quarta-feira, 16 de março de 2011

"Grito no vazio..."

O sol passou o horizonte e eu estou sentado na areia da praia.
A meu lado jaz o caderno de rascunho que me acompanhou durante muito tempo. Finalmente está acabado. O livro está pronto.
Escrevi durante meses, e este é o quarto caderno escrito.
Comecei a escrever. No início escrevia com muita facilidade. Mas, para concluir foi extremamente difícil, ppois não sabia o que escrever.
Amanhã irá para a redacção e dentro de um mês estarei numa sala, cheia de gente hipócrita, que nunca lerão estas palavras, mas que sorrirão como se estivessem ansiosos para o ler.
Já não é a primeira vez que passo por isso. Posso até dizer que isto é um ciclo vicioso. O primeiro é lido por algumas pessoas. O segundo lido por menos que o primeiro. O terceiro permanecerá na estante, sem nunca ser aberta.
Pois, isso acontece por alguma razão. Não por fruto do acaso. Mas tenho respostas para isso.
Em primeiro lugar, pode dar-se o caso de a escrita não ser boa, de o autor não saber escrever, na verdade. Outra razão pode ser pela capa do livro que não é chamativa, e levar a que ninguém o compre. Em terceiro lugar o nosso nome próprio, a nossa foto, o nosso estado perante a sociedade. É verdade, hoje em dia só se safa quem tiver um nome conhecido, que toda a gente decora, associa. Temos que ter um nome chamativo.
Pensei, no lançamento do meu primeiro livro, em adoptar um pseudónimo. Mas penso que tenho de assumir o que escrevo e, dessa forma, lancei com o meu nome. Poderia ter sido de outra maneira, mas não foi.
Depois, o nosso estado perante a sociedade. Ser-se conhecido por meio mundo traz grandes vantagens. Pode conseguir-se um bom número de admiradores, ter até um grupo de admiradores; vender cerca de mil exemplares num único mês.
Mas, para mim, é-me indiferente.
Escrevo por paixão, por amor. Não escrevo para ouvir boas ou más palavras dos críticos. Escrevo, não para ser um autor de best sellers, mas sim para dar a conhecer ao mundo o que penso.
Não sinto inveja, mas sou humano e isso toca-me um pouco.

A noite já se instalou e Sirius já brilha lá no alto. Deito-me para admirar o firmamento.
Há uns anos não sabia o nome de uma única estrela. Minto, conhecia a Polar, nada mais. Mas comecei a interessar-me pelo firmamento.
Orionte está pronto para matar o Touro, enquanto o Cão Maior admira a cena, esperando pelo seu dono. Bem, as coisas não são bem assim, mas foi como as fixei.
O frio chegou, chegando a hora de voltar a casa, para descansar. Pego no caderno e volto para a minha casa, envolvida na bruma da noite fria. Fecho a porta atrás das costas, subo ao andar superior e deito-me.
Este será o meu último livro. Não porque não tenha vontade de voltar a escrever, mas sim porque o tempo escasseia, e dentro em breve terminará para mim.
Talvez depois tenham valor…




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

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