sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sexta-Feira Santa

Esta foi a noite: a noite em que o Senhor entrou em agonia; a noite em que o Senhor foi entregue; a noite em que foi apresentado ao Sinédrio; a noite em que Pedro O nega.
Hoje, Sexta-Feira Santa, celebramos a morte do Senhor.
Em cada Eucaristia, a Igreja celebra sempre a Morte e Ressurreição do Senhor, formando o Mistério Pascal. Contudo, nesta Sexta-Feira Santa é consagrado um Rito Comemorativo que, por norma, se realiza à hora em que o Senhor morreu.
Depois da Ceia, Jesus seguiu para o Monte das Oliveiras. Nesse local «Jesus experimentou a solidão extrema, toda a tribulação de ser homem. Ali, o abismo do pecado e de todo o mal penetrou até ao fundo da sua alma. Ali foi assaltado pela turvação da morte iminente. Ali O beijou o traidor. Ali todos os discípulos O abandonaram. Ali Ele lutou também por mim» (Joseph Ratzinger/Bento XVI – Jesus de Nazaré II, pag. 126).
Perante a visão do seu futuro, Jesus treme perante o medo da morte. É tentado pelo demónio, e um Anjo do Céu vem ter com Jesus para O confortar. Mas nesse mesmo momento Jesus assume a condição, que sempre foi sua, de sumo-sacerdote: «É precisamente no seu bradar, chorar e rezar que Jesus faz o que é próprio do sumo-sacerdote: Ele leva o tormento de ser homem para o alto, rumo a Deus. Leva o homem à presença de Deus» (Idem, pag. 137).
É então que Judas, por trinta moedas de prata, entrega Jesus. A ambição, a ganância daquele discípulo leva a este acto. Mas, depois, ele reconhece o seu erro: devolve as trinta moedas em troca da libertação de Jesus. Mas será Judas um extremo pecador? Será ele, na verdade, o criminoso? Ou tudo se passou para que Jesus pudesse cumprir totalmente a sua missão?
Mas Jesus é entregue às autoridades do Templo e levado à presença do Sinédrio. Ali, são ouvidas testemunhas, muita coisa é dita, mas somente o Homem-Deus permanece calado.
Perante a pergunta «Tu és, então, o Filho de Deus?», Jesus responde simplesmente com um «Vós o dizeis; Eu sou!». Perante esta afirmação, o sumo-sacerdote grita «Blasfémia» e rasga as suas vestes: rasga-as não por estar enervado, mas sim como sinal de indignação prescrito ao juiz em exercício perante as blasfémias.
Enquanto Jesus era julgado perante o Sinédrio, Pedro misturou-se com a multidão para conseguir saber o que se passava dentro do Sinédrio. Eis que uma mulher o reconheceu e questionou-o sobre a sua ligação com o Homem que estava a ser julgado: Pedro negou. Novamente, um dos homens que ali se encontrava o fez, e Pedro nega pela segunda vez. Depois de questionado novamente Pedro nega pela terceira vez: eis então que o galo canta, e Pedro recolhe-se chorando amarguradamente.
Jesus é levado, então, à presença do governador romano Pôncio Pilatos. Este não encontra em Jesus um motivo de condenação, mas apenas um “rebelião” da Tora, e isto a ele não lhe interessava. Mas Pilatos assombra-se perante a ideia do Filho de Deus. Assombra-se também perante a rebelião que dali pode vir a surgir: é o dia da parasceve (preparação) para a festa da Páscoa e, uma rebelião nessa altura, viria trazer graves problemas ao governador.
Mas Pilatos, segundo alguns evangelistas, depois de avisa pela sua mulher, tenta por três vezes libertar Jesus, mas todos os seus esforços são em vão: o povo grita «Crucifixão» e Pilatos cede.
Jesus é flagelado e levado para o Gólgota. É pregado numa cruz onde sofre em agonia. Mas até na cruz Ele é salvação: um dos condenados confia n’Ele pedindo-Lhe que o receba no seu reino.
Motivo de escárnio, Jesus chama por Deus numa evocação ao salmo 22 («Eli, Eli, lemá sabachtháni»).
E por volta da hora nona, Jesus lança um forte brado entregando a Sua alma nas mãos do Seu Pai que nunca o deixou: «Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito».
O véu do tempo rasgou-se, e Jesus morre.
Ele é, então, coroado da Sua glória: naquele momento a sua coroa é de espinhos, o Seu ceptro são os cravos, o Seu trono a Cruz. Esta que é a nossa salvação.
Desta forma, a celebração de hoje é de Adoração da Santa Cruz.
Pela noite, a procissão do Enterro do Senhor que nos recorda o acto de José de Arimateia que dá o túmulo que tinha criado para si, para lá se depositar o corpo do Senhor.
É este o dia dos grandes acontecimentos. Jesus é traído; Jesus é negado; Jesus é julgado; é flagelado e caminha com a cruz às costas; é ajudado por um desconhecido; é crucificado; entrega a Maria toda a humanidade na figura de João; morre na cruz; é descido e colocado nas mãos de sua mãe; é sepultado!




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

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