segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Cidade fantasma...

Entrei pelas muralhas na esperança de encontrar uma cidade movimentada, como há muito não encontro.
Nas muralhas nem guardas nem vigilantes. Apenas uma velha porta entreaberta.
Abro a porta e deparo-me com um túnel. Ao longe, no fim do túnel, uma luz brilha, impossibilitando-me de conseguir ver para além dela.
Percorro em direcção à luz, esperando o contacto com as pessoas. Há cerca de um mês que não falo com ninguém, não vejo ninguém. Tenho andado a vaguear pelos desertos, conhecendo o que todos dizem ser igual.
Muitas vezes penso ter-me perdido, andado em círculos, sem ver alma viva.
Cheguei a delirar. Há quem tenha ilusões de Arens. Mas eu não. Cheguei a pensar que tinha visto um belo rapaz. Cabelos loiros, estatura média e com um grande cachecol pelo pescoço. Pelo aspecto parecia um pequeno príncipe. Mas quando me abeirei dele, ele desapareceu.
Finalmente encontrei rumo, e cheguei a estas muralhas.
O meu coração está num estado de perturbação enorme. Necessito de contacto com pessoas.
Chego ao fim do túnel com a cabeça cheia de pensamentos.
Depois de me adaptar à luz não vejo ninguém nas ruas. Penso que estarão recolhidas nas suas casas por alguma ocasião.
Começo a subir pela cidade e não vejo sinal de pessoas. Grito, tentando chamar a atenção das pessoas, mas o meu grito parece não fazer efeito.
As portas das casas estão abertas. Outras fechadas. Janelas partidas, casas sem telhados, cadeiras e mesas derrubadas. Ruínas. Tudo o que vejo são ruínas.
Procuro pelos campos, esperando encontrar alguém, mas volto a fracassar.
Entro pela velha igreja que se encontra abandonada. Os santos foram derrubados, os castiçais jazem junto dos santos. Começa a subir por mim um medo terrível e procuro com os olhos o Sacrário: até esse foi vandalizado.
Sinto-me desgostoso. Precisava do contacto com alguém, e a única cidade que encontro, encontra-se abandonada e perdida na história.
Não mais tenho forças para continuar a minha busca. Estou a tornar-me num animal; um ser sem sociabilidade.
Cai-o por terra inconsolável.
Junto a mim está a imagem de um santo. Olho para ele e ponho mãos à obra. Tento colocar tudo nos locais que me parecem próprios. Vem a noite e com ela a escuridão e as estrelas.
Procuro na minha velha mochila, que está agora gasta pelo tempo e pelas areias dos desertos, pelo isqueiro. Acendo as velas que, depois de pouca luz, começam a arder como já antes tinham ardido. A igreja está agora iluminada.
Volto à velha mochila e tiro o meu caderno e a caneta.
Sento-me na porta da velha igreja a olhar as estrelas, a olhar o meu passado, meditando no meu futuro.
Começo a escrever no caderno que se tornou a minha única companhia.
“Hoje entrei naquela que pensava ser a minha salvação, mas a desgraça já tinha passado por ela. De tudo o que aqui vi, só me resta a palavra solidão para o descrever. Tudo caiu na solidão; tudo ficou abandonado pelo tempo. De nada mais me resta fazer aqui. Vou partir.”
Depois de escrever estas palavras, fecho o caderno, coloco-o outra vez na mochila e faço-a de minha almofada.
A lua surge no céu para me velar a noite.
Adormeço, esperando que isto não passe de um pesadelo.



Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

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