Estou sentado à secretária, com as folhas brancas como a cal, espalhadas por todo o lado.
Em cima da secretária jaz também o tinteiro, meio cheio ou meio vazio, com a tinta preta que não dá sinais de qualquer perturbação.
O álbum das minhas recordações está aberto, e nele repousa a velha pena, com a qual escrevi tantas vezes.
Olho para ela relembrando todas aquelas palavras que com ela escrevi.
Mas agora não tenho mais vontade de escrever, de pegar na velha pena e fazê-la roçar sobre as folhas brancas. Não tenho mais vontade de ouvir aquele som, de ver a tinta a manchar o papel.
Já esqueci o tilintar da pena no tinteiro, e tudo agora me parece vago, sem memória.
Desisti dos meus sonhos, de tudo aquilo que me concretizava.
Fui levado para vícios que me prenderam e me fizeram desistir de tudo.
Na calada da noite, a minha consciência falava-me. Impedia-me de dormir.
Andei errante, sem destino. Todos aqueles que amava afastaram-se de mim, e eu não fui capaz de me aproximar deles novamente.
Mas numa noite, o meu coração dividido em dois falou-se. Na frieza da noite segredou-me ao ouvido, abrindo-me os olhos. Ah, como eu andava errante. Dentro de mim nasceu uma grande vontade, uma vontade de falar a alguém. O meu coração dividido em dois, metamorfoseou-se em amigos, que eu tinha esquecido.
Aí eu abri o meu pensamento, derramei lágrimas, fiquei zangado comigo mesmo, pensando que isto não ia ter um fim.
Agora olho o meu escritório. A porta está aberta e lá longe consigo ver o meu piano onde passei inúmeras horas. Em cima dele o velho violino que tem passado de geração em geração e que tanto amor lhe tenho.
O pó amontoou-se em cima deles.
Quero de novo em mim a vontade de escrever…
Pego na pena, molho-a no tinteiro, recordando o seu tilintar… A pena mancha o papel com algumas palavras…
Folhas e folhas ficam borradas de palavras.
Na minha alma, há novamente o anseio de escrever!
Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa
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