Sentei-me num banco de jardim, lendo um pouco de literatura inglesa.
Absorvido pela leitura, fiquei indiferente a tudo o que se passava à minha volta.
Transeuntes passavam, aves poisavam, carros passavam, mas era-me tudo indiferente. Só a leitura me interessava.
No meu pensamento surgiam imagens do que lia, como se estivesse a assistir a um filme. À minha maneira criava as personagens, os espaços onde a acção decorria. Dos movimentos às palavras.
As palavras voavam à minha frente, e as páginas pareciam-me conter poucas palavras. Capítulo após capítulo, devorava e captava toda a essência das palavras daquela fascinante literatura.
De um momento para o outro, via-me no espaço da acção. Por vezes como uma lente, um observador invisível. Outras, no papel do narrador, participando, tomando parte da acção, encarnando em si. Deixava o meu mundo e vivia num mundo ilusório!
Deixei-me refugiar neste mundo onde, para mim, tudo era perfeito.
Alojei o meu pensamento, o meu coração na literatura. Nas palavras encontrei o consolo.
Mas os livros não são eternos, e a última folha acaba sempre por ser virada. E volto ao meu mundo onde tudo o que me era indiferente, passou outra vez a ser marco na minha vida.
De novo procuro um novo livro para ler. Mas algo me fez parar. Uma voz, a consciência, o pensamento.
Vejo e tomo consciência disso. Esta situação não me ajuda. Simplesmente adia o encontro comigo mesmo.
Tenho adiado este encontro, procurando ter o meu pensamento sempre ocupado ou com leituras ou estudo. Deixei de ouvir a voz e tornei-me o contrário de Samuel.
Fechei-me sobre mim mesmo, tornando-me um lobo solitário, que procura a cada dia afastar-se o mais possível do contacto humano. Mesmo no meio deles, procuro o silêncio, o refúgio em mim.
Fechei-me na minha casa, no quarto mais distante e escuro. De lá só saía para comer e resolver assuntos urgentes.
Na escuridão passava maior parte da minha vida, procurando adiar o encontro comigo mesmo.
Mas fui surpreendido quando menos esperava.
Quando um dia me vi obrigado a sair do meu refúgio, do meu forte, e me sentei num banco de jardim a ler, novamente indiferente ao mundo, alguém se sentou a meu lado.
«Não tinha mais bancos onde se sentar!», pensei. Mas não tirei os olhos do livro, continuando atento à minha leitura.
Terminei o capítulo e olhei o mundo. Olhei o que se passava à minha volta. Olhei o meu companheiro de banco e, nesse preciso momento, o meu coração disparou, o livro estatelou-se no chão, e eu fiquei sem reacção. Via-me a mim mesmo, como se me visse a um espelho.
Não sei se era real ou fruto da minha imaginação, mas encontrei-me ali, naquele local, comigo mesmo.
Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa
Foto fantástica... O facto de ser a preto e branco acentua a dramaticidade e acaba por ser o banco que se imagina ao ler a trama!
ResponderEliminarAproveita o encontro contigo para deixares o livro no chão! Fala contigo! Descobre-te a ti mesmo!
Abraço!
Bom trabalho ^^