminou em alegria, com um enorme sorriso esboçado nos seus rostos.
Hoje, como filho, orgulho-me de vós, pais meus. Hoje admiro-vos e agradeço os esforços que ao longo destes anos fizeram por nós. Obrigado pela educação que me deram, pelos esforços que fizeram para nos dar aquilo que necessitávamos. Obrigado por se esquecerem de vós, colocando-nos sempre em primeiro lugar, apoiando-nos, sempre, nas nossas decisões. Obrigado por tudo e que continuem a ser o casal maravilhoso que são e a viver intensamente o vosso amor.
Parabéns e muitas felicidades, são os votos deste vosso filho que tanto vos ama e que sempre vos tem no melhor cantinho do seu coração!


Ad Majorem Dei Gloriam
Ismael Sousa

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Barqueiro...

O sol ainda não nascera, mas a sua luz já iluminava o céu, quando Gubernator saiu de sua casa na encosta. De chapéu na cabeça, dirigia-se, todos os dias, para o cais, onde residia o seu “Timoneiro”.
Gubernator havia nascido naquela ilha e por lá ainda vivia, amarrado às memórias e lembranças. Por nada deste mundo deixaria aquela ilha e toda a história que ela contava. Nem mesmo quando um violentíssimo fogo se alastrou pela ilha Gubernator a deixou. Era ali, naquela casa, que tinha nascido, naquelas ruas que crescera, naquelas pedras que brincara. Aprendera o ofício do pai, nascera com as mãos da mãe. Aos quinze anos já trabalhava com o pai, lado a lado, e tomava conta de casa, quando a mãe saía para vender no mercado do continente.
Na ilha onde vivia, Senun, não morava muita gente. Gubernator tornara-se um lobo solitário desde pequeno. Quando chegava o Verão é que Gubernator conhecia o prazer de brincar com outras crianças que iam para a ilha de férias. Mas tudo acabou, quando aos quinze, depois de seu pai morrer, teve de começar a fazer as visitas turísticas pelo mar.
O “Timoneiro” tinha-se tornado o seu companheiro e a única ligação a seu pai.
Poucos anos depois, morrera também a sua mãe, vítima de uma pneumonia. Gubernator ficara sozinho e agarrara-se ainda mais ao que tinha. Decidira não abandonar a ilha.
Todos os dias descia até junto do “Timoneiro”. Tratava-o, cuidava-o. Um pequeno barco que era tudo para ele.
Mas os tempos novos assustavam-no. As pessoas já não vinham para a ilha e os poucos que vinham não se arriscavam a meter um pé na pequena barca, mesmo quando a viagem nada lhes custaria.
E ali estava Gubernator, de volta do barco, na sua solidão, rodeado de lembranças e de imagens que só existiam a seus olhos.
Eram todos os dias igual a este: Gubernator sentava-se no cais, esperando que alguém aparecesse para uma pequena viagem. Mas essas eram cada vezmais raras e muitas vezes partia sozinho.
O mar estava calmo. “Timoneiro” balançava suavemente nas ondas calmas. O sol começava a desaparecer por entre os montes que rodeavam a ilha. De tudo o que Gubernator mais gostava era de ver o por do sol. Por isso chegava a hora.
Do cais desamarrava o velho barco. Lentamente começou a contornar os montes até que à sua frente só existia o azul do mar e um sol quase a mergulhar nas águas.
Mais um dia chegava ao fim. O sol começava a tingir as águas de vermelho e o velho Gubernator ali estava, sentado na sua barca, maravilhando-se com esta maravilha da natureza, sempre igual, mas sempre diferente. Um rol de emoções o invadia e o fazia ficar ali a assistir ao nascimento da lua e das estrelas.
As primeiras estrelas surgiam no céu, cada uma a seu tempo. Mas quando Gubernator deu por si, perdido nos seus pensamentos, já o céu se enchera de estrelas. Deitado na sua barca, começou a recordar as constelações e as histórias que seu pai lhe contara.
Esta noite era diferente. O ar estava calmo, a lua brilhava suavemente no céu. No rosto de Gubernator esboçava-se um sorriso. Partira uma última vez daquele porto e o “Timoneiro” iria perder-se nos mares, mas Gubernator estava feliz, pois conseguira libertar-se de todas as memórias e sentia-se preparado para explorar o mundo!

 

Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Pégasus e o Cavaleiro



A lua acabara de eclipsar-se há alguns minutos. A noite estava escura e fria. Suavemente um fiozinho de luz começara a surgir no céu. A lua voltara a brilhar e, quando terminou o eclipse, Pégasus surgiu no cimo de um monte. De longe, um homem via aquele cenário de quadro, admirando toda a beleza do momento.
Pégasus era um jovem cavalo. Não o mais belo da sua tropa, mas o que tinha causado mais admiração àquele homem que, sentado tantas noites na esplanada da sua cabana, o admirava e desejava conseguir montá-lo.
Contudo, Pégasus não era um cavalo fácil; era selvagem, corria os campos de uma forma diferente de todos os outros. Não era a primeira vez que aquele homem o tentara montar e, de diversas vezes, Pégasus tinha-lhe deixado marcas.
Mas naquela noite tudo seria diferente. O homem não o sabia; Pégasus não o sentia.
O homem entrou em casa. Depois de ter acendido a vela do seu quarto, abriu o armário. Lá dentro as botas de cano jaziam, juntamente com o chicote e a corda. Seria mais uma noite de tentativa, mas, agora, algo lhe dizia que seria única.
Saiu para os campos. Lá longe, Pégasus corria livremente. A sua crina de um castanho-escuro, esvoaçava ao vento. Uma vez mais relinchava com o prazer da sua liberdade. O homem, de longe, apreciava todo aquele cenário e foi impelido, não se sabe se pela magia da noite se pela sua loucura, a caminhar até Pégasus. Para trás ficaram a corda e o chicote, bem como as esporas das suas botas. O seu coração palpitava fortemente. Pégasus estava a menos de dois metros do homem quando se apercebeu da sua presença. Levantou-se e colocou-se frente a frente ao homem.
Taurusan não era um homem velho. Não. Era um jovem robusto, na flor da idade. Vivia na encosta de um monte, na sua cabana sem luz eléctrica e longe de todo o movimento frenético das cidades. Dizia várias vezes, quando era obrigado, pela força de algumas necessidades, a descer à aldeia mais próxima, que era no meio da natureza, no meio da obra belíssima de Deus que se sentia bem. E era ali que vivia há vários anos.
A sua vida cruzara-se com a de Pégasus de uma forma inesperada. Desde o primeiro momento que desejava subir para o seu dorso, cavalgar sobre os montes nas tardes quentes e nas noites de luar. Mas os sonhos eram maiores que a realidade. Pégasus ainda cavalgava sozinho e Taurusan observava-o sempre que podia.
Já várias vezes o tentara domar, mas Pégasus levava sempre a melhor.
Mas agora era diferente. Pégasus e Taurusan estavam ali, frente a frente.
Taurusan avançou, lentamente, mais um metro. Quando se aventurou a dar mais um passo, Pégasus recuou.
O medo podia ler-se nos olhos de ambos. Tão perto, mas tão longe.
Dez minutos se passaram e eles ali, frente a frente, sem um único movimento. Taurusan estendeu o braço e de mão aberta avançou uma passada. Podia sentir o bafo quente de Pégasus. Na sua mente passavam imagens da sua vida: um reviver de tudo o que tinha vivido com aquele cavalo. E agora tão perto. O seu coração disparava, a emoção apoderava-se do seu corpo. Não era capaz de avançar nem mais um passo. Receava, do fundo do seu coração, deitar tudo por terra.
O tempo passava sem que eles dessem por isso. Pégasus sentia o nervosismo de Taurusan; Taurusan ansiava por aquele momento.
De repente, Pégasus avançou. Não foi uma investida, mas uma passada suave. A mão de Taurusan assentou, suavemente, sobre os olhos de Pégasus. Os seus olhares cruzaram-se de uma tal forma que nada, naquele momento, os poderia distrair. Aquele era o momento, o momento mágico que Taurusan esperava e que Pégasus concretizara.
A mão de Taurusan passeou-se pela crina e, receando, avançou para o dorso. Pégasus estava calmo e exibia-se perante a figura de Taurusan.
Uma vez mais se encontraram frente a frente, olhos nos olhos. Os seus olhos brilhavam; Taurusan era o homem que brilhava aos olhos de Pégasus.
No brilho de seus olhos podia ver-se a enorme vontade de montar Pégasus; Pégasus ansiava correr pelos campos.
A confiança encheu Taurusan de energia e este, de um salto, subiu para o dorso de Pégasus. As suas patas dianteiras ergueram-se no ar e Taurusan só teve tempo de se agarrar à sua crina castanha.
Nos campos ouviu-se um novo galope e Pégasus e Taurusan corriam neles.
A lua quase tocava no cume do monte, um homem e um cavalo corriam livremente.
Um sonho se concretizara, uma vida nova surgia!


Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A magia de ler!


Se na minha vida tenho paixões, uma delas é, certamente, a leitura. Não sei que feitiços lançaram nos livros ou que encantamento eles me fizeram, mas a verdade é que cada vez que abro um livro, aprisiono-me a ele, nasce em mim a vontade de mergulhar nele, de ser uma parte constituinte do livro, de viver nele.
Cada vez que abro um livro, saltam de lá as árvores, as estradas, a neve, a chuva ou o sol. Na minha frente surgem as casas, os mares, as pessoas. Ouço as vozes daqueles que caminham nas estradas, que estão sentados a uma mesa de café ou restaurante. Um cenário, descrito em palavras surge-me como uma realidade viva e palpável. Conheço aqueles espaços e personagens; pressinto-os; conheço-lhes as expressões no rosto, a forma como falam, como se movem. Ouço o canto do pintassilgo, o som das cascatas, os segredos do vento e as razões da chuva.
Tudo se forma na minha cabeça, sem que eu possa evitar. Choro por aqueles que choram, rio pelos que riem. Exalto-me com os que gritam e zango-me com os que se tornam inimigos. Uma segunda vida renasce para mim nas páginas de um livro. Posso ser um herói ou o simples mordomo; um rei ou um simples camponês. É-me fácil percorrer oceanos ou fazer longas caminhadas; cavalgar por montes desconhecidos, voar no infinito céu. Mas, na realidade, são somente palavras, esborratadas numa folha, e noutra e em mais outra.
E quando acabo mais um livro, a ausência de algo fica presente na minha vida. E, para além de toda a possibilidade de imaginação, também toda a imensidão de ensinamentos que podemos apreender. Toda uma cultura, um transmitir de conhecimentos e tradições, de verdades e desvendar de mistérios. Toda uma possibilidade de discussão, de argumentação. Toda uma possibilidade de podermos conhecer, de sermos melhores.
Pudera eu viver eternamente numa enorme biblioteca, poder conhecer todas as palavras, todas as frases de eternos clássicos, de obras que nunca saíram disso mesmo: de simples páginas pintadas com palavras, formando uma mancha bela.
E uma vez mais me sento na poltrona que está de frente para a lareira. A velha lareira de tijolo, repintado de preto por todo o uso, guarda em si as chamas vermelhas e laranjas que ardem e dançam numa liberdade invejosa. Olho pela vidraça e a neve cai la fora, suavemente, sobre o chão. Desce, dos altos céus, sem pressas. Dança entrelaçada com o vento; uma valsa, talvez, tocada suavemente por violinos. Uma valsa calma que, de súbito, se apressa com os violoncelos, os trompetes, as trompas, os oboés e os rufos. E o floco de neve cai no chão, juntando-se a todos os outros que não resistiram à valsa.
Mais um cavaco na lareira. Estico as pernas no pequeno banco de madeira, forrado num verde e negro que se entrelaçam sem se misturarem. Pego no livro que está em cima da camilha, coberta com uma toalha verde-escuro. As velas, no castiçal prateado, brilham. Fecho os olhos e preparo-me para entrar no misterioso. Abro o livro e lá vou eu, em mais um momento de fuga, em mais um momento de alegria ou tristeza. Em mais um momento só meu! 
 
 

Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Os olhos com que vemos!


Saudações queridos leitores.
Sim, é verdade. Há muito tempo que não vos escrevo, mas decerto compreendereis que, agora, não disponho de todo o tempo que desejava. E na falta desse tempo desejável inclui-se o tempo para vos escrever. Hoje, num tempinho que me forcei a ter, decidi escrever nestas partituras de sonho.
Escrevo-vos estas palavras com um pouco de indignação que passarei a expor para vós.
Hoje, num tempinho que tive entre o servir a refeição e a sobremesa a alguns clientes, estive a ver as notícias. Crise e mais crise, política e mais política. Uma miscelânea de notícias. Contudo, uma das notícias falava sobre o novo livro do Papa Bento XVI – Jesus de Nazaré: a Infância de Jesus. Ainda não tive oportunidade de comprar o livro e de o ler, mas antes do final do ano tentarei falar-vos mais concretamente sobre este livro. Voltando à notícia do lançamento do livro, os rodapés falavam do “escândalo” de Bento XVI afirmar que Jesus não nascera na Nazaré, que não havia burros nem vacas e que, na verdade, Jesus não nascera no ano um mas sim no ano sétimo antes da era comum (ou na denominação comum, antes de Cristo).
Bem, na verdade, Bento XVI não veio dar novidade ao dizer que Jesus nascera antes da era comum, pois isso já o disseram vários historiadores e, citando E. P. Sanders, do seu livro “A Verdadeira História de Jesus”, «Jesus nasceu no ano 4 a.e.c, por volta da data da morte de Herodes Magno […] alguns investigadores preferem o ano 5, 6 ou, até, 7 a.e.c.» e explica a razão pela qual é atribuído o ano um ao nascimento de Jesus:
«No século VI […] Dionísio Exíguo, introduziu um calendário litúrgico que contava os anos “a partir da encarnação” […] e não de acordo com o sistema estabelecido pelo imperador romano Diocleciano, um pagão.», e por aí continua.
Não posso, neste momento, fazer uma análise ao novo livro de Joseph Ratzinger – Bento XVI pois, como já referi, ainda não o li.
Mas não foi para tentar “limpar” (não sei se será o termo mais adequado e, por isso, peço desde já desculpa) a imagem do Sumo Pontífice que vos escrevi, mas sim para fazer uma pequena comparação.
Depois de darem esta notícia de uma forma, digamos, trágica, uma outra notícia foi dada como a melhor notícia da noite: o grande sucesso de “ As Cinquenta Sombras de Grey”. Bem, mais uma vez não li o livro e, possivelmente, muitos poderiam dizer que eu havia era de estar calado e que só deveria falar depois de ler os livros em questão. Mas atenção, eu não faço uma crítica aos livros, mas sim a forma como apresentam as notícias.
Para quem não sabe, os livros de E. L. James, têm como base o erotismo (e se já alguém leu e eu estiver enganado, por favor digam). E a grande pergunta do jornalista às pessoas que estavam à espera para que a autora lhes assinasse o livro era “se a sua vida sexual tinha melhorado”. Não posso esconder: fiquei um pouco escandalizado com aquilo e com as respostas das pessoas.
Mas que queria eu dizer com isto tudo? Na verdade, o que queria dizer era que acho interessante a perspectiva como as notícias são dadas: quando toca à Igreja tenta-se sempre encontrar o seu lado mau e, na sua ausência, arranja-se forma de haver. Quando toca a sexo, tudo é uma maravilha e tudo é “apoiado”. E não o digo só por causa da notícia de hoje, mas também por outras reportagens que já visualizei.
E, findo, desejando que E. L. James continue a ter sucesso, pois, como já referi, nada tenho contra o livro ou a autora, mas somente como as notícias por vezes são dadas. Deixo-vos uma questão final:
Porquê que tenta-se sempre diminuir aqueles que tanto bem fazem?




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

domingo, 23 de setembro de 2012

Conto Outonal


O quarto crescente sorria no alto céu. Nas ruas da pequena aldeia brilhavam alguns pequenos pontos de luz que aluminavam a pequena estrada. Apagaram-se há pouco as restantes luzes que ainda iluminavam esta ou aquela casa. Só a lua fazia companhia à noite quente de Verão.
Quando o relógio da torre da igreja acabou de bater a meia-noite surgiu, na noite escura, o vulto de um pequeno homem. Caminhava pelo meio da estrada e quando se acercou da luz, conheceram-se-lhe os traços do rosto.
Na cabeça trazia uma boina castanha, gasta pelo tempo, cobrindo os seus fartos cabelos brancos. O seu rosto era velho, enrugado pelos anos. Os seus olhos castanhos brilhavam no olhar que dirigia à lua, enquanto a sua mão coçava a barba branca e grande. Puxou do seu relógio da algibeira do seu casacão amarelado e, olhando para o grande relógio da igreja, confirmava as horas.
Olhou de relance a lua e disse:
-“Está na hora!”
Sobre o ombro trazia um escadote. Numa das mãos, latas de tinta amarela, vermelha e castanha. Na outra, as trinchas e pinceis.
Aproximou-se de uma árvore, montou o escadote e, com as latas de tinta numa mão e as trinchas na outra, subiu o escadote e começou a pintar as folhas da árvore. Ora as salpicava de vermelho, ora as pintava de amarelo e castanho. Pegava suavemente em cada uma das folhas, falava com elas, como se as conhecesse há muito.
Depois de uma árvore pintada, passava a outra. Dava-lhes, a todas, o mesmo trato, o mesmo carinho. Para este homem eram velhos amigos. Para elas, grandes companheiros.
A lua teimava em fugir, escondendo-se por detrás do horizonte. De repente, o velho homem saltou do escadote, abriu o seu casacão e tirou de lá uma corda. Fez-lhe um laço e atirou-a À lua. Puxou-a mais para o alto do céu e disse-lhe:
-“Ainda é cedo!”
Amarrou-a a uma árvore e subiu novamente para o escadote. A lua, contente por não ter que ir já dormir, brilhou ainda com mais intensidade.
Quando o relógio da torre marcava as seis horas, o velho homem já tinha percorrido todas as árvores da pequena aldeia. Desamarrou a lua e desejou-lhe boa noite. Arrumou a corda, tapou os baldes e dirigiu-se para o topo da aldeia. Olhou para trás e sorriu ao ver a sua obra de arte. De repente largou os baldes e as trinchas. Esquecera-se de algo. Apalpou os bolsos e retirou do bolso de dentro do casaco uma pequena caixa dourada. Abriu-a e sussurrou-lhe:
-“Já é hora.”
Um vento forte saiu da caixa e, percorrendo a aldeia, fez cair algumas folhas no chão, formando uma belíssima passadeira de amarelos, laranjas, vermelhos e castanhos.
Abriu outra caixa prateada e de lá voaram, suavemente, algumas nuvens que cobrira, os céus. O trabalho estava feito, era hora de descansar. De novo o homem desapareceu. Agora não na penumbra da noite, mas sim nos primeiros raios da aurora.
O velho homem era o Outono. Chegara e já começara a fazer o seu trabalho.



Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Carta ao meu avô!


Querido Avô,
Grande parte da minha vida te ouvi falar sobre o eu não saber o que é passar necessidades como tu passaste, o que é trabalhar de sol a sol e chegar a casa e quase nada ter para comer. Muitas vezes te ouvi falar do que é não ter tido a oportunidade de estudar, das muitas oportunidades que nós temos e que não tiveste. E sempre que te ouvia falar nisso, pensava ou dizia-te que os tempos são outros, que muita coisa mudou.
Quando comecei a estudar e a conhecer a história do nosso país, comecei a perceber aquilo que passaste, mas sempre com fé no futuro de não ter que viver certas coisas.
Lembra-me da maneira como falavas de António de Oliveira Salazar, a mágoa que brilhava nos teus olhos e a dor que transparecia nas tuas palavras. E eu não gostava, porque sempre tive uma boa imagem desse mesmo homem, que honrava a Pátria, a Família e, acima de tudo, Deus.
Ainda navegam nas águas da minha memória as tuas palavras quando dizias que não sabia/sabíamos o que era ter vivido uma revolução e todas as melhorias que ela trouxe, para ti e para os teus, as oportunidades que nasceram e a mudança que se deu.
Entre ti e eu há a diferença de uma geração. Vivemos em épocas diferentes, com coisas que tu não tinhas na tua adolescência e juventude. Muitas vezes ainda pensas que algumas coisas são como há cinquenta anos atrás. Mas não, avô, muita coisa mudou.
Mas hoje, nos tempos que vivemos, posso dizer-te que nem tudo mudou.
Muito te ouvi dizer que Salazar dizia que livraria os portugueses da guerra, mas não da fome. E sabes uma coisa? Salazar morreu pobre e foi enterrado num pedacinho de terra no Vimieiro, onde muitos pisam essa terra e lha querem tirar. Mas o pobre homem deixou os cofres do Estado cheios de ouro (sempre o ouvi dizer). Hoje não temos um chefe de estado, um ditador, mas temos políticos que irão morrer ricos, para não dizer riquíssimos. E sabes uma coisa? Falcatruaram os seus estudos para poderem tirar mais uns trocos do nosso bolso.
Sabes, avô, os tempos que correm não são tempos fáceis. As pessoas voltaram a emigrar para conseguirem sobreviver. A cada dia que passa, mais medidas de austeridade são anunciadas e, o pobre do povinho, cada vez mais pobre e esses ladrões cada vez mais ricos. No teu tempo fugias da Pide, com medo da censura e de ires preso. Hoje não somos censurados, mas parece que ainda vivemos nesse tempo do lápis azul.
Hoje olho para o Parlamento com uma visão sarcástica. Parece uma cambada de miúdos, como no teu tempo, a atirarem pedras a um pobre pássaro sem nenhum pensar que forma seria melhor apanhá-lo.
Pois é, avô, parece que nem tudo melhorou, somente mudaram as circunstâncias e a forma de protestar. Já não cantamos a “Grândola vila morena” nas rádios para iniciar uma manifestação. Fazemo-lo pelas redes sociais. Mas a “Grândola” ainda por cá mora, de maneira diferente. Os corvos agora escrevem discursos mirabolantes para tentar tapar os nossos olhos, mas ainda alguém dorme ao relento na areia, ainda alguém passa fome, ainda alguém desespera e mete um fim à vida. Hoje as prisões não são de cimentos e pedra, mas muitos parecem viver em autênticas prisões.
Muitas vezes te disse que precisávamos cá do Salazar, e tu dizias que não sabia o que era viver no tempo dele. Hoje eu digo-te que precisamos de um Salazar moderno, de alguém que ponha fim a esta vergonha e coloque as nossas economias estáveis. Alguém que não se importe de morrer pobre desde que tenha ajudado o povo. Estes corvos, avô, não se interessam por cumprir as promessas; não se interessam por aqueles que votaram neles e que lhes dão a oportunidade de meter mais um pouco ao bolso. E todos nós somos burrinhos, porque voltamos a votar nos mesmos, sempre que há eleições. Os ladrões são todos os mesmos, só mudam de nome ou partido.
Hoje, avô, eu temo pelo meu futuro. Não sei se amanhã terei um emprego. Hoje eu temo pelos meus, não sei se amanhã terão um trabalho. Hoje eu temo pelos que hão-de vir, pois não sei em que terceiro ou quarto mundo irão viver. Tememos arriscar. Calamo-nos para não perdermos o que temos. Hoje eu vivo com medo de uma revolução, ou com a adrenalina de uma. Precisamos de mudar, mas poucos são os que apontam caminhos…
Ao fim de tudo, não sei, avô, se mudámos para melhor ou para pior.
Teu neto,




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Discurso penoso!

Raramente vos falo de política neste blogue. E sabem porquê? Porque os meus conhecimentos sobre esse mesmo assunto são escaços. Contudo vejo-me forçado a falar-vos um pouco sobre os acontecimentos dos últimos dias, que tanto têm dado que pensar a alguns portugueses.
Esta semana, antes do jogo Luxemburgo - Portugal, o Senhor Primeiro Ministro deste país anunciou aos Portugueses mais medidas de austeridade, entre as quais o corte de um dos subsídios e o aumento da contribuição para a Segurança Social de 11% para 18%. Ora, é absolutamente natural que os Portugueses estejam descontentes com esta medida. Façamos contas: um cidadão deste país que ganhe 500 €, descontava para a segurança social cerca de 50€. Agora, com este novo desconto passa a descontar cerca de 90€. Sobram-lhe cerca de 410€. Pagando àgua, luz, gás e renda de casa, quanto lhe sobrará? 100? 150? E se tiver filhos?
Bem, na verdade este aumento veio tirar algum dinheiro do bolso dos portugueses.
Agora, no Facebook, o Senhor Primeiro Ministro veio dizer que foi um dos discursos mais penosos que teve de fazer. Se ainda não leram, deixo-vos as suas palavras:
"Amigos,

Fiz um dos discursos mais ingratos que um Primeiro-Ministro pode fazer - informar os Portugueses, que têm enfrentado com tanta coragem e responsabilidade este período tão dificil da nossa história, que os sacrificios ainda não terminaram.

Não era o que gostaria de poder vos dizer, e sei que não era o que gostariam de ouvir.

O nosso país é hoje um exemplo de determinação e força, e esse 

é o resultado directo dos sacrifícios que todos temos feito. Porém, para muitos Portugueses, em particular os mais jovens, essa recuperação não tem gerado aquilo que mais precisam neste momento: um emprego. Quem está nessa situação sabe bem que este é mais do que um problema financeiro - é um drama pessoal e familiar, e as medidas que anunciei ontem representam um passo necessário e incontornável no caminho de uma solução real e duradoura.

Vejo todos os dias o quanto já estamos a trabalhar para corrigir os erros do passado, e a frustração de não poder poupar-nos a estes sacrifícios é apenas suplantada pelo orgulho que sinto em ver, uma vez mais, do que são feitos os Portugueses.

Queria escrever-vos hoje, nesta página pessoal, não como Primeiro-Ministro mas como cidadão e como pai, para vos dizer apenas isto: esta história não acaba assim. Não baixaremos os braços até o trabalho estar feito, e nunca esqueceremos que os nossos filhos nos estão a ver, e que é por eles e para eles que continuaremos, hoje, amanhã e enquanto for necessário, a sacrificar tanto para recuperar um Portugal onde eles não precisarão de o fazer.

Obrigado a todos.
Pedro"


Bem, estas palavras não vieram consolar nenhum cidadão, apenas revoltá-los ainda mais. E disso é prova os cerca de 37000 comentários feitos a esta mensagem facebookiana. Eu, como cidadãos contribuinte, não pude deixar de manifestar a minha revolta e escrevi na publicação. Gostaria de partilhar convosco o que escrevi, mas os 37000 comentários já não me deixam encontrar. Contudo o país escreve, revolta-se, mas não sai para as ruas.
Precisamos de nos manifestar publicamente, de dar a cara. Estamos em crise, é certo, mas pouco vejo para que isso mude. O que vejo são cortes, tirar dinheiro do bolso dos portugueses e escrever mensagens bonitas no facebook. Os outros políticos, são como este. Apontam o dedo, mas não os vejo a apontar soluções. E o país avança e morre. E o país avança sobre os cadáveres daqueles que pouco têm para comer. E o país avança e os ladrões são sempre os mesmos. Bem dizia o Variações que "o povo é que paga". E há quantos anos? Tudo continua nos mesmos moldes. O povinho a pagar, o estado a gozar.
Há uns tempinhos, o Senhor Primeiro Ministro aconselhou os jovens a emigrarem, a deixarem o seu país, para irem para um país estranho. Pois bem, Senhor Primeiro, o meu irmão estudou em Portugal, formou-se neste país, pagou propinas neste país. E quando acabou o curso, que garantias teve de que este mesmo país lhe daria um emprego, por mais reles que ele fosse? Nenhumas. E ao fim de seis meses à procura de um emprego, partiu parao estrangeiro, ele e muitos como ele, onde agora se encontra bem, com um emprego seguro e projectospara um futuro longe de Portugal. E é assim, que vossa senhoria, quer que o país ande para a frente, levando para o estrangeiro, o futuro deste país. E agora pergunto: que garantias tem este país para o futuro? Nenhumas. Somos uma população envelhecida e todos nos queixamos de que os casais dos dias de hoje só têm um ou dois filhos. Pois, compreendo os jovens pais deste país. Ter um filho, nos dias que correm, acarreta vários custos e com o aumento de impostos, contribuíções e outras coisas mais, mal resta para educar um filho com garantias para o futuro.
Pois bem, Senhor Primeiro Ministro, o país está num caos. Bem sei que não é fácil dirigir um barco que está a afundar-se e que somos culpados de tudo. Mas no seu caso é diferente. O senhor não tenciona salvar o barco, mas sim afundá-lo, tentando salvar todo o ouro que os outros piratearam durante tanto tempo. O que o senor deseja é que não lhe metam a mão no bolso, mas mais preocupado em meter a mão no bolso dos outros. Escrevo-lhe com um sentimento de pouca caridade.
Exagéro? Talvez. Mas lembra-se como era difícil entrar na universidade aqui hà uns anos atrás? E este ano as vagas da primeira fase nao ficaram todas completas e, em alguns cursos, o último candidato a entrar tem uma média de 9,6. Vergonhoso, não?
Sempre achei fundamental que não se cortasse na educação e na saúde, bases fundamentais para uma vida com alguma qualidade. E que faz vossa senhoria e o seu governo? Cortam na educação e na saúde. Subsídios para jovens com poucas possibilidades poderem estudar, são cada vez menos. Os manuais cada vez mais caros, sem falar noutras variantes. Na saúde já nem se pode ir às urgências por causa do que se paga. Parece que a saúde é só para os ricos, e não para todo o povo.
Não me alongo mais, porque muitas podiam ser as queixas que aqui se poderiam apresentar contra vossa senhoria e os seus ministros. Não votei em si, e ainda bem. Pessoas como o senhor corromperam o sentido da verdadeira política, e isso envergonha-me. Dirijo-me às urnas, sempre que solícitado, por ser um dever meu como cidadão empara aqui poder escrever estas palavras de revolta. Peço a vossa senhoria que utilize um pouco do seu tempo de ócio para ler os comentários que lhe deixaram na sua querida mensagem que bem daria uma peça de teatro, fingindo uma tristeza que não sente.
Atenciosamente, deste seu amigo, e repare que ironizo, 
Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Praia

Há locais, comuns a toda a gente, que nos trazem memórias e nos fazem viajar no tempo.
Hoje, na praia, olhando para o meu afilhado, voltei atrás no tempo, aos verões da minha infância.
Olhando-o, revi-me a brincar com os meus irmãos, primos e amigos. Relembrei os castelos na areia, as bolas de areia, os papos-secos, o forte de Carcavelos, os carangueijos, apanhados entre as rochas e colocados nas costas do meu avô; os almoços na mata, as fugidas à praia com a tia-avó. Tantas e tantas as recordações que a simplicidade do meu afilhado me fez recordar.
Para mim foi um dia normal de praia, mas para o meu afilhado, um dia mágico.
Ficam algumas fotos para marcar este dia ;)!





















Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Segundo aniversário!

Olá amigos!
Hoje, independentemente de todo o meu cansaço e fadiga, não podia descansar sem vos escrever umas palavrinhas.
Há dois anos saíu este blogue para o ar! Dois anos de partilha, dois anos de lágrimas e sorrisos. Dois anos de descoberta, dois anos de aventura.
E neste espaço de tempo, muita coisa aconteceu. Conheci pessoas que me marcaram a vida, perdi pessoas que amava. Conheci coisas que desconhecia, aprofundei coisas que já sabia.
Muitas foram as criticas que ouvi, os comentários desagradáveis. Mas nada disso me fez abandonar este continha onde eu comunicava com o mundo, onde eu partilhava as minhas alegrias e também as minhas tristezas.
Ao longo destes dois anos, este espaço meu, foi um rosário de amargura e alegrias. Ao longo destes dois anos, quem por aqui passava, descobria um pouco mais de mim.
Dois anos de sonhos, de música e de muitas coisas mais.
A todos vós eu agradeço, por me visitarem neste local, por me desafiarem, por me apoiarem quando as coisas pareciam correr mal. A todos vós o meu muito obrigado, o meu maior agradecimento.
Contudo, neste momento de alegria, também vivo momentos de tristeza.
Peço desculpa, mas não poderia deixar passar este momento sem recordar aquele que foi o tema da minha primeira mensagem: o meu querid amig Paulo. Foi ele, que no inicio, me incentivou a escrever-vos, mesmo não estando cá para poder. Anda hoje, dois anos depois, sinto saudades tuas. O meu pensamento dirige-se, também, a um conhecido meu, que neste momento passa por uma situação difícil.
Também agradeço àqueles que sempre me incentivaram a continuar a escrever. Nomes, não são necessários, pois sabeis bem quem sois.
Parabéns ao Partituras de um Sonho!

Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

domingo, 20 de maio de 2012

Silêncio e palavra

Ainda que um pouco tarde, partilho convosco uma pequena reflexão/comentário da Mensagem do Papa Bento XVI para o 46º DiaMundial das Comunicações Sociais, sob o título de "Silêncio e palavra: caminho de evangelização". Uma vez mais, para mim, as palavras do Sumo Pontífice se tornaram fonte de reflexão, que partilho convosco. O silêncio e a palavra são "dois momentos de comunicação que se devem equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter um diálogo autêntico e uma união profunda entre as pessoas". A exclusão da palavra e do silêncio leva à deterioração da comunicação. Mas se integradas mutuamente "a comunicação ganha valor e significado". Num mundo/sociedade onde o silêncio é deixado de lado, evitado, o Papa alerta-nos sobre a sua importância, pois nesta "parte integrante da comunicação" é a oportunidade de nos conhecermos e de escutarmos aquilo que de melhor há em nós, aprofundando o pensamento e clarificando aquilo que ouvimos. No diálogo, que muitas vezes se torna um monólogo, é importante calar, deixando que o outro se exprima e fale, abrindo, desta forma, "um espaço de escuta recíproca e torna-se possível uma relação humana mais plena". E é neste silêncio que conseguimos identificar "os momentos mais autênticos da comunicação entre aqueles que se amam" pelos gestos e expressões. "No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento, que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão". Se a informação é abundante, é necessário o silêncio para discernir entre o útil e o inútil. Também nas redes sociais, onde se procuram respostas, sugestões e informações, é necessário o "discernimento entre os inúmeros estímulos e as muitas respostas que recebemos". O valor do silêncio manifesta-se, assim, de uma grande importância e algo bastante necessário, pois este "pode ser mais eloquente do que uma resposta apressada, permitindo [...] descer até ao mais fundo de si mesmo e abrir-se para aquele caminho de resposta que Deus inscreveu no coração do homem". E quando nos encontramos sós no silêncio, pensamos que aquele silêncio é algo doloroso. Mas o Papa diz-nos que "a solidão e o silêncio constituem espaços privilegiados para ajudar as pessoas a encontrar-se a si mesmas e àquela Verdade que dá sentido a todas as coisas". A Cruz de Cristo é exemplo do diálogo sem palavras de Deus, pois "no silêncio da Cruz, fala eloquência do amor de Deus vivido até ao dom supremo". Findo, deixando-vos o convite à leitura desta riquíssima mensagem, onde o silêncio nos é manifestado de um forma diferente, pois "a contemplação silenciosa faz-nos mergulhar na fonte do Amor".


 Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Auto-destruição


Uma vez mais me encontro, aqui, a falar-vos sobre algo que a mim me perturba.
Há uma frase que a mim me diz muito, uma frase de um historiador chamado Will Durant. Reza, então, assim a frase: “Uma grande civilização não pode ser conquistada por fora, antes de se destruir por dentro”. E no que vos quero falar hoje esta frase adequa-se na perfeição (a meu ver).
Já não é a primeira vez que ouço este senhor falar e já não é a primeira vez que me revolto com as suas palavras.
A primeira vez foi na televisão, num debate sobre a decadência de fiéis na Igreja Católica. Hoje, enquanto procurava umas coisas no YouTube, encontrei um filme, já velho, em que ele acusa tudo e todos e que Fátima é uma autêntica mentira. Contudo, devido às suas afirmações, eu decidi-me a escrever-vos sobre este assunto e a ouvir as vossas opiniões.
As declarações foram feitas na altura em que o Papa veio a Portugal.
Em primeiro lugar este padre afirma que as crianças, as videntes, foram vitimas de uma montagem do clero de Ourém e que este é um caso tão ou mais grave que os casos de pedofilia na igreja.
Em segundo, este mesmo homem afirma que os sacrifícios que os pastorinhos faziam eram por causa da imagem que os padres transmitiam do inferno aos fiéis nas suas pregações. Diz também que as crianças morreram da pneumónica por causa dos sacrifícios que faziam e que a Lúcia sobreviveu pois não era tão sensível à história da conversão dos pecadores e que talvez ela tenha percebido que aquilo era tudo uma história inventada pelos padres de Ourém. Como a Senhora de Fátima não valeu às duas crianças, Lúcia foi encurralada num mosteiro para toda a vida, algo como um crime.
Fátima transformou-se em ‘Fátima SA’, uma empresa que dá muito dinheiro à Igreja em Portugal e ao Vaticano e se o Papa vem a Fátima é porque as finanças do Vaticano estão em baixo e Fátima tem de fazer chegar uma avultadíssima verba ao Papa, apesar de este não ir de mãos a abanar. Esta farsa de Fátima é importante por causa do dinheiro e por causa das multidões para dizer que são poderosos em gente e que mais nenhuma igreja em Portugal tem tanta gente.
Bem, agora chega a altura de eu retaliar as palavras deste homem.
Em primeiro lugar interrogo-me se este homem sabe que as aparições em Fátima não são dogma de fé, bem como as aparições de Nossa Senhora em outros locais, como Lourdes, por exemplo.
A teoria de que os pastorinhos terão inventado tudo ou do esquema dos padres está mais que ultrapassada, mais do que esmiuçada e sem sumo nenhum. E que dizer de todas as pessoas que viram o Milagre do Sol? e das visitas do Anjo? E dizer que é um crime tão ou mais grave que os casos de pedofilia é, sem dúvida, uma das maiores asneiras que este homem disse.
Quanto aos sacrifícios foram feitos pelos pastorinhos de livre vontade e a visão que eles tinham do inferno, o temor que eles tinham, foram da visão que tiveram e não das imagens que os padres passavam nas suas homilias. E verdade seja dita, qual era a criança daquela idade que estava atenta às palavras do padre, quando a missa era em Latim?!? Mas tudo bem. Sim, é verdade que Francisco e Jacinta morreram devido à pneumónica e que Lúcia sobreviveu. Mas não era isso que a Senhora tinha dito aos videntes? Que a Lúcia ficaria mais tempo na terra e que os outros Ela os levaria primeiro?
Agora vamos ao ‘Fátima SA’.
É puramente verdade que, quem não conheça bem o Santuário de Fátima, pense que todo o comércio que envolve o Santuário seja pertença deste ou que este o motive. Mas a verdade é que as coisas não são bem assim. Dentro do recinto do Santuário não há comércio, pois o único que existe é das velas. O Santuário tem duas livrarias, mas fora do recinto. Ao longo do Caminho dos Pastorinhos, onde se encontra a Via Sacra até ao Calvário Húngaro, ou até Aljustrel, o Santuário tem tido a preocupação de comprar os terrenos para que hotéis de luxo, comércio e coisas assim, não sejam construídos junto ao caminho, proporcionando aos peregrinos/turistas, um clima de paz e que chame à oração. Mas, para mim, a pior afirmação é de dizer que o Papa só vem a Fátima para vir buscar dinheiro… Uma afirmação um pouco grave, não?
Voltando à frase inicial, muitos são os que querem destruir a Igreja Católica, mas parece que são aqueles que estão dentro que a vão destruir. Preocupamo-nos com o que os outros dizem sobre a nossa Igreja, aquela que foi edificada por Cristo, sobre Pedro, e não nos preocupamos com o que aqueles que são Igreja dizem, apesar de serem as maiores atrocidades.
Deixei-vos uma análise feita por mim, fundada na minha opinião e nos conhecimentos adquiridos. Deixo-vos a entrevista de que vos falei para que tirem as vossas conclusões (aqui).




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

terça-feira, 17 de abril de 2012

No words!


Farto de frases feitas. Farto de todas aquelas frases bonitas que dizem tanto ou tão pouco. Preciso de sentimentos, de coisas concretas e possíveis de se sentir.
Nada neste mundo é tão fácil quanto parece. Ao início até pode parecer fácil, mas, como vem sempre um mas, vem também sempre um depois. E depois?
Sinto tanta vontade de escrever, desabafar, mas não consigo. Chega a hora de pousar a caneta no papel, ou os dedos nas teclas, e tudo parece desaparecer.
Deparo-me, muitas vezes, comigo a desejar coisas tão contrárias àquilo que eu sou. Não sei.
A chuva começou a vir e eu ouvia-a a bater suavemente no vidro da clarabóia. Desejava ardentemente estar lá fora, debaixo daquela chuva, mas simplesmente não podia. Voltei a concentrar-me no que fazia, esperando que as horas passassem. Mas elas pareciam redobrar cada minuto. Caiu a noite e eu finalmente pude ver-me livre de tudo o que me rodeava.
O dia mudou e eu vagueava pelas ruas desertas. A chuva caía miudinha e calmamente. O nevoeiro cerrava-se a cada passo, retirando da minha visão aquilo que eu tantas vezes gosto de ver. E ali estava eu, no meio da rua, com a chuva a cair e rodeado de nevoeiro. Sentia-me no mundo mas ao mesmo tempo tão distante dele. Até que a lágrima caiu e me fez despertar.
De guarda-chuva a servir de bengala, caminhei até casa, onde me voltei a fechar. Não tenho vontade de sair, de ver as pessoas. Somente aquelas que estão longe é que eu quero ver.
Faltam-me as palavras, falta-me a inspiração. É assim quando não conseguimos nem compreender o nosso coração. Queremos tudo e ao mesmo tempo nada. Nada nos sacia. Tudo nos aborrece.
Fechamo-nos num mundo tão só nosso que é difícil de explicar, difícil de demonstrar, difícil de viver. E tudo aquilo que é tão só nosso, somente a nós pertence.
A porta do quarto fechada, proporcionando-nos a solidão, faz-nos sentir tudo aquilo que escondemos durante o dia. Não há fuga possível. Os sentimentos, pensamentos e emoções vêm ao de cima com o silêncio. E é neste silêncio que tantas vezes nos encontramos. É neste silêncio que encontramos aquilo que não pode ser encontrado no meio da multidão.
Mas este silêncio tão bom pode ser um punhal, cravado nas costas, sem que alguém saiba, pois a ferida sara antes de alguém conseguir ver.
Preciso de silêncio, mas longe destas paredes. Preciso do silêncio da liberdade, do vento dos tempos áureos, da alegria das estrelas e do sorriso da lua.
Mas eu fechei-me para o mundo. A vontade enorme de adormecer suavemente, de sonhar com os meus momentos de felicidade e no fim entrar no sono profundo atormenta-me durante a noite. Quero viver e livrar-me destes grilhões que me aprisionam. É a morte o meu destino, mas esse fado cumprir-se-á num tempo distante. Não, não é agora, ainda que essa fosse a vontade de muitos.
Abro o livro em cima da mesa, e saltam-me as palavras à vista. O infortúnio, o peso da tristeza, o sentimento de solidão e esquecimento preenchem as páginas deste livro. E como eu conheço cada palavra destas páginas, cada vírgula e cada interrogação. Eu conheço cada sílaba, cada acento. É a história da minha vida, são as palavras do meu passado, as interrogações de outrora. Sou eu, eu e mais ninguém.
Fecha a mala das recordações, a mala do tempo.





Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Ainda me lembro...

Ainda me lembro do dia em que nascestes e acho que nunca o poderei esquecer. Ainda me lembro que tinhas apenas algumas horas quando vieste pela primeira vez a meus braços. Tu podes não te lembrar, mas eu lembrar-me-ei eternamente e estarei aqui para te contar quando um dia quiseres saber.
Ainda me lembro de que tinhas uma cabecinha tão pequena que cabia na minha mão e todos à nossa volta se admiravam. Ainda me lembro de como tinha medo de te partir.
Mas tu fostes crescendo e eu sempre que pude estive a teu lado. Tu não te lembras, mas eu sim, de como o teu pai teimava em como eu era teu tio. E tu fostes crescendo, lentamente. E eu via-te crescer, rindo das tuas pequenas traquinices, das tuas brincadeiras.
Recordo ainda o momento e as palavras de quando me escolheram para teu padrinho. Recordo ainda o que senti e a felicidade que vivi. 
Bem sei que agora não consegues ler estas palavras, muito menos compreende-las. Mas talvez um dia as queiras ler, as consigas compreender.
Espero ser para ti tudo aquilo que desejas, poder estar a teu lado sempre que desejas, ver-te crescer e ajudar-te a crescer.
Mas agora, o que quero, é mostrar a todos o que sinto por ti neste dia do teu aniversário. Feliz aniversário querido afilhado.
Teu padrinho...




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

sábado, 31 de março de 2012

Caixinha


A porta fecha-se e eu deixo-me estar na escuridão do quarto. Não me apetece ver luz, o brilho das estrelas ou o esplendor da lua. Quero unicamente a escuridão.
Hoje abri uma pequena caixa de madeira. Uma pequenina caixa sem nada lá dentro. Ou melhor, nada de visível. Mas a verdade é que despontou em mim uma vez mais um sentimento de tristeza, saudade. Lá dentro, dessa caixinha, o amor e sentimento de pessoas que estão distantes, pessoas que eu conheci e recordo. Ou mesmo daquelas que eu não conheci. Dentro daquela caixa não estavam só aqueles que a fizeram, mas todos aqueles que, por uma razão ou outra, marcaram a minha vida.
E agora, aqui, na escuridão do quarto, ninguém sabe se rio ou se choro, se relembro ou tento esquecer. Mas nada disso importa. Só eu resido, juntamente com todos os livros e objectos deste quarto, no silêncio do escuro. Lograsse eu em ficar sempre aqui, sem que as memórias me assaltassem, ou a voz de fulano ou sicrano me incomodassem. Mas não posso, porque o sol voltará a erguer-se, a lua voltará a brilhar e as estrelas a brilhar.
Já não me lembro do que sonho, já não me lembro de mim. Mas de que me vale ficar eternamente apegado àquilo que já passou? O que passou, passou e a única coisa que sobra é o presenta, nada mais.
Agarramo-nos a tanta coisa… Mas para quê? Elas são passageiras e não eternas. Só na lembrança se tornam eternas e intemporais. Mas são essas mesmas memórias que por vezes nos destroem. Não compreendes? Nem eu! Nem eu compreendo o porque de tanta coisa, as razões de tanta coisa, tanta coisa.
Não podemos compreender tudo, e eu nem metade da metade consigo compreender. Mas sou julgado, sentenciado e condenado. Não tentes compreender-me se nem eu próprio me entendo a mim mesmo.
A vida tem que seguir o seu rumo e eu não posso ficar preso a estas coisas. Mas já nem do que sonho me lembro. Triste, desgostoso, pesaroso.
Visto o casaco e saio para a rua. Tenho de me afastar de toda esta escuridão de toda esta melancolia ou seja lá o que for que me faz sentir tão mal.
A rua está deserta, o céu nublado e o vento frio. E aí estão as características daquilo que estou: deserto, nublado e frio.
Não me julgues pelas minhas palavras. São unicamente isso: palavras. São uma forma de eu me libertar. Não critiques as minhas palavras, porque elas são unicamente isso: palavras. E as palavras podem ser tão ocas e vazias. Mas também podem ser cheias e completas. Só a ti te dirão o que são, porque a mesma palavra pode ter para mim um sentido que tu nunca compreenderás. Mas essa mesma palavra pode ter para ti um sentimento que eu nunca compreenderei.
Olhei-me ao espelho e senti-me só. Mas as palavras fizeram-me sentir o contrário. Olhei o mundo e ele parecia-me cinzento, mas as palavras deram-lhe cor. Procurei o coração e ele não estava. Mas as palavras fizeram-mo sentir.
Mas para ti tudo pode ser diferente.
Mas porque falo eu como se falasse para alguém? Bem, falo para ti, leitor, que vieste até aqui, impelido sabe-se lá porquê, e lês estas palavras. Falo para ti, leitor, que me julgas ou me apoias no teu pensamento. Falo para ti, leitor, que eu desconheço mas que me dás força para escrever. Falo para mim porque…




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quinta-feira, 29 de março de 2012

Não sei...


Não sei o que sinto.
Já tentei iniciar este texto umas três ou quatro vezes, mas tudo parece tão errado na maneira de começar.
Aquilo que sinto, nem eu sei explicar. Sinto um vazio enorme e uma vontade enorme de escrever, mas sem saber o que escrever.
Apetece-me escrever poesia, negra e fria, cheia de dor e tristeza. Mas para quê? Nunca tive grande jeito para poesias. Se gosto de poesia? Sim, muito, mas nunca fui poeta. Também não admira que nunca tenha tido jeito para a poesia, pois nunca tenho jeito para aquilo de que gosto. Mas para quê escrever e ocultar nas palavras a dor ou a alegria que sinto, a saudade ou a presença se ninguém compreenderia? É preciso nascer-se poeta. Um poeta não se faz, um cantor não se cria, um pintor não se molda. Nasce-se assim. De nada vale dizer-se que não é verdade, porque todos o sabemos que quem não nasce com esse dote nunca o adquire. Uns nascem com tendência para a música, outros para a poesia; uns para a pintura, outros para o desenho. Uns para a fama e outros para a popularidade. Há ainda uns outros que nascem como eu: com vontade de muita coisa e sem jeito para nada.
Divago pelo mundo, sozinho e solitário. Os pássaros voam no alto céu, em bandos. Esses não conhecem a solidão. Os peixes nadam no mar, em cardumes. Esses também não conhecem a solidão. As gazelas correm pelos prados, em grupo. Essas também não conhecem a solidão. Mas o homem, que anda ou não em grupo, em bando ou em cardume, conhece a solidão. Triste homem que te sentes só. Mas para quê generalizar? Não sou só eu que me sinto só? Bem, talvez sim, talvez não.
Mas que dizer? Que só um vazio mora dentro de mim.
Quem dorme à noite comigo é meu segredo, mas se insistirem lhes digo: o vazio.
Mas é a vulgaridade da vida que me faz sentir assim.
Não, não vale a pena esconder a lágrima que cai. Não sei porque choro. Não sei porque chora o homem. Também não sei muita coisa. Mas como compreender o homem? Porque chora o homem? De dor? De saudade? Pelo vazio? Pela ausência? De alegria? De júbilo? De recordação? Não sei. São mais a interrogações que as respostas. Mas deixai-me chorar. Deixai-me chorar por aquilo que me falta, por aquilo que sinto ou por aquilo que perdi e só na recordação reside. Deixai-me chorar por algo ou por nada. Deixai-me chorar um pouco. Ou até chorar de mais. Muitas vezes ouvi dizer que a lágrima era a palavra não dita. Pois bem, deixai-me chorar por todas as palavras que devia ter dito, por todas as frases que deveria ter formulado, por todos os pensamentos forçados a serem apenas pensamentos. Deixai-me chorar por mim, por aqueles que deixaram um lugar vazio e por todos aqueles que ainda cá estão. Deixai-me desabafar pelas lágrimas.
Como é tão facilmente o homem obrigado a reprimir tudo isto dentro de si, a acumular sem poder exteriorizar somente porque os outros pensam isto, aquilo ou por sabe-se lá o quê! É sempre mais importante o que exteriorizamos do que aquilo que sentimos. Ah, malditos estereótipos que nos fazem reagir assim! O homem não chora. Pois bem, se eu não poder derramar as minhas lágrimas, não quero ser homem.
Perdi em muito por todos estes estereótipos. Deixei de ser, passei a não ser.
Queria ser livre, mas sempre estive preso. Queria ser livre, mas nunca pude voar. Queria ser livre, mas nunca pude nadar. Queria tanta coisa, mas nunca pude. Tudo por causa destes malditos estereótipos que nos são postos automaticamente, sem que nos apercebamos disso.
Mas não ligues. Isto são só palavras de um louco, perdido num mundo desconhecido. São só pedaços de um sonho há muito esquecido, recordado, esquecido e recordado. Pois há certas coisas que muito facilmente se esquecem. Outras que muito facilmente se lembram. E eu, um louco num mundo desconhecido, que sempre lembra e nunca esquece. Nunca esquece e sempre lembra de tudo aquilo porque passou, por tudo aquilo que viveu. E essas recordações fazem sorrir e fazem chorar. E essas recordações trazem calma e inquietação. E essas recordações trazem alegria e dor. Mas que importa? São só recordações minhas e não de mais ninguém. Porque mais ninguém recorda, lembra, revive.
Mas ri-te. Ri-te de mim e destas palavras, já não me importa. Só eu sou o louco que continua a acreditar, num acreditar infinito…




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa